Folha de S. Paulo


Perto de votação decisiva, presidente divulga reajuste de Bolsa Família e IR

A dez dias de seu possível afastamento da Presidência da República, Dilma Rousseff anunciou um "pacote de bondades" que incluem reajuste do Bolsa Família e correção na tabela do Imposto de Renda. O Senado deve decidir, em votação prevista para o dia 11, se a petista ficará fora do cargo por até 180 dias, até que se julgue a saída definitiva.

Dilma discursou em ato do Dia do Trabalho da CUT (Central Única dos Trabalhadores) realizado neste domingo (1º) em São Paulo, e divulgou reajuste do Bolsa Família com aumento médio de 9%.

Segundo a presidente, a proposta não comprometerá "o cenário fiscal" como dizem os opositores. Apesar da fala, a área econômica de sua gestão foi contrária ao ajuste.

A petista anunciou também uma proposta de correção de 5% na tabela do Imposto de Renda, que deve ser feito por projeto de lei a ser enviado ao Congresso nos próximos dias.

Atos em SP

Técnicos do governo consultados pela reportagem disseram que, se a medida irá alterar a tabela do IR de 2017, acarretando a mudança das faixas de isenção do imposto recolhido dos salários pagos ainda neste ano e, consequentemente, na queda da arrecadação.

Para compensar o efeito que o reajuste terá sobre a arrecadação federal, o Planalto deve propor, em paralelo, o aumento de impostos sobre bens de luxo, como jatos e lanchas, entre outros.

O aumento do Bolsa Família deve ser formalizado nesta semana. Com a correção, o valor do benefício ficará em R$ 176, a partir de junho.

O anúncio se contrapõe ao caminho sinalizado pelo vice-presidente Michel Temer, que pretende fazer um pente-fino em programas sociais. Dilma insistiu na comparação em seu discurso: "Vão acabar com o Bolsa Família para 36 milhões de brasileiros".

O 'PACOTE DE BONDADES' DE DILMA - As propostas da presidente para engajar as bases sociais e tentar conter o impeachment

Ainda sobre Temer, a presidente afirmou que a intenção do vice é de privatizar "tudo o que for possível", referindo-se a trecho de documento elaborado pelo PMDB. "Qual é a primeira vítima dessa lista? O pré-sal", disse a petista no ato da CUT.

A petista também criticou a oposição, que, segundo ela, se mobiliza contra seu mandato perdeu as eleições.

"Como perderam, eles se aliaram a traidores do nosso lado para fazer um golpe por eleição indireta", falou, em referência aos que agora desembarcam do seu governo.

A presidente também responsabilizou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e a oposição por agravar a situação do Brasil.

"Cunha levou à frente uma política de quanto pior, melhor", criticou. "Não aprovavam nenhuma das reformas, não aprovaram nenhum dos necessários aumentos de receita. Apostavam sempre contra o povo brasileiro".

Por isso, a petista elencou Cunha e os opositores como "responsáveis pela economia brasileira estar passando por uma grande crise".

O discurso da presidente incluiu ainda uma menção à negociação frustrada do PT para que Cunha não abrisse o processo de impeachment.

Réu no STF (Supremo Tribunal Federal) por corrupção e lavagem de dinheiro, o peemedebista queria a ajuda dos três deputados petistas da Comissão de Ética da Câmara para barrar o processo contra ele. O impeachment começou a tramitar depois que as negociações fracassaram.

"Ele quer se ver livre do seu processo", disse Dilma, acrescentando que até o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso chamou a ação de Cunha de "ameaça".

SEM LULA

Confirmado para discursar no palco da CUT (Central Única dos Trabalhadores), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelou na última hora a presença.

O petista ligou para Dilma e informou que recebeu recomendação médica para não comparecer. Rouco, ele disse à sua sucessora que estava "muito cansado" e que preferia preservar a voz para eventos nos próximos dias contra o impeachment.

A CUT estimou que 100 mil pessoas estiveram no ato, no vale do Anhangabaú. A Secretaria de Segurança Pública não estimou o público.

Eduardo Anizelli/Folhapress
Vistas aéreas dos da CUT, pró-governo Dilma, e da Força Sindical, contrário à presidente
Vistas aéreas dos da CUT, pró-governo Dilma, e da Força Sindical, contrário à presidente

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