Folha de S. Paulo


Renan critica Cunha por paralisia da Câmara até impeachment ser votado

Adriano Machado/Reuters
President of the Chamber of Deputies Eduardo Cunha (L) speaks with President of the Brazilian Senate Renan Calheiros during a meeting in Brasilia, Brazil April 18, 2016. REUTERS/Adriano Machado TPX IMAGES OF THE DAY ORG XMIT: BSB02
Eduardo Cunha entrega processo de impeachment pessoalmente a Renan Calheiros

Um dia após dar início aos trâmites do processo de impeachment de Dilma Rousseff no Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), criticou recentes afirmações do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que ameaçou paralisar trabalhos na Casa enquanto o Senado não votar a saída da petista.

"Enquanto a Câmara votava a autorização do impeachment, o Senado deliberava. Votamos a Lei de Responsabilidade das Estatais, o pré-sal, o desaparelhamento dos fundos de pensão."

Em entrevista a jornalistas na noite de terça-feira (19), Cunha afirmou que, enquanto não houver um desfecho para o processo de afastamento de Dilma, os deputados não vão analisar a alteração da meta fiscal para 2016.

"Se o Brasil vai entrar em 'shutdown' por isso, mais uma razão para o Senado apressar", disse o deputado. O ministro Nelson Barbosa (Fazenda) argumenta que isso pode levar a uma paralisia da máquina pública.

"A paralisação da Câmara não ajuda o Brasil, só atrapalha ainda mais a situação que já é muito ruim. É preciso que se diga também que, quanto mais, direta ou indiretamente, o presidente da Câmara dos Deputados tentar interferir no ritmo do andamento do processo no Senado, sinceramente, ele só vai atrapalhar".

Renan rebateu ainda críticas que Cunha estaria fazendo a ele nos bastidores, afirmando a interlocutores que o companheiro de partido trabalharia para alongar a tramitação do processo contra Dilma.

"A autorização na Câmara foi, de todos os impeachments, o que mais demorou. E demorou exatamente pela judicialização. O Senado, ele vai com racionalidade, com responsabilidade, cumprir prazos que estão estabelecidos para um lado e para o outro".

Em visita a senadores na manhã desta quarta no Senado, o ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), José Eduardo Cardozo, aproveitou para comentar a postura de Cunha e disse que "vai contra ao que a sociedade precisa". "Retaliação não é papel de um presidente da Câmara. Mas não é a primeira e nem a última vez que ele fará isso".

Renan reiterou que vai deixar a cargo do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski, a presidência do processo no plenário a partir da aprovação da admissibilidade do caso.

"A fase de coordenação do presidente do Senado praticamente vai se esgotar no momento da admissibilidade da autorização. A partir desse momento, vamos chamar o presidente do STF e transferir a presidência do Senado."

RESPOSTA

Em nota, Cunha afirmou nesta quarta (20) que a possível paralisação da Câmara até uma decisão final do Senado não é uma determinação dele, mas a vontade da maioria dos deputados. Segundo ele, a pauta de votações continua a mesma, mas "o governo não existe mais politicamente para a maioria da Casa".

"Enquanto o Senado não tomar uma decisão, o governo não existe mais politicamente para a maioria da Casa. Os deputados não votarão matérias do governo após autorizar os senadores a processar a presidente por crime de responsabilidade."

Cunha disse ainda que não fez comentários sobre a metodologia adotada pelo Senado. Em entrevista na terça, porém, por diversas vezes ele cobrou celeridade dos senadores sob o argumento de que a Câmara "derrubou" politicamente o governo e de que não votará nada enquanto o Senado não se decidir.


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