Folha de S. Paulo


De Casagrande a Lobão, veja reações à aprovação do impeachment

Placar do impeachment na Câmara

A Câmara dos Deputados aprovou, neste domingo (17), a abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Agora, a decisão precisa ser referendada pelo Senado.

A Folha pediu a artistas, intelectuais, personalidades e entidades que comentassem o resultado. Nomes como o cartunista Ziraldo e o ator Paulo Betti lamentaram a decisão.

"Não se pode cassar um presidente por incompetência. Não minha opinião, Dilma não cometeu nenhum crime que justifique isso", afirmou Ziraldo à Folha.

Betti seguiu na mesma linha: "Vivemos uma situação surreal em que o Congresso, comandado pelo maior escroque do país, quer retirar o poder legal de uma presidente honesta.

Já o músico Lobão comemorou o resultado, mas com cautela. "Nós ainda não ganhamos o jogo, tem o Senado. Tenho que ser muito criterioso: nós ganhamos uma batalha, só vamos conseguir fincar a bandeirinha da vitória quando o PT estiver de fato fora do poder", afirmou.

O cineasta Bruno Barreto, diretor de "Última Parada 174", manifestou "alívio" com a decisão. "O país vai ser destravado dessa inércia, dessa asfixia, dessa paralisação em que se encontra. Não acho que seja golpe de maneira alguma. A Dilma está numa situação incontornável, ela é um desastre no governo".

Veja, abaixo, a repercussão.

*

"Ficou claro que mais de 50% dos nossos deputados não têm a menor condição de falar. Que vergonha! Foi me dando agonia. Eu pensava: "não é possível que eles estejam falando isso". É bom que a gente começa a entender em quem votou, que tipo de gente está lá. Tinha que ser minimamente importante saber falar. O que aconteceu lá foi um show, falta de concordância verbal, de plural. Muita tinta acaju e pouco português. Fiquei envergonhada de ser representada por essas pessoas."

ADRIANE GALISTEU, 43, apresentadora de "Papo de Cozinha", na GNT

"Neste momento o Brasil tem que caminhar, a recuperação não vai ser fácil. A Argentina teve uma retomada difícil e aqui também terá. O Brasil é um mercado de muito interesse, não apenas pelo tamanho, mas pela diversidade da indústria. Vai haver uma mudança. Certamente, em um governo Temer, os empresários argentinos voltarão a investir aqui.

Uma boa parte deles deixou de apostar no Brasil, por falta de confiança. A Argentina é muito dependente do mercado brasileiro, eles sentem muito a crise daqui. A expectativa é que o "vento Malbec" de confiança que agora sopra na Argentina chegue até aqui."

ALBERTO ALZUETA, 78, presidente da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira

*

Bruno Poletti - 15.set.2014/Folhapress
Alencar Burti
Alencar Burti

"Não é só tirar a Dilma que se resolveu o problema. A mudança que está se iniciando não vai ser fácil. É uma viagem em estrada cheia de lama, cheia de fossas.

O novo presidente, quando assumir, deve mostrar ao país a realidade. Deve mostrar qual o déficit que nós temos e mostrar que é preciso uma mudança estrutural, em que todos vão contribuir, com sacrifício. Não é para enganar mais.

Se houver dinheiro, que maravilha. Mas não pode mais sair distribuindo benefícios com o dinheiro dos outros."

ALENCAR BURTI, 85, presidente da ACSP (Associação Comercial de São Paulo) e da Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo)

*

"Esse dia será marcado como um dia muito triste para a democracia, e os que apoiaram o processo muito possivelmente serão lembrados como os que apoiaram o golpe de 1964."

ANDRÉ AUGUSTO SALVADOR BEZERRA, 44, presidente do Conselho Executivo da Associação Juízes para a Democracia

*

"Houve equívocos, e não poucos, na gestão da presidente Dilma. Mas o que hoje deveria ter sido objeto de consideração não era a qualidade, e, sim, a legalidade do governo. Um impedimento sem nítida fundamentação jurídica é danoso à democracia. A desejável estabilidade da economia não pode se sobrepor à preservação dos princípios do direito. É nas urnas e mediante o voto popular que as mudanças de governo se legitimam."

ANTÔNIO CARLOS SECCHIN, 63, poeta e membro da Academia Brasileira de Letras

*

"Com a votação, as instituições mostram um amadurecimento democrático. A Câmara e o Senado fazem seu papel, e nós, como Judiciário, ficaremos atentos para que não haja interferências e para que a Lava Jato continue a cumprir seu papel".

ANTÔNIO CÉSAR BOCHENEK, 40, presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil)

*

Zanone Fraissat/Folhapress
O poeta Antonio Riserio
O poeta Antonio Riserio

"É uma grande vitória da direita. Para mim, é uma coisa triste. Quando o sujeito diz "Voto em nome da família", eu nem precisava ouvir o voto, sabia que era contra Dilma. Mas o PT também não tem o que chorar. Diferente dos mártires cristãos, Dilma, Lula e o PT não estão pagando por suas virtudes, mas por seus pecados. Tiveram a chance de mudar o modo de fazer política no Brasil, mas preferiram o modo antigo. Agora começa a luta por eleições diretas para presidente. Não sem antes conduzir Eduardo Cunha e Lula ao banco dos réus.

ANTONIO RISÉRIO, 62, escritor

*

Eduardo Knapp - 4.fev.2011/Folhapress
Escritor Antonio Torres
O escritor Antonio Torres

"Seja o que for, a única coisa que me vem à cabeça é um trecho de um poema do poeta português Alexandre O'Neill,: 'O medo vai ter tudo'. E lá pelas tantas ele diz: 'Penso no que o medo vai ter e tenho medo, que é justamente o que o medo quer'. Não lamento nem aplaudo nem nada. O Brasil está perigosamente dividido. Acho que não adiantaram os protestos de um lado e de outro. A coisa foi resolvida no tapetão mesmo".

ANTÔNIO TORRES, 75, escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras

*

"O que acabamos de ver foi um contragolpe democrático. Golpe foi a trama urdida desde 2010 por Lula e Dilma, cujo resultado aí está à vista de todos: o Brasil em escombros. As instituições democráticas reagiram, como delas se esperava".

BOLÍVAR LAMOUNIER, 72, é cientista político e autor do livro "Tribunos, profetas e sacerdotes" (Companhia das Letras)

*

Marisa Cauduro/Folhapress
Bruno Barreto, cineasta
Bruno Barreto, cineasta

"A minha primeira reação é de alívio, porque alguma coisa vai mudar. O país vai ser destravado dessa inércia, dessa asfixia, dessa paralisação em que se encontra. Não acho que seja golpe de maneira alguma. A Dilma está numa situação incontornável, ela é um desastre no governo. O certo teria sido ela pedir a renúncia, em um ato de grandeza."

