Folha de S. Paulo


Investigadores da Lava Jato criticam favorito para Ministério da Justiça

Zanone Fraissat - 19.set.2013/Folhapress
SAO PAULO/SP-BRASIL,19/09/13 - Antonio Claudio Mariz de oliveira, advogado no Coquetel de abertura da primeira edição do PAULICEIA LITERARIA - Festival Internacional de Literatura realizado na AASP.(Foto: Zanone Fraissat /MONICA BERGAMO)
O advogado Antonio Claudio Mariz de Oliveira, favorito para assumir a pasta da Justiça

Investigadores da Lava Jato criticaram abertamente a possível nomeação do criminalista Antonio Claudio Mariz de Oliveira, preferido de Michel Temer para o Ministério da Justiça, como sinal de "descompromisso" de um eventual governo do PMDB com a luta anticorrupção.

Cotado para assumir a pasta à qual a Polícia Federal está subordinada, Mariz foi um dos 105 advogados que, em janeiro, assinaram manifesto em que se comparou a Lava Jato à Inquisição e à ditadura militar (1964-1985).

"O dr. Mariz é um advogado competente, mas ele tem posições complicadas. Se ele vier a ser nomeado, isso sinalizaria claramente que o eventual novo governo não tem compromisso com a luta anticorrupção", disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos coordenadores da Lava Jato, em Curitiba.

Segundo ele, o risco imediato não seria para as apurações em curso na Lava Jato, mas para projetos como o das dez medidas anticorrupção propostas pelo Ministério Público Federal e entregues ao Congresso com 2 milhões de assinaturas.

O presidente da Associação Nacional de Procuradores da República, José Robalinho Cavalcanti, ecoou o argumento de que a nomeação seria uma vitória dos que pretendem "mutilar" a capacidade do Estado de coletar provas em ações envolvendo crimes de colarinho branco.

"O dr. Mariz tem os requisitos técnicos para ser ministro, mas a questão é que, ao nomeá-lo, o governo estaria endossando as ideias do manifesto contra a Lava Jato e batendo contra milhões de pessoas que se mobilizaram contra a corrupção".

Na Lava Jato, Mariz defendeu o ex-diretor da Camargo Corrêa Eduardo Leite. O executivo contratou um novo criminalista para fechar um acordo com o Ministério Público e Mariz, mesmo sendo manifestamente contrário ao instrumento, ficou na defesa e assinou o acordo.

A amizade com Temer também suscita questionamentos. O temor de investigadores é que aja menos como ministro e mais como advogado de defesa do vice-presidente cujo partido foi, ao lado do PT, o principal destinatário de propina no petrolão.

O presidente da ADPF (Associação dos Delegados da Polícia Federal), Carlos Eduardo Miguel Sobral, vê risco de interferência nas investigações.

"A PF corre o risco de interferência política porque tem fragilidade institucional. Esperamos que o ministro assuma o compromisso de apoiar a autonomia da PF para confirmar que não haverá interferência nem retaliação", disse Sobral.

O presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil), Antônio César Bochenek, diz que o cargo não pode prescindir de imparcialidade: "Ter defendido um empreiteiro não é impeditivo, mas acende um sinal de alerta muito forte porque as empreiteiras estão envolvidas em corrupção. Não estou prejulgando ninguém, mas a sociedade terá de ficar alerta para que não haja interferência".

Entre os advogados, as críticas de investigadores a Mariz são descabidas. "É como se ele estivesse sendo acusado do crime de obstrução antes de assumir o cargo. O Mariz está acima disso", diz Edward de Carvalho, que defende executivos da OAS e da Andrade Gutierrez na Lava Jato.


Endereço da página:

Links no texto: