Folha de S. Paulo


Lobista da merenda diz ter se encontrado duas vezes com Capez

Moacyr Lopes Junior - 13.fev.2016/Folhapress
O presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capez (PSDB), em entrevista à Folha
O presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capez (PSDB)

Em delação premiada, o lobista Marcel Ferreira Julio, que atuava para a cooperativa Coaf, suspeita de desviar recursos da merenda em São Paulo, relatou que se encontrou duas vezes com o deputado Fernando Capez (PSDB) em 2014. Em um dos encontros, disse ter visto Capez ligar para a Secretaria Estadual da Educação para agilizar um contrato da Coaf e, em seguida, sinalizar que queria dinheiro para sua campanha.

Os encontros, segundo o lobista, foram realizados no escritório político de Capez, e foram intermediados por Luiz Carlos Gutierrez, o Licá, assessor próximo do deputado.

Conforme o relato, Capez, hoje presidente da Assembleia Legislativa, usou seu celular para ligar para Fernando Padula, então chefe de gabinete da Secretaria da Educação –afastado do cargo em meio às apurações. Ligado ao PSDB, hoje ele é oficial administrativo na mesma pasta.

"Não recebi ou atendi ligação telefônica, no fixo ou no móvel, do deputado Capez", afirmou Padula à Folha.

O parlamentar também negou ter feito o telefonema e disse estar aberto a verificações de sua linha telefônica.

Padula já era investigado no caso por ter sido citado em um grampo feito pela polícia em dezembro. Nele, Luiz Roberto dos Santos, o Moita, ex-chefe de gabinete da Casa Civil, explica ao lobista Marcel como aumentar os ganhos no contrato com a Educação.

"Acabei de falar com o Padula e ele entende, assim como eu, que não é aditivo, é reequilíbrio econômico", disse Moita na conversa flagrada.

Em 2014, quando o lobista diz ter se encontrado com Capez, a Coaf havia vencido uma chamada pública (um tipo de licitação) para fornecer suco de laranja para a merenda, mas o governo cancelara o contrato, sem dar explicações.

Foi então que, conforme a delação, Capez ligou para Padula. Meses depois, houve uma nova chamada pública, vencida novamente pela Coaf, no valor de R$ 8,5 milhões.

No encontro, segundo o lobista, Capez sinalizou que queria dinheiro esfregando o indicador e o polegar. A divisão da propina teria ficado assim: R$ 450 mil para a campanha, 2% para Marcel, 2% para César (outro membro da Coaf) e R$ 250 mil para ex-assessores do parlamentar.

Na Assembleia, deputados do PT tentaram instaurar uma CPI, mas não obtiveram as assinaturas necessárias. Como alternativa, apresentaram requerimentos para convocar Padula e Moita para depor na Comissão de Educação.

A comissão, porém, vem tendo as sessões suspensas por falta de quórum. A maioria de seus membros é da base do governo Geraldo Alckmin (PSDB).

OUTRO LADO

Em nota, o deputado Fernando Capez afirmou que foi inserido "cunho político eleitoral" na Operação Alba Branca, enquanto a "apuração legítima e isenta" da Corregedoria Geral da Administração, ligada ao governo do Estado, "demonstrou que não houve fraude nos contratos com a Secretaria Estadual da Educação".

"Quero que tudo possa ser rapidamente esclarecido, pois não tenho nada a temer, e que os culpados sejam punidos", afirmou.

Leia a íntegra da nota:

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"Como já se tornou público e notório, aproveitaram-se do uso indevido de meu nome para inserir cunho político eleitoral na Operação Alba Branca. A apuração legítima e isenta da Corregedoria Geral da Administração demonstrou que não houve fraude nos contratos com a Secretaria Estadual da Educação.

Da mesma forma, e como era de se esperar, claro ficou que não tive qualquer participação ou influência na celebração desses contratos. Não recebi qualquer valor ou bem material para uso na campanha e todas as minhas contas foram aprovadas. Se receberam dinheiro ou bem, foi em proveito próprio sem meu conhecimento. Sempre estive à disposição das autoridades para colaborar com as investigações.

Quero que tudo possa ser rapidamente esclarecido, pois não tenho nada a temer, e que os culpados sejam punidos.

Qualquer outra ação ou acusação não traduz a verdade real dos fatos e, como já citei no início, são trazidas de maneira estranha, leviana e carregada de oportunidade política."


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