Folha de S. Paulo


'Parece a Bolsa de Valores', diz Lula sobre negociação por votos

Diego Padgurschi /Folhapress
O ex-presidente Lula durante evento com movimentos sociais no acampamento dos anti-impeachment
O ex-presidente Lula durante evento com movimentos sociais no acampamento dos anti-impeachment

Com o sobe e desce no placar do impeachment, que ora mostra votos suficientes na Câmara para afastar a presidente Dilma e ora não, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou à barganha de votos com a Bolsa de Valores.

Em discurso no acampamento de movimentos de esquerda, Lula afirmou que está 24 horas empenhado a conseguir o número suficientes de deputados para barrar o processo.

"É uma guerra de sobe e desce. Parece a bolsa de valores. O cara está com a gente uma hora e em outra não está mais, e você precisa conversar 24 horas por dia para não deixá-los conquistar os 342 votos", diz Lula.

Mesmo com pouca voz, o presidente fez um discurso inflamado, com críticas aos movimentos de direita. "Eu queria dizer que o exemplo que vocês estão dando ao país precisa ser dignificado. Porque é fácil vir fazer um protesto em Brasília e ficar em um hotel, mas é muito difícil ter que ficar 4 ou 5 dias acampado, cozinhando aqui, com condições nem sempre adequadas", afirma.

Desde domingo (10), membros do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) ocupam o estacionamento do ginásio Nilson Nelson, próximo ao estádio Mané Garrincha.

Porém, do outro lado do eixo monumento, manifestantes pró-impeachment também montaram seu acampamento. Cerca de 20 barracas ocupam um espaço do Parque da Cidade.

Lula também criticou o vice-presidente Michel Temer, sucessor de Dilma caso ela seja afastada pelo processo de impeachment.

"Eu perdi três eleições até chegar a presidência. Ouvia a Marisa [Letícia] dizer que eu não tinha que concorrer mais. Ouvia gente do PT dizer que tinha que trocar de candidato. Se o Temer quer ser candidato, não pode ser através de um golpe. Ele que espere chegar 2018. O PMDB é um partido grande e dará condições. Ele se candidata e vamos para as urnas debater", diz.

Por fim, pediu que os manifestantes mantenham a calma e façam um ato pacífico no domingo (17), dia da votação do processo na Câmara.

"Amanhã pode ter gente que queira nos provocar. Vamos dar o exemplo. A gente não pode aceitar provocação. Está cheio de [emissora de] televisão para dizer mais uma vez que os movimentos sociais, as centrais sindicais, os sem terra, são baderneiros. O que nós somos é trabalhadores. Baderneiros são os que querem derrubar a presidente Dilma."

Em discurso, João Pedro Stédile, líder do MST (Movimento dos Sem Terra), defendeu uma paralisação nacional caso o impeachment seja aprovado pelo Congresso Nacional e disse que o vice-presidente Michel Temer é útil para o capital financeiro, segundo ele, o "verdadeiro inimigo do povo".

"No domingo (17), se nós ganharmos, não será o fim do campeonato, porque certamente a burguesia tentará utilizar outros mecanismos, inclusive através da Justiça Eleitoral. Se perdermos, ainda haverá outras batalhas no Congresso Nacional", disse.

Stédile também fez críticas à Rede Globo que, segundo ele, "é a direção politica e ideológica da burguesia". Ele defendeu que seja feita uma "luta incansável" contra a emissora.

"Parem de assistir a Rede Globo e escrevam aos anunciantes Seara, Friboi e a todas as empresas que sustentam a emissora. Escrevam que vamos parar de consumir os produtos anunciados na Globo", disse.

Após a fala do ex-presidente, líderes de movimentos de esquerda se esquivaram quando questionados sobre a comparação feita por Lula, na qual relaciona a barganha política para conquistar votos no processo de impeachment à Bolsa de Valores.

Mas afirmam que o ex-presidente não quis dizer que a corrida para obter os 172 votos, ou abstenções, necessários se transformou em um balcão de negócios.

"Foi apenas uma metáfora para explicar a mudança rápida nos votos. É uma luta difícil [conseguir os votos] porque há um rolo compressor dirigido por Eduardo Cunha e Michel Temer, que trabalha na forma da intimidação", diz Guilherme Boulos, líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).

João Pedro Stédile, líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), também foi questionado, mas não quis comentar a fala do ex-presidente.


Endereço da página:

Links no texto: