Folha de S. Paulo


Para salvar seu mandato, Dilma passou a semana recebendo deputados

"Eu não vou jogar a toalha." A frase foi dita pela presidente Dilma Rousseff, no meio da semana derradeira da votação da abertura do processo de seu impeachment na Câmara dos Deputados, ao se reunir com um grupo de assessores já tomados pelo desânimo e alguns até resignados com uma derrota.

Naquele momento, o governo enfrentava seu pior momento. Os governistas PP e PSD haviam decidido apoiar o voto contra a presidente no domingo (17) e o clima era de debandada da base aliada.

Durante a semana, o humor da presidente variou segundo a dança dos números do placar da votação que pode encurtar seu segundo mandato e tirá-la do Palácio do Planalto.

Assessores próximos dizem que, apesar da determinação de "lutar até o último minuto", expressão que repetiu várias vezes, a própria Dilma, em alguns momentos desta semana, chegou a admitir que a batalha estava praticamente perdida.

Em um desses momentos, um interlocutor pegou a petista dizendo que se sentia "injustiçada" porque podia perder o mandato numa sessão comandada por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, que "já deveria estar fora há muito tempo" devido às acusações de corrupção contra ele.

Ela classificou a situação de "perversa". Nas palavras de um amigo, a presidente não se contentava de ela correr o "risco de ir embora e o deputado ficar" na Câmara.

No gabinete presidencial, Dilma passou a semana debruçada sobre números e, mesmo diante de previsões pessimistas, mantinha uma esperança de conseguir reverter o clima desfavorável.
"Eu estou firme e não esmoreço", repetia. "Vou lutar até o último minuto de domingo", acrescentava.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva costuma dizer que a sucessora reage bem na adversidade. Nos cinco dias que antecederam a votação, a presidente resolveu fazer política e lutar para salvar seu mandato.

"Para me tirar daqui, vão ter que molhar a camiseta", disse. Aos 68 anos, cinco deles à frente da Presidência da República, Dilma sempre se recusou a tratar da micropolítica, menos importante, na sua opinião, do que as tabelas e planilhas sobre infraestrutura e economia.

Aos 45 minutos do segundo tempo, porém, ela partiu para o "varejão" e transformou o gabinete presidencial em uma extensão da Câmara dos Deputados, cena rara, quase improvável, até o início da semana passada.

A mudança teve início na terça-feira (12), após Dilma ser avisada pelo seu assessor especial, Giles Azevedo, de que o PP havia orientado voto da maioria da bancada pelo impeachment.

Diante do revés, decidiu agir de forma incisiva. Reuniu-se pessoalmente com deputados como Dudu da Fonte (PP-PE) e Leonardo Picciani (PMDB-RJ) para pedir ajuda. Queria convencer dissidentes e indecisos e mostrar que era possível reverter o quadro adverso.

O discurso político, de convencimento, ficava por conta da presidente. Parecia uma nova Dilma. Mostrava-se disposta a fazer mudanças na condução de seu governo, principalmente na economia, e dar mais poderes a Lula.

Na sexta-feira (15), passou os dias recebendo parlamentares e governadores.

"Não quero números, quero nomes", repetia, anotando o nome dos parlamentares um a um em uma folha de papel, com esperança de uma virada de última hora.


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