Folha de S. Paulo


Novo ato onde Moro leciona elogia juiz e defende impeachment

Duas semanas depois de ser criticado em ato na própria universidade onde leciona, a UFPR (Universidade Federal do Paraná), o juiz Sergio Moro, que conduz os processos da Lava Jato em Curitiba, voltou a ser o tema de novo debate no mesmo salão nobre da Faculdade de Direito. Desta vez, outros professores e juristas elogiaram o trabalho do magistrado e apontaram ser legítimos os argumentos para o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Roberson Henrique Pozzobon, procurador federal e integrante da força-tarefa de investigadores da Lava Jato, foi um dos convidados para o debate, ocorrido na noite desta segunda-feira (4). Além do salão lotado com cerca de 300 participantes, outras 500 pessoas, segundo a PM e os organizadores, acompanharam as palestras na escadaria do prédio, como é de costume em manifestações na UFPR, com a ajuda de telões na área externa.

O evento foi divulgado em páginas do Facebook. Com bandeiras do Brasil e bonecos Pixuleko que representa o ex-presidente Lula, o público vestia camisetas verde e amarelo, mas também pretas com o rosto do juiz. A cada menção a Sergio Moro, muitos aplausos e gritos de "Fora Dilma" e "Fora PT". "É uma resposta nossa à palestra passada", disse Eder Borges, do Movimento Brasil Livre, que puxava gritos do público com a ajuda de um megafone.

Pozzobon diz que decidiu aceitar o convite por alunos para o evento, de apoio às instituições envolvidas na Lava Jato. "Todo apoio à fundamental para que a investigação continue e que possamos dar passos seguros rumo ao desfecho desse caso".

Ele soube da palestra anterior ocorrida na UFPR e lembrou que o Ministério Público Federal já havia manifestado apoio a Moro logo após as críticas ao magistrado no episódio em que foi levantado sigilo das interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal, que revelaram uma conversa entre o ex-presidente e Dilma.

"Com toda certeza, o contraponto que se fez presente [na palestra desta segunda], de apoio, de que as investigações foram conduzidas na mais estrita legalidade é algo que é muito importante", disse à reportagem.

Em sua fala, o procurador disse que a sociedade precisa estar atenta para não haver manobras que causem um retrocesso na legislação, o que, afirmou, acabou por acontecer posteriormente com a operação Mãos Limpas, na Itália, que serviu de inspiração para ações na Lava Jato.

Entre os debatedores estavam os professores de direito da UFPR René Ariel Dotti e Estefânia Barboza (UFPR) e também Bruno Salama, da FGV-SP.

Primeiro docente a discursar, Dotti, professor de direito penal na instituição, foi um dos mais contundentes na defesa do trabalho de Moro e nas críticas ao governo federal. "O Brasil está se libertando de um verdadeiro golpe de Estado", disse o professor, se referindo a "golpe de Estado" a tentativa do governo federal, disse, de "tentar corromper parlamentares".

Em sua opinião, a divulgação do grampo telefônico, em que ele definiu Dilma como "dando um salvo-conduto ao ex-presidente Lula", "jamais poderia ser omitido na sociedade", e sua captação que ocorreu de forma acidental não pode ser descartada por um juiz.

Ele encerrou a fala dizendo-se orgulhoso de participar de um evento para defender um "juiz independente, imparcial, corajoso e brasileiro" –às palavras seguiram-se gritos e fortes aplausos.


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