BRUNO BARRETO, 61, cineasta, diretor de "Flores Raras" e "Última Parada 174", entre outros

*

"Isso é um golpe, um ataque ao povo brasileiro. O mundo inteiro sabe que esse Congresso é o mais medíocre da história da república, e as maiores vitimas do que ocorreu serão os usuários do SUS".

CAIO ROSENTHAL, 66, médico infectologista e membro do Conselho Regional de Medicina de São Paulo

*

Divulgação
Carlos Alberto de Nobrega, humorista
Carlos Alberto de Nobrega, humorista

"Sou suspeito para falar porque eu não gosto do PT, nunca votei no PT, mas eu não vejo outra saída. O certo seria ela renunciar, porque ela é honesta, mas não tem competência nem tranquilidade para presidir. (...)

O Cunha diz que não tem dinheiro lá fora, o banco suíço manda o extrato e não acontece nada, ele vai escapar desse impeachment. Eu estou desacreditado, também não acredito que Michel Temer vá conseguir milagre.

(...) Esses deputados são semianalfabetos, eles estão brincando, 'pelo meu pai, pela minha filha', eu fico revoltado. (...) Eu estou muito triste, mesmo ganhando, eu tenho medo do que vai acontecer, da violência, porque estão agredindo gente errada."

CARLOS ALBERTO DE NÓBREGA, 80, humorista e apresentador de "A Praça É Nossa", do SBT.

*

"Sou favorável ao impeachment, porque chegou a uma situação insustentável. Não posso me ater só à discussão das pedaladas, mas o governo acabou sendo de uma irresponsabilidade muito grande em vários aspectos, gerando um descontrole politico que afeta o ambiente econômico.

Os negócios estão parados em diversos setores, em compasso de espera, e alguns setores foram mais afetados. Os próprios Estados também têm tido dificuldades. Temos visto uma inadimplência maior do que se esperava, um atraso muito grande nos pagamentos ou mesmo paralisação, em Estados como Rio de Janeiro e Bahia, o que gera um efeito cascata de desemprego, de recuperações judiciais, como nunca se viu.

A situação é bem crítica. É importante ter algum tipo de ruptura para uma coalizão, como se fez na época do Itamar, um candidato fora do padrão que conseguiu uma transição que permitiu depois a estabilização econômica. Esperamos um período de trégua. Acho que a crise é profunda, mas se tivermos estabilidade política, um governo que possa aprovar reformas necessárias, controlar o gasto público e gerar um espírito de confiança no empresariado, você começa a retomar a máquina".

CARLOS EDUARDO GOUVÊA, 47, diretor da Abiad (Associação Brasileira de Indústria de Alimentos Dietéticos)

*

Renato Costa/Folhapress
O presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, Carlos Eduardo Sobral
O presidente da ANDPF, Carlos Eduardo Sobral

"Havendo um novo governo, que ele aumente os investimentos e reverta o processo de desmonte da Polícia Federal, para que consigamos repor os policiais e tenhamos recursos para realizar as operações e mobilizar as polícias. E que o governo apoie a autonomia pela PEC 412, fortalecendo as instituições.

CARLOS EDUARDO SOBRAL, 38, Presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal

*

"Eu não concordo com isso que está acontecendo, eu sou contra o golpe."

CASAGRANDE, 53, ex-jogador e comentarista

*

"Estou envergonhado de ser brasileiro. Esse grito estava há 13 anos preso na garganta das elites e da classe média conservadora, mas não precisava ser liberado assim, através de um golpe de Estado. E um dado por pessoas absolutamente suspeitas de cometer crimes. Me sinto impotente. Não existe mais a legalidade no país, o poder econômico faz o que bem entende. Perdemos todos com isso. Mas é uma chance de o pessoal contra o golpe, que está dividido, se reconstruir. O artista no Brasil trabalha na adversidade. A ditadura foi o período mais fértil da cultura no Brasil. Pode ser que as pessoas se unam contra esse novo golpe, que agora cria um inimigo externo, visível, e que haja uma potencialização da cultura."

CHACAL, 64, poeta e letrista

*

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Claudia Sender, presidente da TAM
Claudia Sender, presidente da TAM

"O Brasil está atravessando uma difícil crise econômica e política e para poder enfrentá-la é necessário que o país e seus dirigentes tomem decisões em defesa da nação e de sua recuperação. Crises são complexas, mas também são uma oportunidade para realizar mudanças estruturais, com reformas muito mais profundas, que tenham foco na população e no seu bem-estar."

CLAUDIA SENDER, presidente da TAM

*

"É importante lembrar que o processo do impeachment seguiu todos os trâmites dentro de um marco constitucional. Foi discutido dentro de uma comissão, seguiu todas as etapas legais e, sobretudo, se materializou diante de um grande clamor popular.

Lamentavelmente, esse desfecho tinha que acontecer. A presidente não soube conduzir o governo e conquistar apoio. Ela não teve capacidade de levar suas propostas adiante. Criou-se uma guerra entre o Executivo e o Legislativo. Ficou inadministrável. Não há nenhuma condição de governabilidade que possa reter a presidente. Além disso, o governo foi desgastado pelo processo da Lava Jato. Estou confiante, acredito que o Temer vai conseguir fazer um governo de coalização."

CLAUDIO LOTTENBERG, 55, presidente do Hospital Israelita Albert Einstein

*

"Sofrer horas assistindo ao comportamento e ao discurso dos envolvidos foi algo entre assustador, didático e melancolicamente esperado. Ainda assim, a impassibilidade da face reptiliana de Eduardo Cunha frente às imprecações tem sua beleza. Quanto ao resultado, como anarquista, para mim tanto faz. Tudo é triste".

DANIEL PELLIZZARI, 42, escritor

*

"A saúde está sofrendo muito, precisamos de financiamento, precisamos progredir. Desejo que o país caminhe rapidamente para uma estabilidade e consigamos trazer os recursos que são necessários. Estou na torcida para que as coisas se resolvam e o cidadão brasileiro consiga ter a saúde que merece".

DAVID UIP, 63, infectologista, secretário da Saúde do Estado de São Paulo

*

"Não concordo com a bandeira dos artistas serem contra o impeachment. O país está paralisado e quebrado pelo PT. A Dilma não tem condições de governar. Acredito que a transição de poder pode fazer a engrenagem andar novamente. A politica no Brasil é vergonhosa, não existe uma política nacional, existem interessem partidários".

EDUARDO SRUR, 41, artista plástico

*

"Nos últimos três anos, tivemos queda no consumo por conta da queda de confiança. Isso causou os danos econômicos que estão aí. Sem dúvidas o impeachment vai resultar numa retomada do otimismo e da confiança.

