Folha de S. Paulo


Ex-senador Gim Argello é preso em nova fase da Lava Jato

Diego Padgurschi/Folhapress
Gim Argello é preso na Operação Lava Jato
O ex-senador Gim Argello (PTB-DF) é preso na Operação Lava Jato

A Polícia Federal deflagrou nesta terça-feira (12) a 28ª fase da Operação Lava Jato, que tem como alvos o ex-senador do Distrito Federal Gim Argello (PTB) e a construtora OAS.

O ex-parlamentar foi preso preventivamente. A PF cumpre ainda dois mandados de prisão temporária –Paulo César Roxo Ramos e Valério Neves Campos, ambos ligados ao ex-parlamentar– e cinco mandados de condução coercitiva (condução compulsória por agentes policiais): Jorge Argello Junior, filho do político, os executivos da OAS Roberto Zardi, Gustavo Nunes da Silva Rocha e Marcos Ramalho (antigo secretário de Léo Pinheiro) e o funcionário da empreiteira Dilson Cerqueira.

28ª fase da Lava Jato - Operação Vitoria de Pirro

Os policiais federais cumprem ainda 14 mandados de busca e apreensão –entre eles, em um escritório da OAS, em São Paulo. Além de São Paulo, as medidas estão sendo cumpridas no Rio de Janeiro, em Taguatinga e em Brasília.

No Rio, agentes da PF cumpriram um mandado de busca e apreensão no escritório da Invepar, concessionária responsável pela gestão do aeroporto internacional de Guarulhos e do metrô da cidade do Rio. A OAS tem uma participação de 24,4% na Invepar.

Vanessa Alves/Folhapress
Polícia Federal em escritório da OAS na avenida Angélica, em São Paulo
Polícia Federal em escritório da OAS na avenida Angélica, em São Paulo

A operação investiga doações feitas por empreiteiras para evitar convocações nas CPIs da Petrobras. Um dos responsáveis por fazer essa mediação foi o lobista Julio Camargo, que prestava serviços para a Toyo Setal. Há cerca de um mês ele confirmou que atuou nessa frente aos procuradores da Lava Jato. Disse que levou a oferta, que recebeu de políticos, ao conselho de diretores da Toyo, que aprovou a transação.

Segundo a PF, um integrante da CPI da Petrobras no Senado e da CPI mista da estatal teria "atuado de forma incisiva no sentido de evitar a convocação de empreiteiros para prestarem depoimento, mediante a cobrança de pagamentos indevidos travestidos de doações eleitorais oficiais em favor dos partidos de sua base de sustentação".

Gim Argello era o vice-presidente da Comissão, que funcionou em 2014. O ex-senador era próximo da presidente Dilma –os dois já foram parceiros de caminhadas.

Em dezembro, ele prestou depoimento à PF em Brasília após ser acusado pelo dono da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, de ter atuado para blindar construtoras na CPI. Delator na Lava Jato, Pessoa disse ter pago R$ 5 milhões a aliados do ex-parlamentar.

Conforme a Folha revelou em agosto, o ex-governador José Roberto Arruda (PR, ex-DEM), o ex-senador Luiz Estevão (PRTB-DF) e o deputado Alberto Fraga (DEM-SE) confirmaram que Gim Argello viabilizou doações feitas pela UTC nas eleições do ano passado.

Na ocasião, Argello confirmou que seus aliados receberam recursos da UTC, mas que as contribuições nada têm a ver com os trabalhos da comissão.

"Como é possível blindar quem quer que seja numa CPI formada por 33 deputados e senadores de diferentes partidos? Isso não existe, não houve qualquer ilegalidade. E eu não recebi nada da UTC, nem um centavo", argumentou na CPI.

PARÓQUIA

A investigação também apontou que o ex-senador Gim Argello (PTB-DF) indicou a conta corrente de uma igreja para receber parte da propina de empreiteiras.

De acordo com o procurador da República Athayde Ribeiro da Costa, a Paróquia de São Pedro de Taguatinga, no Distrito Federal, foi indicada pelo então senador para receber dinheiro da OAS. O procurador afirma que o político era frequentador da igreja à época.

Foram pagos R$ 350 mil em uma conta corrente da paróquia, aponta a investigação. Para o Ministério Público Federal, no entanto, não há nenhum indício de culpa contra os integrantes da igreja.

VITÓRIA DE PIRRO

A nova fase da Lava Jato, Vitória de Pirro, alude à noção clássica de triunfos militares que acabam por exaurir os recursos e derrotar os vencedores.

O objeto da operação é, segundo a PF, referência à suposta compra de proteção por parte de empreiteiras na CPI da Petrobras de 2014, tornada inútil com a Lava Jato.

O título surge na semana em que o governo joga tudo para evitar a abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff pela Câmara, oferecendo cargos e verbas a aliados.

O nome vem de Pirro de Épiro (319/318 a.C.-272 a.C), rei grego que dedicou sua carreira a embates sangrentos com Roma –com o desfecho conhecido.

Segundo a crônica clássica de Plutarco, durante uma de suas campanhas no sul da Itália, Pirro comentou com quem lhe congratulou pelo sucesso em Ásculo (279 a.C): "Outra vitória como esta vai me destruir para sempre".

OUTRO LADO

Em nota, a OAS disse estar prestando os esclarecimentos solicitados e dando "acesso às informações e documentos requeridos pela Polícia Federal" na sede da empresa em São Paulo.

"A empresa reforça que está à inteira disposição das autoridades e vai continuar colaborando no que for necessário para as investigações", acrescentou o texto.

Procurado, o advogado do ex-senador Gim Argello não retornou os contatos da reportagem.

Por meio de nota oficial, o PTB afirmou que os motivos da prisão de Argello não têm relação com o partido. A legenda acrescentou que espera "que ele consiga provar sua inocência".

Ao saírem da Polícia Federal, em São Paulo, Dilson Cerqueira disse que não tinha nada a declarar e Marcos Ramalho falou aos jornalistas: "sou trabalhador como vocês".

(GABRIEL MASCARENHAS, FLÁVIO FERREIRA, BELA MEGALE, RAFAEL ANDERY, RENAN MARRA e WESLEY KLIMPEL)


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