Folha de S. Paulo


Dilma avalia antecipação de eleições, mesmo vencendo no Senado

Mark Lennihan - 22.abr.16/Associated Press
Dilma Rousseff, President of Brazil, speaks before signing the Paris Agreement on climate change, Friday, April 22, 2016 at U.N. headquarters. (AP Photo/Mark Lennihan) ORG XMIT: XUNML111
Dilma Rousseff durante discurso na ONU em que mencionou crise no Brasil

A presidente Dilma Rousseff reconhece que, caso vença o julgamento final do impeachment no Senado, pode ser obrigada a abraçar proposta de antecipação da eleição presidencial para este ano. A cúpula nacional do PT, contudo, tem pressionado o Palácio do Planalto a apoiar a iniciativa antes, após o eventual afastamento temporário da presidente do cargo.

Em conversas reservadas, a presidente admite que, após ficar até 180 dias afastada e ser substituída por Michel Temer, suas condições de governabilidade se tornariam "as piores possíveis".

Na avaliação de interlocutores do Planalto, ela só teria uma "mínima chance" de voltar ao cargo após o afastamento caso o vice-presidente se revele um fracasso no período de interinidade.

Nas palavras de um assessor presidencial, caso Temer demonstre um "mínimo de competência" para administrar a crise, torna-se completamente inviável o retorno da petista ao cargo.

Para não constranger a presidente, o comando petista decidiu paralisar neste momento, antes da votação de admissibilidade do impeachment, a defesa da proposta. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dito a aliados e assessores que a decisão de pregar a tese antes da primeira votação deve partir de Dilma, não dele.

Placar no Impeachment no Senado

O comando petista prega, porém, que o partido abrace a alternativa logo após Temer assumir, o que pode acontecer a partir da segunda quinzena de maio. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pretende realizar no dia 15 de maio a votação em plenário sobre o afastamento temporário de Dilma.

O objetivo seria reforçar o discurso de que Temer não tem legitimidade para assumir o cargo e que, portanto, seria necessária a realização de uma nova eleição presidencial. Além de manter o vice sob pressão, a defesa da proposta tentaria enfraquecer sua administração interina.

A avaliação do partido é que a iniciativa possa atrair o apoio inclusive de parte do PSDB que não concorda na participação da sigla no governo peemedebista. Para dirigentes petistas, o partido acabou relegado a um papel de coadjuvante do processo político diante do protagonismo do PMDB.

Na última terça-feira (19), senadores do PT, PSB, Rede e PPS apresentaram uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) para que as eleições presidenciais sejam realizadas simultaneamente com as eleições municipais que ocorrerão em outubro deste ano.

A iniciativa teve o apoio de 30 senadores e foi protocolada na Secretaria-Geral. Ela será analisada pelas comissões temáticas e terá que ser aprovada em dois turnos pelo Senado e pela Câmara. Os próprios defensores da tese avaliam que é muito difícil deputados e senadores chegarem a um consenso sobra a proposta.

Como reação à ideia, Temer iniciou ofensiva para esvaziar o apoio à proposta, sobretudo na Câmara, uma vez que ela conta com a simpatia de Renan, adversário do vice-presidente dentro do PMDB.

'MÍNIMA CHANCE'

Em encontros com ministros peemedebistas, a presidente recebeu o diagnóstico de que precisa se preparar para se ausentar do cargo, uma vez que são altas as chances do Senado aprovar seu afastamento temporário.

Ela foi aconselhada a "esquecer" a primeira fase do processo, que já estaria perdida, e se concentrar no julgamento final do processo.

Em resposta, Dilma ressaltou que, apesar do cenário desfavorável, ainda acredita ter chances de reverter a perda do mandato na fase final.

Para auxiliares tanto petistas como peemedebistas, no entanto, a opinião da presidente seria um "otimismo irrealista" da presidente.

EUA

Não é a primeira vez que Dilma fala sobre a antecipação da eleição presidencial. Nos EUA, durante sua viagem para a cerimônia de assinatura do Pacto de Paris, na semana passada, ela falou sobre a hipótese de que seu mandato seja encurtado.

"Não sou contra eleições de maneira alguma. Mas uma coisa é eleição direta com voto secreto das pessoas e o povo brasileiro participando. Agora, tem que ser me dado o direito de me defender. Eu não sou uma pessoa apegada a cargo. Não acuso ninguém que propõe eleição direta de golpista. Isso é outra discussão. Eu quero defender o meu mandato. Devo isso aos meus 54 milhões de eleitores", disse a presidente.

Em entrevista ao "Wall Street Journal", ela comentou que lutaria até o fim.

"Vou lutar até que eleições diretas sejam realizadas, se eu for afastada do cargo -uma situação hipotética que eu não acredito [que ocorrerá]. Eu acredito que é desconfortável afastar uma pessoa inocente. Eu sou vítima de uma conspiração".

Próximos passos do impeachment no Senado


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