Naturalmente que não é só isso que recupera a economia do país, mas o otimismo faz retomar os investimentos, o crédito, o consumo e os empregos. Está claro que temos uma janela de 12 meses pela frente para que sejam feitas as reformas necessárias, principalmente a trabalhista, a previdenciária e a fiscal. Depois desses 12 meses veremos se foi apenas um sopro de otimismo ou uma definitiva retomada do crescimento."

EDUARDO TERRA, 41, presidente da SBVC (Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo)

*

"Sou a favor do Brasil. E tudo o que faz mal ao Brasil eu execro. Esse governo nitidamente faz mal ao Brasil. Por isso, sou a favor do impeachment. Mas não sei se o próximo será bom, não conheço muito a história do Temer. Tomara que não seja ruim. O Brasil não merece isso, não, criança."

ELKE MARAVILHA, 71, modelo, atriz e apresentadora

*

"A situação está tão ruim que qualquer mudança é bem-vinda. Mas a aprovação do impeachment pelos deputados não significa que tudo estará resolvido na segunda e, como num passe de mágica, o Brasil voltará a crescer. Vai demorar um longo tempo até que se consiga colocar as coisas em ordem. Será preciso mais que a troca de governo. Será necessário fazer as reformas políticas e trabalhistas sobre as quais ouvimos há décadas, mas nada vemos de efetivo."

ÉRICO FERREIRA, 68, presidente da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento)

*

"Um governo comandado por Michel Temer tem mais condições de propôr mudanças. Seria muito difícil acreditar que a presidente propusesse mudanças amanhã, depois de já ter ganho uma segunda eleição sem conseguir fazer isso, e agora fragilizada por este processo de impeachment.

Esperamos que ele tenha condições de adotar medidas como a diminuição do número de ministérios, a retomada do tripé macroeconômico, e a recuperação da confiança dos investidores, dando garantias de que as regras do jogo serão menas modificadas.

O desafio principal é mostrar que tem apoio para fazer isso. Nosso desejo é que ele aproveite a breve lua de mel que ele terá com os políticos e o empresariado. Ele vai ganhar uma confiança quase de graça nos próximos dias. Vai precisar mostrar que ele é merecedor dessa confiança."

FÁBIO PINA, 46, economista da FecomércioSP

*

"Precisamos resolver rapidamente a crise política. Um governo novo poderá criar um plano econômico eficaz para a retomada da economia. O Temer (Michel) sempre teve habilidade no trato, sabe conversar. Acredito que ele já sai com uma boa vantagem no Congresso, principalmente, agora que tem o apoio do PSDB. Eles (PMDB e PSDB) têm um pensamento em comum. Estão na mesma direção. Acredito que o novo governo terá capacidade de elaborar um plano para colocar a economia nos eixos."

FERNANDO FIGUEIREDO, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim)

*

"Vou me dedicar em tempo integral a infernizar a vida dos golpistas. Dos que armaram, dos que votaram e dos que se beneficiaram do golpe. Não vou dar sossego a eles e só vou sossegar quando derrubá-los."

FERNANDO MORAIS, 69, jornalista e escritor, autor de "Olga" e "Chatô - O Rei do Brasil"

*

"Minha avaliação é bastante positiva. A Câmara ouviu o clamor das ruas e acendeu uma luz no final do túnel, sinalizando que o país está retomando o seu trilho. Mas é uma primeira etapa, precisaremos consolidar [o impeachment] no Senado. Serão dias difíceis para o sucessor, mas teremos uma mudança nos humores da economia e na confiança dos brasileiros e dos empresários. O ciclo do setor imobiliário é de longo prazo, o que faz com que ele dependa muito da confiança das pessoas."

FLAVIO AMARY, 45, presidente do Secovi-SP (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo)

*

"É um passo importante, o país vive um momento muito difícil com queda do PIB, indústrias paralisadas, aumento da inflação e do desemprego. Todo esse cenário político, econômico e social exige mudanças. A Dilma não tem mais condições de governabilidade. O impeachment é o primeiro passo, o governo cometeu graves equívocos, mentiu para se eleger. A Câmara está ouvindo a voz das ruas" -

FLORISVAL MEINÃO, 70, presidente da Associação Paulista de Medicina

*

"Eu acho que o processo foi feito de uma forma adequada e ele terá o dom de iniciar um novo momento no nosso país. O combustível principal para que uma sociedade possa se desenvolver é a credibilidade.

Infelizmente, o governo atual perdeu a credibilidade e a confiança. Nesse momento há a necessidade de se dar um basta e começar novamente. Existe uma tarefa muito grande para o país e essa tarefa não pode ser feita pelo atual governo, porque ele não reúne os predicados nem políticos nem técnicos para isso. Ou mudávamos ou passaríamos dois anos parados."

FRANCISCO BALESTRIN, 59, presidente da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados)

*

"Essa votação renova a esperança de mudança. O governo de Dilma Rousseff fez uma gestão muito ruim, teve o problema da corrupção e acabou entrando em uma crise econômica que aumentou as taxas de desemprego. Minha esperança é que o novo governo faça as mudanças necessárias para que a economia possa reagir, os empregos voltem a ser gerados, acabe a retração do PIB e permita que a justiça continue a ser feita."

GIOVANNI GUIDO CERRI, 62, diretor científico da Associação Médica Brasileira

*

"É uma situação delicada para o país, mas que não é definitiva. É preciso manter o movimento e alguma perspectiva de futuro. É o momento de pensar novos modelos de negócio a partir de um novo modelo de pensamento, um momento que nos obriga a ter novas ideias, a priorizar a criatividade e a inovação. Não acredito que isso esteja vinculado à questão política, que já nos atrapalhou o suficiente. Como setor, vamos ter de lidar com o que vier."

GISELA SCHULZINGER, 52, presidente da Abre (Associação Brasileira de Embalagem)

*

"Desde que assumiu, a presidente vem fazendo uma gestão medíocre. O que está fazendo o agronegócio ter resultados positivos é o agronegócio do passado. Agora a gente começa a desenhar e construir o agro do futuro. Tem que fazer a união dos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário e tem que tratar o pequeno, médio e grande agricultor da mesma maneira. Dar a ele a mesma forma de se desenvolver. O pequeno não pode ser tratado com bolsa agricultor."

GUSTAVO JUNQUEIRA, 43, presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira)

*

"Com Dilma ou sem Dilma, não acredito que tenha uma solução, o caos na saúde já está instalado. Só que a presença de Dilma no governo torna essa situação pior, pois a confiança em sua capacidade de resolver os problemas do país não existe.

Mas a resolução dessas questões não virá no curto prazo, ainda mais quando falta dinheiro em Estados como Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Quando as empresas não conseguem ter lucro, elas também não conseguem complementar a remuneração dos profissionais que são mal pagos pelo SUS. Nunca vi nada parecido. Vejo o sistema como um todo entrar em colapso."

HENRIQUE PRATA, 63, diretor-geral do Hospital do Câncer de Barretos

*

"Como escritora portuguesa, criada no fulgor e na originalidade da cultura brasileira, e próxima do Brasil das universidades, do jornalismo de referência, dos editores, de Rubem Fonseca e Caetano Veloso, assistir a esta votação do impeachment de Dilma Rousseff foi um choque.

Antes de mais nada, pelo baixíssimo nível das intervenções e justificações. O Brasil não vai melhorar com a destituição injustificada da presidente: o panorama político está muito degradado".

INÊS PEDROSA, 53, escritora portuguesa

*

"Sou apartidário, mas avalio que o processo de impeachment em curso no Brasil gerará um clima maior de incerteza na universidade pública. O setor passa por uma grande dificuldade orçamentária há dois anos. As universidades têm se expandido e, muitas delas estão em obras, com contratos em aberto para isso. O atual governo petista tem mantido um discurso de garantia do orçamento, mas não sabemos qual será a linha do próximo governo, caso o impeachment aconteça."

IVAN CAMARGO, engenheiro eletricista, 55, reitor da UnB (Universidade de Brasília)

*

"A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) entrou nesse processo [de apoio ao impeachment] depois que um trabalhador da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) pregou invasão de propriedade, baderna no país, e recebeu um abraço da presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. Não se mantém ganhos sociais com violência.

A ministra Katia Abreu hoje é uma pessoa do outro lado dos produtores rurais. Ela resolveu aderir ao governo. O que nós queremos [de um novo governo], primeiro, é que o produtor tenha tranquilidade de produzir. Não podemos continuar com a violência no campo e com a insegurança jurídica. Queremos um plano agrícola de médio prazo, dois a três anos.

A CNA não quer nem apontar nome nenhum [para o ministério da Agricultura], quer ficar na condição de vetar. Se o presidente [Temer] por acaso chamar a CNA a opinar e o nome apresentado reunir condições técnicas, devemos apoiar".

JOÃO MARTINS, 75, presidente da CNA ( Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil)

*

Zanone Fraissat/Folhapress
O diretor Jorge Furtado
O diretor Jorge Furtado

"A declaração de voto de cada deputado até o fim da votação é um documento do Brasil, um retrato da classe politica. Espero que cada um, vendo isso, pense em como foi representado nessa votação pelo seu deputado.

A luta continua. O golpe ainda não se concretizou. Duvido que passe no Senado, lá o nível de argumentação é melhor, tem que ser aprovado por dois terços e é presidido pelo STF. Não vai ter o circo de horrores dessa votação, em que teve gente que votou em nome de torturadores.

E de qualquer maneira um governo Temer-Cunha não vai existir, duvido que brasileiros queiram ser governados por um golpista sem votos e por um ladrão condenado no STF."

JORGE FURTADO, 56, cineasta e roteirista

*

"A situação econômica não vai se alterar do dia para a noite. O mercado ficará todo na expectativa de uma decisão definitiva sobre o processo de impeachment da presidente e de como será a condução da economia a partir daí.

As incorporadoras estão sem confiança e crédito para investir e o consumidor evita tomar decisões, apesar de o mercado de imóveis usados se sair relativamente bem. O setor imobiliário irá responder quando forem tomadas medidas de volta do crédito e flexibilização de financiamentos, por parte dos bancos. Mesmo diante dessa catástrofe política e econômica, os brasileiros dão um sinal de amadurecimento político. Espero que todos tenham confiança no futuro do país."

JOSÉ AUGUSTO VIANA NETO, 65, presidente do Creci-SP (Conselho Regional de Corretores de Imóveis)

*

"Temos esperança de que o projeto do Michel Temer mexa em questões muito importantes da economia, promovendo reformas como a trabalhista e a da previdência. É a maneira de encontrar uma saída para a crise que estamos vivendo e recuperar o segmento de serviços como um todo. O setor de lavanderias teve uma queda brutal de movimento, vários estabelecimentos fecharam e outros estão no limite da sobrevivência."

JOSÉ CARLOS LAROCCA, 70, presidente do Sindilav (Sindicato Intermunicipal de Lavanderias no Estado de São Paulo) e diretor-secretário da FecomercioSP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo)

*

"O caos político e econômico se instaurou pela falta de capacidade de negociação da presidente Dilma. O impeachment dá ao governo uma chance de renascer. O grande limitador do crescimento econômico e da retomada de emprego é a confiança. O impeachment garante ao novo governo um voto de confiança e caberá ao novo presidente aproveitá-lo para proporcionar ganhos econômicos estruturais mais fortes para o país e não cair na armadilha de reativar a economia a qualquer custo, de forma frágil e provisória."

JOSÉ CLAUDIO SECURATO, 37, presidente do Ibef (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças)

*

"Hoje o que aconteceu foi a prova do amadurecimento dos eleitores, que pressionaram os deputados e fizeram com que eles honrassem seus votos. Os eleitores sentiram na pele o que está acontecendo na economia.

Embora quem vá assumir não tenha tanta credibilidade o país precisava mudar. Um novo governo precisa fazer a reforma trabalhista, mudar uma lei que é da década de 50. O governo precisa parar de gastar, acabar com o cabide de emprego, precisa ouvir os setores, aceitar sugestões. E precisa fazer uma reforma política. O processo do impeachment ser comandado por réu acusado de corrupção é uma prova da necessidade da reforma política."

JOSÉ DO EGITO FROTA LOPES FILHO, 53, presidente da Abad (Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores)

*

"Eu lamento profundamente. Estou convencido desde o início de que não há nenhuma base jurídica ou legal para o afastamento da presidente Dilma. Esse é um passo perigoso para a jovem democracia brasileira.

Cria uma sensação de insegurança e um precedente perigoso. Outro problema é a falta de legitimidade do vice, Temer, e de seu sucessor, Eduardo Cunha, que é uma figura nefasta. Por outro lado, nos últimos três meses houve uma mobilização interessante de jovens, mulheres, negros, pessoas da área da cultura e da periferia demonstrando que a sociedade civil brasileira está viva e vai participar desse processo.

Abrimos com isso um novo capítulo da democracia. É um momento perigoso e delicado. Esperamos que a sociedade ajude a impedir qualquer tipo de retrocesso."

