Folha de S. Paulo


'Acabou a República da Cobra', diz autora do pedido de impeachment

Fabio Braga/Folhapress
Os juristas Janaina Paschoal (à frente) e Helio Bicudo (à dir.) em ato na faculdade de Direito da USP
Os juristas Janaina Paschoal (à frente) e Helio Bicudo (à dir.) em ato na faculdade de Direito da USP

Juristas e personalidades do direito realizaram nesta segunda-feira (4) um ato em favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff no largo São Francisco, no centro de São Paulo.

A manifestação foi organizada pelo movimento Juristas pelo Impeachment, formado por alunos e ex-alunos da Faculdade de Direito da USP. Segundo a organização, cerca de 3.000 pessoas participaram do evento em seu pico. A Polícia Militar não divulgou estimativa.

O tom exaltado e as duras críticas ao PT, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à presidente Dilma marcaram a manifestação, que teve referências ao petrolão, às pedaladas fiscais e às negociações por cargos.

Os três responsáveis por protocolar o pedido de abertura do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o procurador aposentado Hélio Bicudo, o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior e a jurista Janaína Paschoal estiveram presentes e discursaram.

Com discurso inflamado, Janaina Paschoal disse que este é o momento de "libertar o país" e fez uma menção indireta ao apelido de "jararaca" com o qual o ex-presidente Lula se referiu.

"Deus não dá asas a cobra. Mas às vezes a cobra cria asas. Quando isso acontece, Deus manda uma legião para cortar as asas da cobra. Queremos libertar o país do cativeiro de almas e mentes", conclamou no palanque.

"Nós queremos libertar o país do cativeiro de almas e mentes. Acabou a República da Cobra. Impeachment já!", esbravejou.

Segundo Hélio Bicudo, 93, um dos mais aplaudidos no evento, nunca houve tanta corrupção na história do país.

"Na minha jornada de quase um século de existência jamais vi tantos desvios e abusos daqueles que se declararam salvadores da pátria", disse. "É preciso dar um basta a todo este descalabro".

Outro signatário do pedido de impeachment em tramitação, Miguel Reale Júnior disse que o governo realizou as pedaladas fiscais apenas para se reeleger, e não para investir em programas sociais. O ex-ministro lembrou também da votação do impeachment na Câmara dos Deputados.

"Uma quadrilha tomou conta do país e depois falaram que fizeram as pedaladas fiscais para o Bolsa Família, mas foi por causa da reeleição e afundaram as contas do Brasil por causa disso", disse. "E agora, para se manterem no poder, eles compram votos".

"Os deputados precisam escolher entre o bolso e a honra", completou.

Já o professor de direito Marco de Lucca disse que chegou a fazer um poema ao ex-presidente Lula, mas afirma que hoje se sente traído.

"Não se trata de ser esquerda ou direita. Cheguei a fazer um poema para o Lula na esperança dele melhorar o país. E hoje fui traído. Não aceito ser chamado de 'coxinha'", disse. "Meu apoio incondicional a Sergio Moro."

Antes do ato começar, manifestantes cantaram o hino nacional. Muitos estavam com a bandeira do Brasil.

O juiz Sergio Moro, responsável pela Lava Jato, foi bastante exaltado pelos manifestantes, que também gritavam "Nossa bandeira jamais será vermelha", "Fora, PT" e "Lula, cachaceiro, devolve o meu dinheiro".

DIVERGÊNCIA

Em março, após a condução coercitiva do ex-presidente Lula, a Faculdade de direito da USP foi palco de atos contra o impeachment da presidente Dilma.

Para estudantes da faculdade que estiveram no largo São Francisco nesta segunda, a manifestação foi uma resposta a essas manifestações.

"Há uma tentativa muito forte de associar a faculdade Direito da USP ao movimento contra o impeachment, por isso o ato pró-impeachment hoje [segunda] é muito importante", disse o estudante de direito Gabriel Ferreira Batista, 20.


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