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MST promete 'vingar' mortes de sem-terra com invasões no Paraná

Luiz Carlos da Cruz/Folhapress
Antonio de MIranda, porta-voz do MST na região do conflito
Antonio de MIranda, porta-voz do MST na região do conflito

Após a morte de dois sem-terra em um confronto com policiais militares em Quedas do Iguaçu, no noroeste do Paraná, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) diz que vai "vingar" as mortes promovendo novas invasões em áreas da empresa Araupel, que atua com reflorestamento e exportação de madeiras.

O confronto aconteceu na tarde desta quinta-feira (7) no acampamento Dom Tomás Balduíno e provocou a morte dos sem-terra Vilmar Bordin, 44, e Leomar Bhorback, 25. A PM diz que foi vítima de uma emboscada, mesmo argumento usado pelos sem-terra.

"A vingança nossa é ocupando o latifúndio, destruindo essa empresa [Araupel] que causa tantos danos", afirma Antonio de Miranda, porta-voz do movimento na região.

O líder sem-terra rechaçou as declarações da polícia, de que os policiais reagiram ao serem vítimas de uma emboscada. "É a primeira vez que alguém faz uma emboscada e é morto", disse.

Miranda criticou também as declarações do comandante regional da Polícia Militar, tenente-coronel Washington Lee Abe, que pediu para as "pessoas humildes" deixarem o movimento porque a polícia não irá tolerar retaliações do MST. "É uma visão fascista, anti-social", declara.

Abe Lee, foi enviado ao local pelo governo Beto Richa (PSDB), e declarou na noite de quinta-feira que não irá tolerar "retaliação" dos sem-terra.

A coordenação estadual do MST não permitiu que testemunhas dessem entrevistas no acampamento e informou que vai pedir uma nova autópsia no corpo de Leomar Bhorbak, porque, segundo eles, o laudo aponta apenas um tiro no abdome, mas o rapaz também tinha marca de tiro na cabeça.

No acampamento, o cenário era de revolta. À tarde, o corpo de Leomar foi velado durante cerca de uma hora e levado em seguida para Francisco Beltrão (PR), onde seria enterrado. Integrantes do movimento leram um texto que dizia que a morte dos sem-terra é um estímulo para "lutar por cada palmo de terra da Araupel".

Já o corpo de Vilmar Bordim saiu do IML de Cascavel direto para Três Barras do Paraná, onde vive a família.

À tarde, os peritos chegaram ao acampamento para fazer uma perícia na caminhonete –que tinha marcas de cerca de 30 tiros– acompanhados de policiais civis.

MANIFESTAÇÃO

Neste sábado, às 10 horas, o MST promete realizar uma grande manifestação no centro de Quedas do Iguaçu para cobrar justiça na morte dos dois sem-terra. O movimento promete reunir mais de 10 mil sem-terras de ao menos cinco Estados do Brasil. "Estamos mobilizando pessoas de todos os Estados para cobrar justiça. Não podem ficar em vão as mortes da companheirada", diz Miranda.

Os corpos dos dois sem-terra foram liberados pelo IML (Instituto Médico Legal) de Cascavel, mas ainda não chegaram ao acampamento. Eles serão velados por aproximadamente três horas no local e posteriormente serão levados às suas cidades de origem.


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