Folha de S. Paulo


Em rara aparição, Raduan Nassar discursa a favor de Dilma em Brasília

Há anos recluso, o escritor Raduan Nassar surgiu em público nesta quinta-feira (31) para defender a legalidade do governo da presidente Dilma Rousseff. Em um evento no Palácio do Planalto, ele afirmou que a petista não cometeu crime de responsabilidade e, por isso, disse que não há motivos que embasem o processo de impeachment que tramita contra ela no Congresso Nacional.

Na rara aparição pública, o escritor, tido como um dos principais autores brasileiros vivos, participou do "Encontro com Artistas e Intelectuais em Defesa da Democracia", realizado nesta manhã.

"Não sou filiado a partido político. Falo, pois, com a liberdade que me concedo. A presidenta Dilma Rousseff não cometeu crime de responsabilidade. Repito: não cometeu crime de responsabilidade", disse.

Raduan disse também que aqueles que insistem no afastamento da presidente "atropelam a legalidade subvertendo o Estado Democrático de Direito".

"Os que tentam promover a saída de Dilma arrogam-se hoje, sem pudor, como detentores da ética mas serão execrados amanhã. Não tenho dúvida", disse, sendo fortemente aplaudido pelos demais artistas e intelectuais que também participaram do ato.

Roberto Stuckert/Presidencia/Xinhua
(160331) -- BRASILIA, marzo 31, 2016 (Xinhua) -- Imagen cedida por la Presidencia de Brasil de la presidenta brasileña Dilma Rousseff (d), participando en una reunión con intelectuales y artistas brasileños, en el Palacio de Planalto, en Brasilia, Brasil, el 31 de marzo de 2016. El jueves, intelectuales y artistas brasileños participaron en un encuentro con la presidenta Dilma Rousseff en el que expresaron su respaldo al gobierno de la presidenta, de acuerdo con información de la prensa local. (Xinhua/Roberto Stuckert/Presidencia de Brasil) (ah) (ce)
Beth Carvalho, Raduan Nassar, Letícia Sabatella e Dilma no ato

Mesmo elogiado como um clássico contemporâneo, Raduan Nassar abandonou a literatura nos anos 1980 e mergulhou na reclusão. Àquela altura, havia publicado "Lavoura Arcaica" (1975) e "um Copo de Cólera" (1978), dois clássicos da literatura brasileira. Passou a cuidar de sua fazenda, a Lagoa do Sino, localizada no município de Buri, no interior de São Paulo, voltada ao cultivo de grãos e à pecuária bovina.

Ao abandonar a agropecuária, em 2011, doou a fazenda à Universidade Federal de São Carlos –em 2007, já doara terras a funcionários e ex-funcionários da fazenda.

Depois de publicar seus clássicos, só mais dois textos seus apareceram. O ensaio "A Corrente do Esforço Humano" (1987), publicado na Alemanha e inédito em português, e "Menina a Caminho e Outros Textos" (1997).Esse volume, publicado como comemoração pelos 20 anos da Companhia das Letras, havia o conto "Mãozinhas de Seda" (1996), então inédito.

Raduan vive hoje em sua casa em São Paulo. Às vezes, embora raro, recebe leitores que batem à sua porta pedindo para conversar. Suas aparições públicas são raras –as entrevistas à imprensa, raríssimas. As últimas vezes em que apareceu em público foram na Balada Literária de 2012, na qual era autor homenageado (presencialmente), e em vídeo no YouTube de apoio à reeleição de Dilma Rousseff, em 2014.

LEGALIDADE

O evento com os artistas faz parte de esforço do Palácio de tentar repetir a "Campanha pela Legalidade" da década de 1960, feita em defesa da posse de João Goulart após a renúncia de Janio Quadros. Na semana passada, ato similar foi realizado com advogados e juristas.

Os participantes entregaram à presidente manifestos e moções contrárias ao impeachment e entoaram gritos contrários como "não vai ter golpe" e "golpistas não passarão", além de terem feito criticas às coberturas dos veículos de imprensa.

Entre os presentes, estavam as cantoras Beth Carvalho e Leci Brandão, os atores Osmar Prado, Letícia Sabatella, Antônio Pitanga e Tássia Camargo, a diretora Anna Muylaert e o produtor de cinema Luiz Carlos Barreto.

Para Osmar Prado, não há "causa suficiente" para o impeachment da presidente. "Não há nada que desabone a presidente e pedalada fiscal não é crime de responsabilidade", defendeu.


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