Folha de S. Paulo


Brasileiros estão entre os mais céticos com política na região, diz estudo

A crise que abala o país e a incapacidade com que são tratados os problemas socioeconômicos fazem com que os brasileiros se demonstrem descrentes com a classe política.

Um estudo do Projeto de Opinião Pública da América Latina (Lapop, em inglês), da Universidade Vanderbilt (EUA), mostrou que o Brasil ocupa a penúltima posição no ranking de respeito pelas instituições políticas entre 26 países da América Latina.

Na pesquisa, feita pessoalmente com cerca de 53,4 mil pessoas, o Brasil atingiu 48,2 pontos em uma escala de 0 a 100 -atrás de países como Argentina, Venezuela e Haiti.

A Nicarágua lidera o ranking (75,1 pontos), seguida por Costa Rica (70,0), El Salvador (69,5) e Uruguai (68,5).

A Operação Lava Jato, que trouxe uma série de denúncias contra empresários e políticos de diversos partidos tem papel fundamental no fomento de escândalos envolvendo tais atores –fazendo peso extra no ceticismo e que deve continuar a afetar o respeito pelas instituições no curto prazo.

De acordo com Guilherme Russo, pesquisador da universidade que analisa os dados do Brasil, é possível afirmar que o resultado é causado por uma soma entre o acumulo de escândalos de corrupção envolvendo políticos de diversos partidos e da percepção de que a classe não tem feito nada para abordar os fatores estruturais dos casos.

Brasileiros desprezam atores políticos

"O acúmulo de escândalos, os problemas sociais que continuam a existir, talvez uma demanda por melhoras cada vez maior da população, e uma crença de que os representantes não nos representam de verdade [podem ser considerados os motivos do resultado]", diz Russo.

Para Russo, o modelo brasileiros faz com que os políticos fiquem muito 'soltos', sem a necessidade de se reportar à população acerca do trabalho.

"Nos EUA, há somente um representante por distrito e isso leva a uma prestação de contas mais clara. No Brasil, ficamos no meio termo. Na sua grande maioria, os representantes respondem somente a pequenos grupos de interesse (cabos eleitorais que garantem a votação em alguma região ou por grupos sociais) e, claro que também aos seus financiadores de campanha", diz.

Segundo Michael Mohalem, consultor político da FGV/Direito, a falta de representatividade também afeta o respeito pelas instituições políticas. "O Congresso nacional, onde os partidos manifestam sua pluralidade, não é bem avaliado. Nos últimos anos, os partidos não são o espaço para a vazão das expectativas da sociedade", diz.

O pesquisador do Lapop vai na mesma direção. "Para você ter uma boa representação [política], você precisa que os eleitores saibam o que querem, que consigam comunicar aos representantes, e que os representantes executem o que lhes foi pedido. Porém, existem 'buracos' nas três etapas", conclui.

Com a alta velocidade no surgimento de escândalos, a tendência é que o nível, que vem despencando desde 2010, mantenha a perspectiva de queda no futuro, de acordo com o estudo.

ESCOLARIDADE E ECONOMIA

O nível médio de respeito pelos atores políticos cai conforme o grau de escolaridade dos entrevistados. Pessoas com maior tempo de estudo apresentaram menos apreço pelos atores.

Enquanto o grau de respeito pelas instituições políticas chega a 59,9 pontos no recorte com pessoas que apresentam nível escolar baixo, ele cai para 46,6 pontos com o segundo grau completo e para 45,6 com nível universitário.

A última alta registrada no índice foi em 2010 -período em que o Brasil viveu a bonança econômica do último ano o governo Lula. O país encerrou o ano com crescimento de 7,6%.

De lá para cá, o nível só registrou quedas. "Há um recorte econômico. O resultado apresenta uma queda a partir do momento em que os fatores econômicos apresentam problemas", diz Mohalem.


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