Folha de S. Paulo


Domingo de votação do impeachment tem telão e churrasco entre amigos

Adriano Vizoni/Folhapress
SAO PAULO - SP - BRASIL, 13-04-2016, 16h00: CHURRAS DO IMPEACHMENT. Retrato do estudante Gustavo Peres, 19, que vai receber uns cinco amigos na sua casa, no bairro do Brooklin, para assistir a votacao do impeachment com churrasco e cerveja. (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress, PODER) ***EXCLUSIVO FSP***
Gustavo Peres, 19, que vai assistir a votação do impeachment em sua casa, no Brooklin, com churrasco e cerveja.

A TV de 42 polegadas será levada da sala para o jardim, ao lado da churrasqueira. Desde que "começou essa história toda do impeachment", o químico Márcio Lopes e amigos têm falado em "assar uma carninha no dia da votação" que, para ajudar, foi marcada para as 14h de um domingo –amanhã, dia 17.

O carioca Lopes, 56, a mulher e a filha vão receber convidados em casa em Carapicuíba (Grande SP) para acompanhar o pleito que começará a definir o destino da presidente Dilma Rousseff (PT).

Para quem é favorável ao impeachment, uma possível comemoração se junta aos já tradicionais almoços de família, bares com amigos –alguns vão transmitir a votação em TVs ou telões– e churrascos dominicais, num clima de final de Copa do Mundo.

Para oposicionistas, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), marcou a votação num domingo justamente para instigar a pressão popular sobre os deputados.

Lopes, anfitrião do churrasco e defensor de uma intervenção militar, comprou fogos de artifício para o evento. O plano é lançá-los ao céu caso 342 deputados votem a favor do impeachment e mandem para o Senado a decisão de abrir o processo.

"Veio a calhar a votação num domingo", diz Gustavo Peres, 19, que instalará uma churrasqueira portátil na sala de casa, no Brooklin (zona sul de SP), onde ele e cinco amigos vão assistir à votação, "batendo papo e comemorando os votos favoráveis". Peres, estudante de gestão de políticas públicas, diz que Dilma deve sair do cargo porque desrespeitou a lei com as pedaladas fiscais.

Para o publicitário Rafaell Ribeiro, 27, de Ribeirão Preto, o impedimento atende a interesses de um grupo que quer subir ao poder –ele é, portanto, contrário ao processo. Apesar disso, vai assistir à votação num telão na casa de um amigo, cuja família,"muito anti-PT", também promoverá um churrasco. "Não vou ficar discutindo. Vou de coração aberto."

Já Marcos Prado, 26, também publicitário e contrário ao impeachment, pretende assistir à votação em casa, com um amigo. "Ou então dar um rolê e chegar no fim da decisão", diz ele, que critica quem promove churrascos porque "reforça a ideia de que isso tudo é um Carnaval".

NAS RUAS

A votação também será vista por manifestantes nas ruas. Em São Paulo, as pessoas contrárias ao impeachment se reúnem no Anhangabaú e na Sé; os favoráveis, na Paulista. Movimentos prometem instalar telões para acompanhar voto a voto.

Em 1992, a votação do impeachment de Fernando Collor foi vista numa terça-feira por manifestantes no Masp, onde havia um telão, e no Anhangabaú. Lá, um "videowall" (vários aparelhos de TV que formam uma só imagem) transmitia a votação. A diferença é que, naquela época, quase todo mundo era favorável à saída do presidente.

O Empanadas Bar, na Vila Madalena (zona oeste), não repetirá a oferta de 1992 –uma rodada de chope para os clientes se o impeachment fosse aprovado– por temer brigas causadas pela polarização política, segundo o sócio Robson Cavalcanti, 50.


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