Folha de S. Paulo


Chamado de 'gângster', Cunha sai mais forte para tentar barrar sua cassação

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi chamado de "gângster", "ladrão" e "golpista" por deputados que votaram contra a aceitação do impeachment pela Câmara.

Nos cerca de dez segundos que cada um dos deputados teve, sobraram manifestações políticas contra o governo, mensagens a familiares, a eleitores, e denúncias contra o "golpe".

Réu no petrolão e principal condutor do processo contra Dilma, Cunha não respondeu a ataques, como é seu costume. Em seu voto, o deputado, que é evangélico, se limitou a dizer que espera que Deus tenha misericórdia do país.

"Senhor Eduardo Cunha, o senhor é um gângster! O que dá sustentação a sua cadeira cheira a enxofre", discursou o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), apontando em direção ao peemedebista.
Jean Wyllys (PSOL-RJ) reforçou, chamando Cunha de "ladrão". Ao se afastar, Wyllys se desentendeu com o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e cuspiu em sua direção. O filho de Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), reagiu e tentou cuspir de volta.

Em seus votos pró-impeachment, os Bolsonaros defenderam a ditadura militar. Jair evocou a memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe da repressão na ditadura, morto em outubro de 2015.

"Nunca vi uma hipocrisia como essa", disse mais cedo a deputada Professora Marcivânia (PC do B-AP), que criticou as várias manifestações anticorrupção que não citaram Cunha. "Não aceito o corrupto Eduardo Cunha presidir esse processo de impeachment. Ele é o primeiro que deveria ter sido impedido", disse Ivan Valente (PSOL-SP).

Cunha também havia sido um dos principais alvos dos discursos que precederam a votação. O único a defendê-lo foi Jair Bolsonaro, dizendo que ele entrará para a história com da forma como conduziu os trabalhos.

FORÇAS

Mesmo hostilizado em rede nacional, Cunha saiu mais forte da sessão que aprovou o impeachment, na avaliação de aliados que pretendem usar a votação para enterrar o processo no Conselho de Ética e manter o peemedebista na presidência da Câmara.

O deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) diz que o empenho do colega para derrubar o governo deve ser retribuído por partidos como PSDB e DEM, que já defenderam a sua cassação. "A oposição está satisfeita. Se não fosse o Cunha, não haveria impeachment", disse.

O deputado Paulinho da Força (SD-SP) tentará convencer deputados a perdoar o peemedebista da acusação de quebra de decoro parlamentar. "Ele merece ser anistiado. Vamos começar a discutir isso já na segunda."

Para Osmar Serraglio (PMDB-PR), o presidente da Câmara "sai muito fortalecido" da votação. "O máximo que pode acontecer a ele é ter que sair da presidência e continuar como deputado."

No momento, os aliados só veem um risco: a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal afastá-lo do cargo. O pedido foi apresentado pela Procuradoria-Geral da República em dezembro.
Júlio Delgado (PSB-MG) diz que a pressão sobre o STF vai crescer. "Não podemos deixar que ele sente nem por um minuto na cadeira de presidente [no caso de Temer assumir, Cunha é o segundo da linha sucessória]."

(RUBENS VALENTE, RANIER BRAGON, DÉBORA ÁLVARES, ISABEL FLECK, MARIANA HAUBERT, LEANDRO COLON, GABRIEL MASCARENHAS e BERNARDO MELLO FRANCO)


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