Folha de S. Paulo


Para Procuradoria, Dirceu participou de esquema em Santo André

No pedido que originou a 27ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Carbono 14, os procuradores da força-tarefa afirmam que há "evidências" da participação dos ex-ministros petistas Gilberto Carvalho e José Dirceu no esquema de corrupção em Santo André (SP).

É a primeira vez que surge uma suspeita direta contra Gilberto Carvalho, que foi chefe de gabinete do ex-presidente Lula e ministro na gestão Dilma, durante as investigações da Lava Jato. Já Dirceu atualmente está preso sob suspeita de ter recebido dinheiro desviado da Petrobras.

"Há um conjunto de evidências que demonstram que havia um esquema de corrupção na prefeitura de Santo André do qual participaram Gilberto Carvalho e José Dirceu, sendo que a única hipótese razoável para o pagamento do Partido dos Trabalhadores ao empresário Ronan Maria Pinto foi a tentativa de que este empresário não depusesse sobre o envolvimento de Carvalho e Dirceu no esquema", diz o documento do Ministério Público Federal.

Esta fase investiga a destinação de um empréstimo de R$ 12 milhões contraído pelo pecuarista José Carlos Bumlai junto ao banco Schahin a pedido do PT. Metade desse dinheiro foi destinado a Ronan –os investigadores suspeitam que fosse para comprar seu silêncio em relação à morte de Celso Daniel e o envolvimento de petistas com a corrupção. O empréstimo da Schahin foi quitado com um contrato obtido na Petrobras, apontam as investigações.

Os procuradores citam quatro evidências do envolvimento de Gilberto Carvalho e Dirceu.

O primeiro é um depoimento do publicitário Marcos Valério, condenado no mensalão, no qual ele cita Dirceu, Carvalho e o próprio Lula como vítimas de uma possível chantagem de Ronan.

O segundo, o recebimento de cerca de R$ 5,7 milhões por Ronan provenientes do banco Schahin, que ocorreu, de acordo com o Ministério Público, por um plano arquitetado por pessoas conectadas diretamente ao PT (Dirceu e o então tesoureiro Delúbio Soares). Depoimentos dos donos da Schahin em colaboração premiada citaram Dirceu, então ministro da Casa Civil, como participante da concessão do empréstimo.

O terceiro, o fato que Gilberto Carvalho responde a ação de improbidade administrativa em São Paulo por desvios da prefeitura de Santo André da época de Celso Daniel. Trecho da ação diz que o dinheiro desviado era "separado e entregue a Gilberto Carvalho, que o transportava, em seu veículo particular, ao escritório de José Dirceu" para financiar o partido.

A quarta evidência seria a condenação de Dirceu no mensalão.

Segundo a Procuradoria, a chantagem de Ronan junto ao PT foi para obter dinheiro destinado à compra do jornal "Diário do Grande ABC" para que parasse de veicular notícias que o envolviam como suspeito na morte de Celso Daniel.

Apesar de citados no pedido do Ministério Público, nem Dirceu nem Carvalho foram alvos das medidas deflagradas nesta sexta-feira (1º). A Procuradoria pediu a prisão preventiva de Ronan e do ex-secretário geral do PT Silvio Pereira, mas o juiz Sérgio Moro deferiu só como prisões temporárias, além da condução coercitiva do ex-tesoureiro Delúbio Soares e do jornalista Breno Altman.

OUTRO LADO

A defesa de Dirceu informou que ele "não tem nada a ver com isso".

A assessoria de Gilberto Carvalho informou que "ele não participou de nenhuma negociação com Ronan Maria Pinto, conforme evidências apontadas" e que ele não teve conhecimento da operação envolvendo a compra do jornal.

Sobre a morte de Celso Daniel, a assessoria de Carvalho disse que o PT, desde o início, "teve o máximo interesse no esclarecimento dos fatos". Acrescentou que a investigação do caso esteve sob comando da Polícia Federal do tucano Fernando Henrique Cardoso e da Polícia Civil do tucano Geraldo Alckmin. "A morte de Celso Daniel representou a perda de um grande companheiro e um excelente quadro político", informou.

27ª fase da Lava Jato: "Carbono 14"


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