Folha de S. Paulo


Temer troca Brasília por São Paulo para montar sua equipe ministerial

Depois que o impeachment da presidente Dilma Rousseff foi aprovado na Câmara dos Deputados no domingo (17), o palco da articulação política do possível sucessor, o vice-presidente Michel Temer (PMDB), se transferiu de Brasília a São Paulo.

As negociações deixaram o Palácio do Jaburu, onde Temer recebia deputados e se reunia com defensores da deposição da presidente, e migraram para a casa e o escritório do vice na capital paulista, ambos no bairro nobre de Alto de Pinheiros.

Só nesta quarta-feira, o peemedebista fez duas viagens de ida e volta da residência a seu escritório na praça Panamericana. Entre as idas e vindas, recebeu ao menos nove caciques do PMDB.

Embora Temer e seus aliados estejam negociando os nomes que irão compor a eventual equipe ministerial da nova gestão, todos que conversavam com a imprensa na chegada afirmaram que o encontro era "reunião de rotina" ou "visita a um amigo de anos".

Depois que Temer chegou ao escritório, por volta das 9h25 da manhã, o primeiro a visitá-lo foi o ex-ministro e ex-deputado federal Eliseu Padilha. O cacique, um dos principais articuladores do partido, disse estar lá para "reunião de rotina".

Em seguida, chegaram Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Integração Nacional no governo Lula, acompanhado de Moreira Franco, ex-ministro da Secretaria de Aviação Civil na gestão Dilma e presidente da Fundação Ulysses Guimarães.

Time de temer

Os próximos a dar as caras foram o senador Romero Jucá e o promotor Roberto Porto, ex-controlador-geral do município de São Paulo na gestão do prefeito Fernando Haddad (PT).

Ainda antes do almoço, chegaram juntos o ex-deputado José Yunes e o cientista político Gaudêncio Torquato, que atua como um consultor do PMDB. Ao ver a imprensa montando as câmeras, Torquato entrou novamente no carro e se foi.

Na saída da reunião, Jucá admitiu que, caso o vice assuma o lugar de Dilma, ele já terá condições de nomear a sua equipe.

"[A espera de Temer] é uma espera silenciosa na manifestação", disse, em alusão à fala do vice de aguardar silenciosamente a decisão do Senado sobre o impeachment. "Não é uma espera paralisante", acrescentou. "O presidente Temer não estará paralisado, está atuando".

Na entrada, o parlamentar havia negado que a reunião trataria da divisão ministerial. Seria, nas palavras dele, para "trocar ideia".

Temer retornou à sua casa para almoço com Jucá e o ex-ministro Delfim Netto.

Na conversa com o vice sobre as medidas necessárias para o país sair da recessão, Delfim afirmou que "Temer está com a avaliação correta".

Perguntado se recebeu convite para algum ministério, Delfim Netto disse que tem 88 anos. "Você acha que eu sou louco de aceitar convite?", brincou.

Quando indagado se veio dar ideias para um eventual governo, o economista respondeu: "Ele (Temer) não precisa de ideias, ele tem boas ideias".

"Acho que esse processo vai terminar naturalmente, o Brasil vai encontrar o seu caminho, o Brasil vai voltar a crescer", disse à Folha.

Depois, quando Temer voltou ao escritório, ele continuou as reuniões. Entre os presentes estavam o deputado Beto Mansur (PRB-SP) e o publicitário Elsinho Mouco, marqueteiro do PMDB há anos.


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