Folha de S. Paulo


Políticos de núcleo duro de Temer são estrelas em encontro de empresários

Gustavo Rampini/Divulgação
Senadores Romero Jucá (PMDB) e José Agripino Maia (DEM) em reunião do Fórum Empresarial, organizada por João Doria, em Foz do Iguaçu (PR)
Os senadores Romero Jucá, ao centro, e José Agripino (à frente) no Fórum Empresarial

Apito na mão depois de um longo "priiii" para pedir silêncio, João Doria Jr, candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, dava as boas-vindas a 300 dos maiores nomes do setor produtivo do país e políticos de oposição-quase-virando-governo que se reuniram, no feriado de Tiradentes, para quatro dias de seminários e "networking" em Foz do Iguaçu.

No microfone, Doria parabenizou os deputados presentes pela votação de domingo passado (17), em que a Câmara aprovou o impeachment da presidente Dilma Rousseff –disse, com orgulho, que "todos os que estão aqui votaram pelo impeachment"–, e anunciou a presença de quatro senadores.

"Todos eles também votarão pela saída de Dilma", afirmou. O salão veio abaixo em aplausos.

Os quatro senadores eram Romero Jucá (PMDB-RR), o elo de Michel Temer com o setor empresarial, José Agripino (RN), presidente do DEM, e os tucanos Cássio Cunha Lima (PB) e Antônio Anastasia (MG), o provável relator do processo de deposição de Dilma Rousseff no Senado.

Governistas, outrora presenças seguras no Fórum Empresarial –que já está na 15a edição, a primeira delas fora de Comandatuba, na Bahia–, não deram as caras. Bruno Araújo, deputado tucano que deu o voto decisivo pelo impeachment, era celebridade.

Entre os executivos estavam nomes como Flávio Rocha, presidente da Riachuelo, Edson Bueno, da Amil, Roberto Lima, da Natura, e Pedro Faria, da alimentícia BRF.

Apesar do ar descontraído do encontro, a trinca mais próxima de Temer tirou o feriado para trabalhar. Além de Jucá, o resort recebeu Rodrigo Rocha Loures, assessor do peemedebista na Vice-Presidência, e Gaudêncio Torquato, consultor e estrategista de longa data do presidenciável.

Regra escrita e falada, os convidados andam com crachá de identificação pendurado "à altura do plexo". O de Rocha Loures já o indicava como assessor da Presidência, não mais da Vice.

"Deve ter sido ato falho do João [Doria]", brincou, ao lado de Efraim Filho (DEM-PB), logo depois de ter marcado uma audiência do deputado com Michel Temer, para cuidar da transposição do São Francisco. "Ele vai ganhar o Nordeste assim", explicou o paraibano.

Jucá passou os dois dias em que esteve no encontro recebendo demandas. De deputados que queriam ser ouvidos para a formulação da política econômica do possível governo, já dado como certo, a empresários e consultores que queriam fornecer estudos e avaliações –além de saber que rumo tomaria o início da gestão.

Houve espaço para longa conversa à beira da piscina entre Torquato, Rocha Loures e Paulo Rabello de Castro, economista apontado por interlocutores do vice como possível ministro da Fazenda –que teve encontro de horas com o peemedebista na semana passada.

Nas palestras abertas, o governo Dilma era tratado por políticos e empresários como "nefasto" e "avesso ao lucro".

"O peso do Estado já ultrapassou a capacidade de tração da economia. Por isso a nossa carruagem parou", analisou Flávio Rocha, da Riachuelo, em um dos painéis.

"Concordo com o senador Jucá, o país está se afogando em uma bacia d'água", disse em outro momento Pedro Faria, da BRF.

Entre palestras e eventos de lazer, Doria levou o grupo até o Paraguai, para um jantar com ministros do país –os convivas aproveitaram para fazer compras.

Na volta, com o trânsito carregado na região da fronteira, Torquato fez uma brincadeira relacionando o contrabando à recessão no Brasil.

"O PIB está caindo 3,5%. Olha os 3,5 quilômetros de queda do PIB aqui, são os 3,5% do PIB informal", repetiu algumas vezes, arrancando risos dos empresários.

O jornalista PAULO GAMA viajou a convite da organização do 15º Fórum Empresarial

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