Presos há um mês, o publicitário João Santana e a mulher dele, Mônica Moura, foram denunciados pelo Ministério Público Federal no sábado (26) após serem investigados pela Operação Lava Jato.
Os detalhes da denúncia estão sob sigilo porque o juiz Sergio Moro decidiu remeter todo o caso para o Supremo Tribunal Federal diante das menções a autoridades com foro privilegiado na investigação.
Foi denunciado (acusado formalmente) ainda o lobista Zwi Skornicki, que também foi detido na fase Acarajé, junto com Santana e Mônica. Se a Justiça aceitar a denúncia, os três viram réus.
Em despacho publicado nesta segunda-feira (28), Moro disse que "a cautela recomenda" que os autos fossem remetidos ao Supremo. Mas disse que a corte pode, se assim entender, cindir as apurações e devolver a parte referente ao casal à primeira instância.
Santana foi marqueteiro do PT nas últimas três campanhas presidenciais.
PAGAMENTOS NO EXTERIOR
Na semana passada, a Polícia Federal indiciou Santana e Mônica sob suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa, ligados a desvios na Petrobras.
Existe a suspeita de que o casal tenha recebido no exterior pagamentos por campanhas eleitorais no Brasil. Uma das fontes suspeitas desses repasses é a Odebrecht.
Skornicki, que foi representante do Brasil do estaleiro asiático Keppel, é suspeito de pagar US$ 4,5 milhões ao casal.
Na mesma fase da operação, em buscas em um endereço do executivo da empreiteira Benedicto Barbosa Júnior, a PF encontrou uma série de planilhas que mostram pagamentos a políticos. Moro decretou na semana passada sigilo sobre o material porque há nele autoridades com foro privilegiado.
OUTRO LADO
O criminalista Fábio Tofic Simantob, que coordena a defesa de João Santana, disse que a que a denúncia não traz qualquer prova de envolvimento do marqueteiro do PT com o petrolão.
"A denúncia escancara, de uma vez por todas, que meus clientes não teriam como saber dos malfeitos na Petrobras", afirmou.
Segundo o advogado de Santana, o envio da investigação ao STF deveria ter ocorrido há mais tempo. "Esta investigação deveria ter ido ao STF muito antes, quando apareceram as primeiras alegações sobre envolvimento com a campanha de 2014", disse Tofic à Folha.
A Polícia Federal afirma que encontrou indícios de que a Odebrecht pagou ao menos R$ 21,5 milhões para o marqueteiro de Dilma, logo depois do segundo turno da eleição de 2014.
Os dados estão em planilha encontrada com a funcionária da Odebrecht Maria Lúcia Tavares, delatora desde o início deste mês, e indicam 41 repasses a "Feira" (codinome atribuído a João Santana e à mulher) entre 30 de outubro de 2014 a 22 de maio de 2015.
Em depoimentos à PF, Santana e Mônica negaram irregularidades. Ela afirmou que o dinheiro recebido no exterior se referia a pagamentos por campanhas feitas em Angola, na Venezuela e no Panamá.
Skornicki afirmou que só iria se manifestar à Justiça.