JOSÉ GOMES TEMPORÃO, 64, ex-ministro da Saúde e diretor-executivo do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde (Unasul)

*

"Acredito que o governo Temer tenha mais condições de tomar as duras medidas que são necessárias para melhorar a economia e, consequentemente, o setor da construção, cuja situação atual é insuportável. Não adianta aumentar impostos, é preciso cortar despesas, fazer ajustes fiscais e uma reforma previdenciária, iniciativas que não foram tomadas no governo Dilma. O setor da construção só terá condições de produzir e atrair capital estrangeiro com a redução dos juros e da inflação. Não existe a certeza de que isso acontecerá com um novo governo, mas ao menos surge uma nova esperança. Não há golpe nenhum, o impeachment é totalmente legítimo."

JOSÉ ROMEU FERRAZ NETO, 58, presidente do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo)

*

"O país tem todas as condições de voltar a crescer. O fator político foi preponderante para a economia do país paralisar. O fim das incertezas faz com que o empresariado volte a investir.

O país está parado esperando o que vai acontecer em Brasília. O que a gente espera é que o Senado resolva isso logo e o país volte a andar. O setor de máquinas sofreu muito com a queda nos investimentos.

Precisamos de juros baixos, menos impostos e um câmbio que seja menos volátil. O câmbio precisa ser livre, mas estabilizado. Queremos que o governo tenha ministérios fortes e no médio e longo prazo faça as reformas tributárias, política e trabalhista"

JOSÉ VELLOSO, 54, presidente executivo da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos)

*

"A única coisa que eu quero falar é que as primeiras vítimas da histórica falta de investimento educacional são a elite e a classe política. A partir daí você vê o que aconteceu aí, esse desfile interminável de pessoas despreparadas para estarem no lugar em que estão".

KLEBER MENDONÇA FILHO, 47, diretor de cinema

*

"O juiz Moro ressuscitou a crença na justiça no Brasil. O Brasil precisa passar pelo impeachment e mudar a relação da sociedade com o Estado. Torna-se necessário uma nova atitude da sociedade e o resgate da dignidade das instituições públicas (três poderes).

O Brasil já viveu uma experiência semelhante com o mandato interino do presidente Itamar Franco. Lembremos que desta fase, o Brasil encontrou a prosperidade e a estabilidade econômica, assim como resgatou a crença nas instituições públicas".

LARS GRAEL, 52, ex-velejador e ex-secretário nacional do esporte do governo FHC

*

"Estou profundamente consternada. Considero que foi dado um golpe, e além disso fiquei extremamente perplexa com a falta de qualquer consistência nas falas dos parlamentares que votaram a favor do impeachment. Fizeram todos falas voltadas para questões não políticas, enquanto os que votaram contra fizeram posicionamentos de fato políticos. Vejo [o dia de amanhã] com grande consternação e apreensão. Eu cresci durante a ditadura e sei como é grave a desobediência da Constituição e do Estado de Direito."

LAURA DE MELLO E SOUZA, 63, historiadora e professora da Universidade de Paris IV Sorbonne

*

"Depois desse dia fundamental na história da vida política brasileira, a pergunta que fica é se a democracia brasileira aguenta mais essa quebra da rotina eleitoral. Temos uma história feita de golpes e contragolpe: 1822, a maioridade de Pedro II, o 15 de Novembro de 1889, os golpes de 1930 e de 1964; todos arrombaram a Constituição. Dessa vez não se pode dizer que houve golpe, ao menos nesse sentido.

Mas sabemos, igualmente, que a nossa carta tem um modelo de impeachment falho e que permite várias interpretações. Ademais deixa a presidente da república vulnerável. Por isso o impeachment virou retórica política; vontade política de lado a lado. Se há algo certo, é que o país está dividido e que o congresso é expressão dessa discórdia. Democracia não é, porém, projeto de iguais e entre iguais; significa conviver e aprender com a pluralidade.

Apesar de me opor ao impeachment, nos termos e por quem foi realizado, penso que depois desse resultado na Câmara é forçoso conviver com a diferença, que faz parte de uma agenda republicana e cidadã. Que o Brasil saia mais forte desse embate e que reforce suas instituições; as únicas que podem garantir nossa vida cívica saudável".

LILIA SCHWARCZ, 58, historiadora e autora de "As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos."

*

"O dia de hoje coroou uma luta que foi muito séria e daninha. Tivemos que enfrentar uma patrulha inclemente. Eu fui um dos primeiros a pedir o impeachment, em 2014, na época em que se identificaram as pedaladas.

Eu tenho uma responsabilidade, porque passei 11 anos nos palanques do PT, ajudando a eleger parlamentares pelo Brasil afora. Tinha essa dívida para sanar, e venho fazendo desde 2005, quando eu migrei para o outro lado, depois de perceber que estava em uma canoa furada. Era um partido que queria se destacar pela ética, moral e me ludibriou.

Nós ainda não ganhamos o jogo, tem o Senado. Tenho que ser muito criterioso: nós ganhamos uma batalha, só vamos conseguir fincar a bandeirinha da vitória quando o PT estiver de fato fora do poder."

LOBÃO, 58, cantor e compositor

*

"Grande oportunidade para colocarmos a economia na direção correta. Uma equipe econômica de respeito aporta credibilidade e antecipará os resultados de uma política econômica coerente. Saldo comercial crescente e inflação em queda impulsionam a corrente para frente. A pauta das reformas é consensual. A pergunta que não quer calar: um político do PMDB terá o empenho necessário para aprovar medidas impopulares de ajuste fiscal em ano eleitoral?"

LUIS PAULO ROSENBERG, economista e consultor

*

"É importante que as questões políticas não continuem contaminando a economia. É um momento de todos se juntarem pensando em um Brasil melhor, com retomada do desenvolvimento."

LUIZ MOAN, 61, presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores)

*

"No Brasil dos meus sonhos frente a uma crise institucional deste porte a presidente e os líderes dos partidos teriam se reunido em torno de uma agenda de reformas e para o estabelecimento de um calendário de curto prazo com convocação de eleições gerais. Mas este país infelizmente não existe".

LUIZ SCHWARCZ, 59, editor

*

"A agenda para o Brasil crescer é a mesma, independentemente de quem esteja no governo. Tirar um governo que estava falhando e colocar outro por si só não vai solucionar os grandes problemas e dilemas de um ajuste fiscal permanente no Brasil. A grande dúvida é saber se o novo presidente terá capacidade de criar uma coalizão política pró-reformas no longo prazo."

MANSUETO ALMEIDA, economista, especialista em contas públicas

*

"Durante a transmissão da votação, faltou entrar, a cada cinco minutos, uma vinheta anunciando: patrocínio da Fiesp. Ou, até, a narração do golpe, festejando: 'bem, amigos da Rede Globo'.

Cada voto pró-impeachment era um voto contra a minha homossexualidade, a minha cidadania, a minha literatura. Batia, cada voto retrógrado, na minha cara de imigrante, de sertanejo, de escritor, de ativista cultural teimoso.

Nós, artistas, estamos feridos, mas não estamos rendidos. É hora de redobrar as forças. De enfrentar o mal com todos os nossos afetos - juntos. Sempre juntos. Eles não entendem de amor. Não entendem de respeito. Não entendem que este é só o começo da luta. Essa, a luta pela verdade, eles jamais vencerão."

MARCELINO FREIRE, 49, escritor

*

"Mesmo em meio à incerteza de que a presidente cometeu crime de responsabilidade fiscal, a grande batalha terminou hoje [domingo].

Dificilmente, o Senado vai reverter esse resultado porque o governo está sitiado e imerso em uma crise política adversa. Tenho certeza absoluta de que, se o país não estivesse em dificuldade financeira, não estaríamos discutindo o impeachment.

A educação é diretamente afetada por toda essa movimentação política. O setor privado registra perda significativa de alunos, com a derrocada do Fies [Fundo de Financiamento Estudantil]. Os recursos das universidades federais estão cada vez menores e impactam, sobretudo, a pesquisa e o ensino. Vai ser difícil um novo governo estabelecer todas as prioridades do setor se não fizer as reformas tributária, previdenciária e política."

MARCO ANTONIO CARVALHO TEIXEIRA, 50, cientista político e professor do departamento de gestão pública da FGV-SP

*

"O país reclama, exige que se apurem todas as denúncias. Não há ninguém maior que o Brasil. A aceitação pela Câmara da abertura do [processo de] impeachment evidencia que não pode haver denúncia de prática ilícita sem a devida apuração, ninguém escapa do controle da legalidade".

MARCOS DA COSTA, 51, presidente da OAB-SP

*

"A presidente foi eleita por 54 milhões de brasileiros e um Congresso de 513 pode tirá-la do cargo? Por razões como o Brasil não crescer? Nunca vi isso. Não é justo. Quem tira um presidente é o povo, através da eleição. Mas a luta não acabou. Ainda há duas votações no Senado. Acredito que não é para baixar a guarda. Eu não vou baixar a minha."

MARIA IZABEL AZEVEDO NORONHA, 52, presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo)

*

"Estou muito triste e envergonhada da classe politica que nós temos no Brasil. Em poucos momentos [durante a votação] eu ouvi que a cassação do mandato da presidente Dilma dizia respeito a um crime cometido por ela.

Todos os deputados disseram que o voto era em nome de Deus, da família, dos filhos. Foi uma cassação estritamente politica. O Brasil perde a chance de se consolidar como uma democracia sólida e séria, com um governo que sempre lutou pela inclusão social, pela democratização do acesso ao ensino. É lamentável que tenhamos um espetáculo tão triste quanto esse na democracia."

MARIA LÚCIA CAVALLI NEDER, 64, presidente da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior)

*

"O sol que iluminou no domingo boa parte do país não passou de uma pegadinha da história. Foi um dia sombrio para o Brasil. Este impeachment de Michel Temer, Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro é um golpe de Estado.

Na democracia, presidente se elege no voto, e não no tapetão. O próprio deputado Jair Bolsonaro reconheceu a identidade entre o golpe anti-João Goulart e o impeachment contra Dilma. É um ultraje à democracia a homenagem a um torturador e assassino como Carlos Alberto Brilhante Ustra."

MÁRIO MAGALHÃES, 52, jornalista e biógrafo de Carlos Marighella

*

"O impeachment dá um clima de otimismo e esperança, mas os problemas precisam ser resolvidos. Estou com esperança de que esse novo governo vai fazer os ajustes necessários o mais rápido possível."

MEYER NIGRI, presidente da construtora Tecnisa

*

"Não lamento pelo PT, que merecia pagar por sua corrupção e incompetência (eu preferia que fosse nas urnas), e sim pela democracia bananeira do país. O Congresso prova o fracasso dos nossos valores, da nossa escola, da nossa estética no sentido amplo do termo."

MICHEL LAUB, 42, escritor

*

"De início eu julguei que a presidente era apenas uma das vítimas do partido e das suas alianças. Esse sentimento se esvaneceu com o tempo. Com as recentes revelações, conclui que ela é conivente. E isso é muito grave em um país em que prevalece a injustiça social, e onde os exemplos são tão necessários. São os exemplos que conseguem produzir transformações na sociedade, combater a corrupção e forjar uma nação digna. A Dilma não tem mais o poder de gerar bons exemplos, então não tem mais condições de gerir o Brasil."

MIGUEL SROUGI, 69, professor titular de urologia da USP

*

"Foi a maior peça farsesca do Brasil recente. Esse é o pior Congresso da história republicana: com os deputados mais desqualificados, os mais corruptos. Mas a esquerda precisa fazer uma autocrítica.

O espaço privilegiado da esquerda contemporânea é a crítica. Todo o sistema político brasileiro está falho. Não vejo saída para o Brasil a curto prazo enquanto não houver uma manifestação popular por reforma política. Tenho certeza que todos querem a deposição do Cunha. É um traço de união importante dessas duas partes da população que são politicamente opostas, mas que querem uma política mais justa e confiável."

MILTON HATOUM, 63, escritor

*

"O grande ponto é que, pela primeira vez na história recente, uma questão política está travando a economia. No mensalão, o país continuou andando, produzindo, crescendo. O setor farmacêutico depende muito do nível de emprego, víamos as classes C e D passando a consumir medicamentos, sendo incluídas, mas isso parou. A gente quer que a partir de amanhã o país volte a andar. Deixe o país nas mãos do empresariado e ele fará o Brasil voltar a crescer."

NELSON MUSSOLINI, 58, presidente do Sindusfarma (Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo)

*

"Estou de luto. Diria que as palavras estão de luto. É um show de lugares-comuns o que estou assistindo desde que a votação começou. A linguagem morreu. E com a nossa linguagem o pensamento morre junto. Vejo a mediocridade, a banalidade, o vazio. [Os deputados] só pensam em si, na família, em Deus. Quem diz não ao impeachment fala em nome do povo, da democracia. Está evidente a diferença. O discurso do impeachment é pessoal. O discurso contra ele é público. O lugar-comum é a condenação da língua. É onde fica o conservadorismo".

NOEMI JAFFE, 54, professora, escritora e crítica literária

*

"Eu acho que o Brasil talvez leve décadas para se recuperar dessa estupidez. Acho que alguma coisa na sacralidade institucional foi profundamente ferida. A minha sensação é de estupor, de espanto. Me bateu uma tristeza funda, porque eu agora eu não sei se eu vou viver para ver a as instituições se solidificarem de novo. A partir de agora, parece que a ilusão que a gente teve de democratização foi embora".

NUNO RAMOS, 56, artista plástico

*

"É um golpe. O que está em curso é um processo de destituição da Dilma sem base material. Quando eu analiso o discurso contrário, vejo que o que está em jogo é um julgamento político.

Enquanto esse processo for discutido, todos os desafios centrais da educação ficarão à margem. Não se faz política educacional nessas condições. E mais: as forças contrárias à Dilma se apresentaram com tendência fortemente privatista e poderão colocar em risco todas as conquistas educacionais já consolidadas, ainda mais, na educação básica."

OCIMAR MUNHOZ ALAVARSE, 56, pedagogo, é professor da faculdade de educação da USP

*

"Sensacional. Eu nunca votei no PT, meu voto seria sim."

OSCAR SCHMIDT, ex-jogador de basquete

*

"Lá na Câmara disseram muita besteira para justificar muita hipocrisia, justificar um ataque à democracia. Esses deputados são decepcionantes, não representam o povo brasileiro. Têm uma resistência visível ao Brasil melhorar. A rua é feliz, para a frente, dos dois lados. Lá é o contrário. Os acontecimentos recentes têm que dar força a todos nós. Essa votação não pode significar a desunião daqueles que querem o melhor para o Brasil e o mundo.

Embora eu torcesse para que não houvesse impeachment, isso pode ser positivo. Nós estamos ainda experimentando a democracia. Tem muita gente conectada, participando, dizendo o que não quer, e isso é muito importante."

PASCOAL DA CONCEIÇÃO, 62, ator

*

Divulgação/TV Globo
O ator Paulo Betti
O ator Paulo Betti

"Vivemos uma situação surreal em que o Congresso, comandado pelo maior escroque do país, quer retirar o poder legal de uma presidente honesta. Mas existe um fator altamente positivo: formou-se uma enorme e eficaz rede pela legalidade, que produziu resultados surpreendentes de informação. A esquerda está fortalecida e o povo mais consciente, independentemente do resultado da votação".

PAULO BETTI, 63, ator e produtor

*

"Uma entidade como a nossa deve sempre ter posição apolítica. Mas temos que reconhecer que o Brasil vive um momento de total paralisação econômica, fruto da situação extremamente ruim que estamos passando.

Uma mudança, nessas condições, sempre é vista com certo otimismo, pois indica uma certa esperança de uma nova conduta e de uma melhoria, mesmo que a médio e a longo prazo.

De imediato, está claro que a economia precisa de atitudes extremamente complexas que não foram tomadas, de ajustes fiscais, na Previdência e na máquina pública. Elas vão nos permitir sorrir a médio e a longo prazo. Por isso, o impeachment acabou sendo a única opção."

PAULO FRACARO, 68, presidente da Abimo (Associação Brasileira das Indústrias Médico, Odontológicos, Hospitalares e de Equipamentos de Laboratório)

*

"Dilma Rousseff e o PT cometeram erros crassos mais do que suficientes para explicar a derrocada do governo, mas é impossível não se horrorizar com um processo de impeachment que põe no comando do país o que há de mais podre na política brasileira.

Espero estar enganado, mas creio que a partir de amanhã a grande imprensa vai estampar editoriais com os lugares-comuns de sempre, conclamando o país à pacificação e à volta à normalidade, uma maneira disfarçada de dizer: vamos acabar com a operação Lava Jato, já que seu único real objetivo - tirar o PT do governo - foi finalmente atingido.

Não pela primeira vez na história, a atuação desastrada da esquerda acabou tendo o efeito de entregar o poder às forças mais retrógradas do espectro político. É uma catástrofe."

PAULO HENRIQUES BRITTO, 64, poeta e tradutor literário

*

"O que se percebe no Congresso é uma sensação que permeia a nossa sociedade, que quer mudanças, mostra o inconformismo nesse momento com o sistema político. Precisamos pensar em como tirar lições dessa crise.

A redução na capacidade financeira do governo se reflete no orçamento para a saúde —e ele já não era adequado. Uma questão muito importante, ficando a presidente Dilma ou assumindo o vice-presidente, é que haja um compromisso de colocar uma pessoa com competência técnica no Ministério da Saúde. A saúde não pode ser moeda de troca política."

PAULO HOFF, 47, diretor-geral do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira)

*

"A aprovação do processo do impeachment na Câmara foi uma vitória dos trabalhadores, e respondeu aos anseios do povo nas ruas. Agora, a batalha vai ser no Senado. Se confirmada, a mudança no comando do governo traz uma perspectiva de melhora nos rumos da economia. O governo atual cometeu muitos equívocos na política econômica, o que trouxe aumento do desemprego e travou o crescimento do país."

PAULO PEREIRA DA SILVA, 60, deputado federal (SD-SP) e presidente da Força Sindical

*

"A gente está a favor do crescimento econômico, de que o consumidor não perca mais o poder aquisitivo além do que que já perdeu. E, para isso, é preciso que haja uma mudança. Da forma como está, estamos estagnados. Um novo governo trará uma oportunidade única para que se tenha uma liderança, que não precisa necessariamente ser um novo presidente, mas que possa realizar este projeto."

PEDRO CELSO GONÇALVES, 57, presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados)

*

"Não concordo com o impeachment. Estamos só trocando de posição. O certo seria convocar novas eleições para escolhermos também novos parlamentares. Não adianta tirar um governo que já não tem credibilidade e colocar alguém que representa a continuidade dele. Estamos é no fundo do poço".

PEPEU GOMES, 64, músico

*

"O governo Dilma foi um fracasso enquanto uma proposta de mudanças profundas no país. A forma de se desfazer do governoé tragicamente a forma de um golpe, um golpe de novo tipo, não é um golpe militar, mas um golpe parlamentar, de um Parlamento que se encontra no pior momento e que tem tradição golpista, e com certo respaldo de setores do Judiciário. Ensaiamos alguma coisa como um estado brando de exceção parlamentar com respaldo judicial. Dilma teria de ser derrotada nas urnas. O que se espera é que, no Senado e, eventualmente, por decisões do Supremo, isso possa ser contestado, embora seja cada vez mais difícil."

RICARDO ANTUNES, 63, professor titular de sociologia da Unicamp

*

"Me impressionou muito o nível de vulgaridade e deselegância da maioria das pessoas do Congresso. Parece um destino latino-americano. Quando o poder econômico vê que não vai conseguir ganhar as eleições, ele promove um golpe de Estado. Essa coisa de 'Tchau, querida' é de um machismo repugnante. A vulgaridade dessas pessoas é um choque muito grande. A pior coisa que a América Latina produziu é o macho latino. Aqueles caras falando em nome da família, aquela masculinidade horrorosa é a pior coisa."

