Folha de S. Paulo


Dilma diz que deveria ter 'ensaiado' mais e se diz feliz como presidente

"A gente deveria ter duas vidas: uma para ensaiar e outra para viver. Eu tinha que ter ensaiado, mas fui obrigada a viver". Dilma Rousseff preferiu citar Vittorio Gassman, ator e diretor italiano, no lugar de dizer o que não faria de novo em seu mandato como presidente da República.

Depois de mais de duas horas de conversa com jornalistas nesta quarta-feira (13), na mesa de reuniões de seu gabinete no Palácio do Planalto, Dilma se levantou para comer um pão de queijo enquanto citava o ator europeu. Na verdade, foram três.

Ela já está no período de manutenção da dieta Ravenna, que a fez perder 17 kg, e tem se permitido algumas escapadas do rigoroso cardápio.

Pois bem. Dilma não sabia que pão de queijo não tem glúten. Assim que foi informada da novidade por um dos jornalistas, pegou mais um.

"Na minha vida, eu te dou 20 mil, 30 mil coisas que eu não faria de novo. Sou normal", começou antes de engatar a frase do italiano. "Da vida, você leva seus filhos, seus amigos e seus amores. E começo pelos filhos... você sempre acha que poderia ter feito assim, ter feito assado, apesar de eu achar a minha filha ótima", disse em meio a uma risada.

"Isso aqui está uma delícia. Vocês não estão elogiando", falou a presidente aos jornalista enquanto o terceiro e último pão de queijo era abocanhado.

Dilma parecia tranquila. Bem-humorada, afirmou que "de uma certa forma" é feliz como presidente da República.

"É que eu acho que essa é uma pergunta que nenhum de nós consegue responder direito [sobre ser feliz]. O 'de certa forma' é que depende do que eu estou fazendo, porque não existe um estado de felicidade constante. Ninguém é assim". Disse e sorriu.

De batom vermelho, camisa preta com bolinhas brancas –e mangas transparentes– e os tradicionais brincos de pérolas, a petista comentou reportagem publicada pela revista IstoÉ que afirma que ela tem tido comportamentos agressivos e tomado remédios para dormir.

Assumiu que fica nervosa "algumas vezes", mas negou desequilíbrio e medicamentos. "É contra todas as evidências dizer [isso] de alguém que anda de bicicleta no mínimo 50 minutos [por dia], às vezes ando por 1h10, faço musculação..."

Segundo Dilma, esse tipo de comentário é "sem dúvida" machista. "Você já ouviu falar que o discurso de algum homem é desequilibrado?", questionou como resposta.

Minutos depois, porém, a presidente assumia sua dificuldade de falar em público. Dilma é conhecida por se atrapalhar quando resolve discursar de improviso e seus assessores sofrem para elaborar um texto com o qual ela concorde em ler integralmente.

"Eu sei escrever, não sei falar... sou uma 'escrivinhadora'. Só consigo entender quando escrevo", afirmou a presidente.

Apesar disso, Dilma diz que não faz um diário durante seus dias na Presidência da República, como costumava fazer o tucano Fernando Henrique Cardoso.

Prefere escrever sobre outras coisas –não detalhou quais–, e garantiu que não vai se arriscar em produzir um livro quando deixar o cargo. "Acho que para dar conta disso aqui só a literatura, diário não. Não acredite que isso aqui se entende com relatório ou diário. Tem umas coisas que... vou te falar, são intrigantes".

Dilma estava falando da "personalidade" de aliados e frequentadores do poder. Mas preferiu não entregar nenhum nome. "São vários. Vários".


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