Folha de S. Paulo


PT diz que impeachment envolveu acordão para salvar Cunha

O líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), afirmou nesta segunda-feira (18) após reunião da bancada do partido que a aprovação da autorização do impeachment envolveu um acordão para salvar o mandato do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

De acordo com o petista, Cunha mobilizou sua base de deputados mais próximos –cerca de 100, de vários partidos– para apoiar o impeachment em troca de a oposição e outras legendas colaborarem para o enterro do seu processo de cassação no Conselho de Ética.

"Na votação de ontem [domingo] ele claramente mobilizou sua base de apoio para aprovar o impeachment em troca de ele ser isento de investigação", afirmou Florence, que voltou a falar em vingança: "O próprio Cunha disse que poderia cair um dia, mas que a Dilma iria atrás."

Sob o argumento de que o presidente da Câmara mentiu aos seus pares ao negar a existência de contas no exterior, foi protocolado um pedido de cassação contra ele em outubro do ano passado. O processo corre em ritmo lento, com idas e vindas constantes motivadas por ações protelatórias comandadas por Cunha e aliados.

O peemedebista nega manobras e atribui os atrasos a erros intencionais da cúpula do Conselho, que teria, segundo ele, o objetivo de permanecer o maior tempo sob os holofotes da imprensa.

Recentemente o deputado Fausto Pinato (PP-SP) renunciou à sua vaga no Conselho, dando lugar a Tia Eron (PRB-BA), que já declarou ter grande admiração por Cunha. A mudança deve dar a maioria, no colegiado, ao peemedebista, já que o prosseguimento da investigação foi aprovado por margem mínima, 11 votos a 10.

Aliados de Cunha pretendem aprovar uma punição mais branda ao peemedebista, como uma censura.

GRUPO DE TRABALHO

Na reunião do PT também ficou definido que os deputados do partido irão se encontrar com senadores para tentar barrar o impeachment. Florence e outros deputados do partido voltaram a falar em golpe e a acusar Michel Temer de conspirar. Segundo eles, o vice não terá legitimidade para governar.

A executiva do PDT, aliada ao governo, também se reuniu nesta segunda e decidiu abrir processo de expulsão dos 6 dos 20 deputados da legenda que votaram a favor da destituição de Dilma. A cúpula do partido irá se reunir no dia 30 de maio para analisar as conclusões do processo no Conselho de Ética.

Apesar de o partido ter determinado a rejeição ao impeachment, votaram a favor da autorização para o processo contra Dilma Giovani Cherini (RS), Mario Heringer (MG), Hissa Abrahão (AM), Subtenente Gonzaga (MG), Flávia Morais (GO) e Sergio Vidigal (ES).

FOLGA

Após a extensa sessão de discussão e votação do impeachment, que totalizou 52 horas entre sexta e domingo, Cunha deu uma semana de folga aos deputados federais.

Ele não marcou nenhuma sessão de votações, apenas sessões de discursos, que atraem poucos deputados. Até a tarde desta segunda, por exemplo, apenas 193 dos 513 deputados haviam entrado em algum momento nas dependências da Casa.

A Câmara só deve voltar a ter votações no dia 26.


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