O comando da campanha da presidente Dilma Rousseff em 2014 negou, em nota encaminhada à Folha, qualquer irregularidade nas doações feitas à petista em sua campanha da reeleição.
Segundo a delação premiada do ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo, a empresa fez doações legais às campanhas de Dilma e de seus aliados em 2010 e 2014 utilizando propinas oriundas de obras superfaturadas da Petrobras e do sistema elétrico.
Assinada pelo coordenador jurídico da campanha presidencial, Flávio Caetano, a nota diz que "toda a arrecadação da campanha da presidenta de 2014 foi feita de acordo com a legislação eleitoral em vigor". Acrescenta que "jamais a campanha impôs exigências ou fixou valores" para as empresas que doaram recursos para a petista em sua última eleição.
"Aliás, a empresa fez doações legais e voluntárias para a campanha de 2014 em valores inferiores à quantia doada ao candidato adversário", afirma Flavio Caetano.
O texto diz ainda que "em nenhum momento, nos diálogos mantidos com o tesoureiro da campanha sobre doações eleitorais, o representante da Andrade Gutierrez mencionou obras ou contratos da referida empresa com o governo federal".
O coordenador-jurídico encerra a nota afirmando ser "lamentável que o instrumento da delação premiada seja, mais uma vez, utilizado politicamente por meio de vazamentos seletivos", e que "a afirmação em tela é inverídica e serve apenas, na atual conjuntura, para alimentar argumentos daqueles que querem instaurar um golpe contra um mandato legitimamente eleito pelo povo brasileiro".
Tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, o ministro Edinho Silva (Comunicação Social) fez o seguinte questionamento: "A pergunta que não cala é: por que as doações para a candidatura adversária, que foram superiores à nossa, não são questionadas e as nossas são, sendo que todas saíram do mesmo caixa e, ambas, estão declaradas ao TSE?".
A campanha de 2014 de Aécio Neves (PSDB), derrotada no segundo turno, auferiu R$ 200 mil a mais do que a de Dilma (R$ 20,2 milhões, ante R$ 20 milhões da petista). Os delatores não citaram o tucano em seus depoimentos.
A defesa da Andrade não se pronunciou sobre o caso.
O ex-ministro Antonio Palocci negou, em nota, ter participado de qualquer negociação envolvendo a montagem do consórcio de Belo Monte, "ocorrido em período que exercia mandato de deputado federal e não participativa de decisões de governo".
Disse também não ter participado da arrecadação da campanha presidencial de 2010.
Palocci manifestou "estranheza que um suposto pedido de doação para a campanha de 2010 tenha sido feito por uma empresa contratada para participar da obra apenas no ano seguinte, fato este que é público e disponível por simples acesso ao noticiário da época".
O advogado da ex-ministra Erenice Guerra, Mário de Oliveira Filho, disse que não vai se manifestar até ter conhecimento dos termos da delação dos ex-executivos da Andrade.