Folha de S. Paulo


Preconceito a nordestinos e pobres ressurge no país, diz ministra

Alan Marques/Folhapress
BRASÍLIA, DF, BRASIL, 18.12.2015. A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, dá entrevista exclusiva para Folha. (FOTO Alan Marques/ Folhapress) PODER *** ESPECIAL *** FIM DE ANO ***
A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello

A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, afirmou nesta quinta-feira que se preocupa com o "aspecto raivoso" que o debate político tem assumido neste momento de acirramento das discussões em torno do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

"O que eu acho que é triste nessa conjuntura, para além da ameaça à democracia, é que junto com isso está ressurgindo das tumbas o preconceito contra o nordestino, contra o pobre", afirmou Campello, em discurso na solenidade que marcou a ampliação do programa de instalação de cisternas no semiárido nordestino.

Ao defender programas sociais do governo, a ministra disse que está assumindo o compromisso de "fazer de tudo para que a gente não retroaja". Ela fez um paralelo dos efeitos na área social de eventual impeachment da presente Dilma àqueles produzidos pelo golpe militar de 1964, que hoje completa 52 anos.

"Imaginem o que seria o Brasil hoje se a gente não tivesse interrompido as reformas que vinham sendo iniciadas antes do golpe militar. Imaginem se a gente não tivesse interrompido a reforma educacional, o processo agrário. Então, espero que a gente não vá se arrepender de ter interrompido o processo", disse a ministra.

Campello falou hoje a uma pequena plateia que incluía lideranças de comunidades beneficiadas pelos programas sociais comandados pela pasta. Ao final de seu discurso, a ministra do MDS fez uma espécie de chamamento às ruas contra o impeachment.

"A gente tem a obrigação de manter essas reformas e esse processo de transformação. E, nessa revolução silenciosa, a gente tinha que fazer agora um pouco menos silenciosa. E aí fica o chamado para que a gente vá às ruas para manter a democracia e para manter o nosso projeto", disse a ministra, ao final do pronunciamento que encerrou a solenidade.

Campello se queixou do fato de a agenda social do governo ser quase "invisível" aos olhos da população e, por isso, seus avanços não serem devidamente reconhecidos. Segundo ela, tal constatação se torna mais evidente com a mudança da qualidade de vida da população rural do semiárido nordestino.

"Não é só invisível o povo do Nordeste, a pobreza rural é mais invisível que a pobreza urbana. As pessoas de classe média se incomodam com aquele pobre que está na rua, debaixo do viaduto, porque enfeita passagem quando vai para o trabalho, quando vai para o shopping. Esse pobre escondido no Nordeste não atrapalha em nada, ninguém está vendo", afirmou a ministra.

Para Tereza, algumas críticas aos programas sociais são infundadas. Ela ressaltou que é comum o governo ser responsabilizado pela repetição da seca no Nordeste. Ela frisou que se trata de um fenômeno climático em que somente suas consequências podem ser combatidas.

"Outro dia eu escutava uma pessoa dizendo 'não sei quantos anos de PT e não acabaram com a seca'. A burrice também perdeu a vergonha, não é? É um negócio impressionante. Então, vamos ser acusados de não ter acabado com a seca, não ter mudado o clima", ironizou a ministra.

O MDS considera que o país viveu uma das maiores estiagens da história do país nos últimos quatro anos, que se compara à grande seca de 1915. Campello avalia que iniciativas como o Programa Um Milhão de Cisternas contribuiu para reforçar a ideia de que a atual seca no Nordeste "não tivesse acontecido".


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