Folha de S. Paulo


Protestos do MTST contra Temer interrompem vias pelo país

Grupos ligados ao MTST (Movimento de Trabalhadores Sem Teto) fizeram vários protestos em diversos pontos da cidade de São Paulo, na manhã desta quinta-feira (28). Houve atos ainda em outros sete Estados –RJ, MG, PR, RS, GO, CE e PE–, incluindo nas capitais Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba, além do Distrito Federal.

Além de protestar por assuntos relativos à questão das moradias, manifestantes também se posicionaram contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff e um eventual governo Temer, gritando palavras de ordem contra o vice-presidente e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Em São Paulo, duas pessoas foram detidas pela Polícia Militar, segundo o MTST.

Movimentos de esquerda têm prometido "parar o país", caso se confirme a hipótese do afastamento da presidente Dilma.

A Frente Povo Sem Medo, composta pelo MTST e outros movimentos sociais, planeja outro dia de paralisações na próxima semana, ainda sem data, com greves convocadas por sindicatos e novos bloqueios de vias.

OS PROTESTOS

Em São Paulo, os protestos foram semelhantes, com manifestantes segurando faixas e ateando fogo em pneus nas vias para impedir o tráfego de veículos. Os atos começaram às 7h e se estenderam até as 9h40 na avenida Giovanni Gronchi, no Morumbi e na rua Castelo do Piauí, em Itaquera.

A CET registrou 156 km de trânsito na cidade às 8h. A média para o horário em São Paulo é de 57 km.

Por volta das 7h, as rodovias Régis Bittencourt e Raposo Tavares, que dão acesso à cidade, estavam bloqueadas.

Ao menos outras cinco vias dentro de São Paulo também foram interditadas pelos manifestantes, entre elas as Marginais Pinheiros, na altura da ponte Santo Dias, no bairro do Socorro, e Tietê, na altura da ponte da Casa Verde, no sentido da rodovia Ayrton Senna.

Outros pontos interditados foram as avenidas Giovanni Gronchi, no Morumbi, e Jacu Pêssego, na zona leste da cidade. As ruas Tomazzo Ferrara e Castelo do Piauí, em Itaquera, também foram palco de manifestações.

Na avenida Jacu Pêssego, a PM chegou a utilizar balas de borracha para dispersar o protesto, houve correria e um manifestante foi detido. Segundo o MTST, o homem preso foi Gideon Pinheiro da Silva, e prisão teria sido motivada porque ele filmava a movimentação. Policiais presentes no local não confirmaram o motivo da detenção.

Os outros protestos transcorreram sem maiores problemas ou confrontos.

'RECADO DADO'

Durante os protestos, a maioria das palavras de ordem eram críticas ao vice-presidente Michel Temer. Na Régis Bittencourt, um dos gritos mais ouvidos era: "Se o povo se unir, o Temer vai cair".

Para Tia Cida, 53, uma das lideranças do MTST presentes ao protesto na Régis, "o recado foi dado a Temer". "O golpe aconteceu. Mas se o Temer acha que vai governar, está muito enganado. Não vamos deixar", afirmou.

Felipe Maciel, 34, professor presente ao ato na Jacu Pêssego, também criticou o vice-presidente: "O Temer promete que não vai cancelar programas sociais, mas vai paralisar, inviabilizar. A gente protesta para o pessoal que quer tomar o poder pisar ligeiro, ficar esperto. Nenhum direito a menos".

Já motoristas presos no trânsito reclamaram dos bloqueios das vias. O gerente comercial Mateus Guimarães, 32, ia de sua casa, no Campo Limpo, para uma entrevista de emprego em Alphaville quando ficou parado no congestionamento formado na rodovia Régis Bittencourt.

"Estou empregado, mas estou buscando novas oportunidades de trabalho. O pessoal não quer saber de trabalhar. Eu tenho filho para criar, conta para pagar, não tenho casa própria e estou buscando novas oportunidades de trabalho. Por que eles não fazem o mesmo? Tem trabalho para todo mundo", disse.

RIO DE JANEIRO

No Rio, cerca de 50 manifestantes queimaram pneus na avenida do Contorno, em Niterói, fechando a via usada para acesso ao Rio. De acordo com a Polícia Militar, o trânsito foi interrompido por cerca de dez minutos.

MINAS GERAIS

Em Belo Horizonte, manifestantes fecharam duas vias da avenida Antonio Carlos, em frente à UFMG, das 8h às 11h. Além de MTST, havia movimentos em defesa de ocupações da cidade. Segundo a PM, eram 40 pessoas. Os organizadores contabilizaram 200.

Outro grupo, de 250 pessoas segundo a Polícia Militar, caminhou até a Cidade Administrativa, onde fica a sede do governo mineiro. Não houve conflitos ou detenções.

Eles dizem ser "a favor da democracia, contra o golpe e contra o ajuste fiscal".

PARANÁ

Já no Paraná, manifestantes ligados ao MTST e ao MPM (Movimento Popular por Moradia) fizeram protestos na BR-376, na região do Contorno Sul, em Curitiba.

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, as pistas foram liberadas a partir das 10h30. Um veículo da Polícia Rodoviária Federal acompanha o trânsito no local e bombeiros retiram resíduos da queima de pneus da pista no sentido São José dos Pinhais.

Segundo a organização do ato, o protesto teve início às 8h e participaram cerca de 500 manifestantes. A PRF afirma que o ato contou com 200 pessoas.

RIO GRANDE DO SUL

No Rio Grande do Sul, membros de movimentos sociais interditaram o tráfego de veículos nas avenidas Salgado Filho e Borges de Medeiros, na região central de Porto Alegre. A ação durou cerca de uma hora.

Em Vacaria, cerca de 80 famílias ligadas ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiram uma área da Conab (Companha Nacional de Abastecimento) por volta das 5h desta quinta-feira.

O MST informou que reivindica a área para a reforma agrária e que a ação também ocorre em "defesa da democracia".

GOIÁS

Já em Goiás, integrantes do MTST interditaram a BR-153 em Aparecida de Goiânia no início da manhã de hoje.

A interdição, no km 1.292, foi feita com fogo ateado em pneus, mas a barreira foi invadida por caminhões. Cerca de 15 minutos depois, segundo a polícia, o local foi liberado pelos manifestantes.

CEARÁ

Houve manifestações em vários pontos de Fortaleza, realizadas por trabalhadores da construção civil, professores estaduais em greve, servidores públicos estaduais e integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra).

Os atos foram acompanhados pela Polícia Militar. Não houve registro de ocorrências nem foi feita estimativa de número de participantes.

(FERNANDA ATHAS, GUILHERME BRENDLER, ITALO NOGUEIRA, JOSÉ MARQUES, MARCELO TOLEDO, PAULA REVERBEL, RAFAEL ANDERY, THIAGO AMÂNCIO, WESLEY KLIMPEL)


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