Folha de S. Paulo


Delator da Lava Jato vai devolver R$ 32 milhões aos cofres públicos

O empresário Frank Geyer Abubakir, ex-presidente e acionista da petroquímica Unipar, vai devolver R$ 32 milhões aos cofres públicos, como multa compensatória por participação no esquema de corrupção na Petrobras.

O compromisso consta do acordo de delação premiada que Abubakir fechou com o Ministério Público Federal, homologado pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) na semana passada.

A repatriação do montante, de acordo com os termos estabelecidos, precisa ter início em até 30 dias após a validação do acordo.

Com isso, ele é obrigado a depositar o equivalente a US$ 6,5 milhões –R$ 23,6 milhões, pela cotação de sexta-feira (8)– em contas indicadas pelo Ministério Público até a primeira semana de maio. O restante tem que ser quitado no prazo máximo de dois anos.

Os recursos de Abubakir engrossarão o caixa dos valores repatriados pela Lava Jato. Até o fim do março, já havia sido recuperado mais de R$ 500 milhões.

Só por meio de delatores ouvidos pela PGR (Procuradoria-geral da República), que investiga políticos com foro privilegiado, foram reavidos R$ 78 milhões.

O volume mais significativo –R$ 440 milhões– retornou aos cofres públicos em acordos firmados com o Ministério Público Federal na primeira instância, em Curitiba. Isso porque a maioria das colaborações premiadas não contém citação a congressistas, ministros e governadores, que têm foro.

Conforme a Folha revelou em fevereiro, em seus depoimentos, Frank Abubakir disse ter repassado cerca de R$ 20 milhões em suborno ao ex-ministro e atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado da Bahia Mario Negromonte e ao deputado José Janene, morto em 2010.

O empresário os procurou em 2008 para que a dupla o ajudasse a manter a "Unipar no mercado", como ele explicou aos investigadores. O pedido ocorreu depois de a Petrobras comprar a petroquímica Suzano, concorrente do grupo comandado pelo delator naquela ocasião.

Ele contou também ter recebido uma indenização de R$ 150 milhões da Odebrecht em contas na Suíça. O valor, segundo Abubakir, era referente à venda da sua participação acionária na petroquímica Quattor para a Braskem, empresa controlada pelo grupo Odebrecht.

O empresário admitiu que não informou a transação às autoridades brasileiras, mas não detalhou se o negócio fechado com a construtora foi, de fato, ilegal.

OUTRO LADO

A Folha não conseguiu localizar o delator e seus representantes.

Quando procurados, em fevereiro, Mario Negromonte negou o recebimento de propina para intermediar negócios da Quattor. A Odebrecht informou que não tinha conhecimento da delação e que a aquisição da Quattor foi feita "de acordo com a legislação vigente no país. Já a Unipar, na ocasião, preferiu não comentar as acusações.


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