Folha de S. Paulo


Solução para crise brasileira é demorada, diz analista americano

Bruno Santos/Folhapress
São Paulo, SP, BRASIL-14-04-2016: Richard Haass, presidente do Council on Foreign Relations, é retratado no Hotel Tivoli Mofarrej, no bairro do Jardins, região Central de São Paulo. (Foto: Bruno Santos/ Folhapress) *** MUNDO *** EXCLUSIVO FOLHA***
Richard Haass, presidente do Council on Foreign Relations

Para Richard Haass, presidente do Council on Foreign Relations, principal centro de pesquisas de política externa dos EUA, o possível impeachment da presidente Dilma não seria visto em seu país como um golpe de Estado, mas sim "como uma demonstração da força das instituições contra uma líder que desrespeitou a lei".

Haass passou dois dias no Brasil, onde se reuniu com a diretoria do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), empresários e acadêmicos.

Leia a seguir trechos da entrevista dele à Folha:

Folha - Qual seria o melhor cenário de resolução da crise política e econômica brasileira?

Richard Haass - O melhor cenário é ter segurança política e um governo que implemente as reformas necessárias para restabelecer o crescimento. Mas vai demorar.

É possível ter segurança política com Dilma no poder?

Sim. Mas não acho que seria muito tranquilizador. Eu acredito que o melhor caminho seria ter um governo sucessor, idealmente esse governo duraria dois anos e meio, tomaria decisões difíceis e então haveria eleições em 2018. Essa parece ser a opção mais estruturada para se avançar. Não sou um especialista em Brasil e cabe aos brasileiros decidir. Mas os mercados gostam de previsibilidade e de governos que sejam não apenas estáveis, mas fortes o suficiente para tomar decisões difíceis.

Nos EUA, um governo Temer seria considerado legítimo ou haveria uma percepção de que o impeachment foi um golpe?

As pessoas estão bem impressionadas com a independência do Judiciário, da mídia, a força da sociedade civil e a separação entre os Poderes no Brasil. Mas ninguém mais nos EUA vê o Brasil como país promissor, dado que vocês tiveram um governo que deixou a corrupção se espalhar e inchou enormemente o setor público. Cinco anos atrás, o Brasil era um dos países que mais entusiasmavam as pessoas. Hoje, olham para a Índia, para a Argentina. Em relação ao impeachment, 99,9% dos americanos não vão entender os detalhes específicos do procedimento e vão considerar que é legítimo, a não ser que haja prova em contrário.

O impeachment não será visto como ruptura institucional?

O impeachment não seria visto como um golpe de Estado; as pessoas encarariam o afastamento como uma demonstração da força das instituições contra uma líder que desrespeitou a lei. Nós já passamos por isso. Todos os líderes têm de prestar contas.


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