RICARDO LÍSIAS, 40, escritor

*

"Somos plurais e, por isso, a UGT não fechou questão pró ou contra o impeachment. Independentemente do que acontecer daqui para frente, precisamos de uma política econômica que acabe com essa sangria para o trabalhador. Crises econômicas anteriores nunca haviam chegado antes à base da pirâmide, o setor de comércio e serviços, como está ocorrendo agora. É um crime lesa-pátria contra o trabalhador, que está sofrendo com o aumento do desemprego. O setor nunca havia esse sentido esse gosto amargo antes. Temos que ter a retomada do emprego, e o seguro-desemprego tem que ser ampliado."

RICARDO PATAH, 62, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores)

*

"Agora temos a esperança de que tudo isso possa mudar, vai custar caro ainda, temos uma situação complicada pela frente, mas pelo menos uma coisa volta: a esperança de momentos melhores, porque pior é muito difícil que fique.

Assistindo a esse espetáculo dantesco dos nossos políticos é fora do sério imaginar que esse é o nível do Congresso, uma grande parte desse Congresso é uma piada. O brasileiro tem que aprender a votar, mas temos que ter candidatos à altura da grandiosidade do nosso país."

ROBERTO JUSTUS, 60, publicitário, empresário e apresentador de televisão.

*

"O fato é que a mudança de presidente não muda a situação econômica do país. Se o impeachment for aprovado no Senado, vai depender da capacidade do presidente Temer organizar um governo de coalizão para propor reformas. Mas sou movido à esperança, sou produtor rural.

O Brasil precisaria de uma estratégia de longo prazo [para o agronegócio], com logística, seguro rural, política de preços mínimos modernizada, política comercial que abra mercados e recursos para tecnologia. Inclusive com reformas legislativas mais consistentes. Não se resume a curto prazo.

ROBERTO RODRIGUES, ex-ministro da agricultura e coordenador do Centro de Agronegócio da FGV/EESP

*

Claudio Belli/Valor
Roberto Setubal, presidente do Itau Unibanco
Roberto Setubal, presidente do Itau Unibanco

"Espero que o país encontre seu caminho num ambiente democrático e de amplo entendimento, que será essencial para reestabelecer a confiança nos agentes econômicos, base para tirar o país da recessão e retomar o crescimento econômico."

ROBERTO SETUBAL, presidente do Itaú Unibanco

*

"Golpe não vale, mas, por incompetência, feliz ou infelizmente, o PT cometeu erros terríveis. Por isso, eu considero que o processo é justo".

ROBSON CAETANO, 51, ex-atleta

*

"É um processo longo e democrático, que tem um fundo educativo. É importante para esta geração vivenciar isso".

ROSE NEUBAUER, 70, presidente da Câmara de Ensino Superior do Conselho Estadual de Educação de São Paulo e do Instituto Protagonistés

*

"O impeachment ainda não se consumou, mas a confiança deu um grande salto. Teremos enormes dificuldades, mas poderemos superar."

SEBASTIÃO BOMFIM, empresário, fundador da rede Centauro

*

"É importante que tenhamos estabilidade política para retomarmos o crescimento. O país passa por um forte processo de desindustrialização nos últimos anos."

STEFAN KETTER, 56, presidente da Fiat Chrysler América Latina

*

"O que o setor de brinquedos precisa é de muita serenidade. É muito ruim a indústria ficar paralisada. O que importa de fato, com ou sem impeachment, é destravar a economia. Precisamos voltar a produzir, a exportar, a vender o Brasil lá fora. Não tenho posição sobre qual o melhor caminho político para isso, mas temos que resolver logo essa situação."

SYNÉSIO BATISTA DA COSTA, 58, presidente da Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos)

*

"Acho que tivemos uma visualização inédita do Brasil que habita a Câmara. É triste. Acho que o país está ingovernável. Sou por novas eleições".

TADEU JUNGLE, 60, cineasta

*

"É estarrecedor que não haja nenhuma argumentação sobre o mérito do processo. Isso nos leva a crer que as coisas não estão bem fundamentadas, em um Congresso conservador e machista. Além disso, o programa do governo PMDB, que já foi divulgado, é extremamente perigoso para a sociedade".

TATIANA ROQUE, 45, presidente do sindicato dos professores da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

*

"O que houve neste domingo na Câmara foi triste, muito ruim, porque foi um julgamento político da presidenta, sem qualquer fundamentação. Isso não resolve os problemas dos trabalhadores. O que vai acontecer agora é o prolongamento da crise política, que paralisa a economia. É um terceiro turno interminável. Só que os problemas econômicos vão continuar. Não concordo com o golpe [o impeachment], mas a política econômica atual tem que mudar. O Brasil também precisa de uma reforma política urgente."

VAGNER FREITAS, 50, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores)

*

Luiz Novaes/Folhapress
O diretor de teatro Zé Celso Martinez Corrêa
O diretor de teatro Zé Celso Martinez Corrêa

"A peça da política virou uma extraordinária chanchada. O povo anarquista está lotando os teatros, fazendo bruxaria e mandando energia contra esse Congresso, que hoje só falou imbecilidade, boçalidade.

Espera-se ainda que [o impeachment] não passe. Você vê que há um levante da esquerda. Nas ruas o contraste é enorme, no lado verde-amarelo é um clima de Coreia do Norte, no outro é maracatu, samba, rock, funk, sem-terra, sem-teto, uma diversidade maravilhosa.

É um plano capitaneado por aquele sujeito de quem nem gosto de dizer o nome, apoiado por pessoas mecânicas, inexpressivas. Mas o povo não vai deixar barato, vai dar uma reviravolta. O artista se adapta. O povo que não quer [o impeachment] está vibrando, enquanto o rebanho está lá dizendo besteira. É uma farsa ridícula que não vai durar."

ZÉ CELSO MARTINEZ CORRÊA, 79, ator e encenador, presidente e diretor artístico da Associação Teat(r)o Oficina

*

"Não acho que o impeachment seja a solução para os problemas econômicos, não é isso o que nós queríamos para o Brasil. Mas ele significa a oportunidade de retomar uma agenda econômica para o país, o que é muito positivo. Não podemos ficar apenas voltados para uma agenda política. Daqui para a frente o mercado se volta para o que esperar do próximo governo. A capacidade de atrair nomes com credibilidade para a equipe econômica será fundamental, porque eles vão exigir apoio político para implementar uma agenda que não será fácil.

ZEINA LATIF, economista-chefe da XP Investimentos

*

"Acho que a democracia tem que aguentar um presidente até o fim, a não ser que ele seja um criminoso. Por isso acho que isso é um golpe. Se o presidente eleito fracassa, ele tem que cumprir o mandato mesmo assim. Não se pode cassar um presidente por incompetência. Não minha opinião, Dilma não cometeu nenhum crime que justifique isso".

ZIRALDO, 83, cartunista


Endereço da página:

Links no texto: