Folha de S. Paulo


'Coalizão' com parte do PMDB pode ajudar a barrar impeachment, diz Lula

Em entrevista coletiva a veículos internacionais nesta segunda-feira (28), o ex-presidente Lula defendeu que o governo pode buscar uma "coalizão" com a parte do PMDB que ainda o apoia para barrar o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

"Quando eu ganhei as eleições, em 2003, em um primeiro momento o PMDB não me apoiou, mas uma parte do PMDB na Câmara me apoiava, uma parte do PMDB do Senado me apoiava e nós conseguimos governar", disse. "No segundo mandato, fizemos um acordo com o PMDB e teoricamente o partido decidiu me apoiar. Ainda sim a gente nunca teve todo o apoio de todo o PMDB. Em vários estados o partido não quis apoiar o governo".

"Acho que vai acontecer [com o impeachment] o que aconteceu em 2003. O governo vai construir uma base parlamentar com o PMDB e vamos ter uma espécie de coalizão sem a concordância da direção", resumiu.

Apesar dessa possibilidade, Lula disse que vê "com uma certa tristeza" o desembarque da legenda do governo Dilma e afirmou que, pelo que sabe, " os ministros não sairão do governo".

O ex-presidente viaja hoje para Brasília onde terá conversas com integrantes da sigla na tentativa de manter a coligação. A jornalistas, disse que iria "conversar com muita gente", incluindo o vice Michel Temer, para saber os motivos que levam correligionários do PMDB a optarem pelo rompimento com o PT.

"Tem eleição municipal agora, tudo isso tem que ser avaliado.Temos que criar uma espécie de junta médica, de perícia, para não 'chutar', não falar coisas sem critérios".

Segundo a Folha apurou, a entrevista desta segunda foi motivada por um incômodo no partido em relação a manifestações de várias publicações, como a revista "The Economist", de que seria o momento de Dilma deixar o governo. Ao lado dele estava o presidente do PT Rui Falcão. Também participam do evento os diretores do instituto Lula Paulo Okamotto e Clara Ant.

Nelson Almeida/AFP
Ex-presidente Lula, durante entrevista à imprensa internacional em São Paulo
Ex-presidente Lula, durante entrevista à imprensa internacional em São Paulo

MORO

No evento, o ex-presidente ainda falou sobre o juiz Sergio Moro, que conduz as investigações da Lava Jato. "Tudo o que se sabe do juiz Moro é que ele é uma figura inteligente, competente, mas como ser humano eu temo que a mosca azul faça seus efeitos".

Também disse esperar que Moro faça "um julgamento correto", ouvindo as pessoas "corretamente como deve ser", dando "o direito das pessoas se defenderem". "Eu acho que está cumprindo um papel extraordinário para a democracia brasileira. É isso que eu espero de um juiz, seja ele, o Moro, ou qualquer um outro".

Lula classificou a divulgação de conversas suas e de seus familiares como uma situação "deprimente, pobre e de má fé".

"O juiz, por mais que seja juiz, não foi correto ao fazer divulgação de coisas privadas. Não contribui com a democracia", afirmou antes de pedir que "Deus coloque a mão na cabeça" de Moro.

"Quero ter o mesmo tratamento que todo mundo. O excesso pode levá-lo a cometer erros. O juiz deve ser respeitado por todos, não pode ter um lado", disse.

O petista afirmou que acredita que a divulgação dos áudios tem o objetivo de "tentar destruir" sua imagem.

IMPEACHMENT

O ex-presidente também criticou o impeachment e afirmou que a mídia está criando no Brasil o mesmo clima da Venezuela antes dos golpe contra Hugo Chávez em 2002. Ele disse acreditar, porém, que vai prevalecer o "bom senso".

"Acredito que vai prevalecer a democracia e vai prevalecer o bom senso e que a gente possa dar a chance a presidente Dilma de governar este país. Se eu pudesse fazer um apelo, eu faria, deixem esta mulher governar o país, deixem ela fazer o que tem que fazer. Ninguém é obrigada a gostar de ninguém, mas ela foi eleita".

O petista defendeu que Dilma não cometeu nenhum crime que justifique tirá-la do cargo, e destacou que "impeachment sem crime de responsabilidade é golpe". Negou que aceitou o cargo de ministro devido à investigação da Lava Jato que é alvo e afirmou que não quer ser um intruso no governo de Dilma.

Também disse que as pessoas que estão fazendo "pixulecos" [bonecos que reproduzem Lula de presidiário] nunca votaram no PT. "O que me dá tristeza é a despolitização", emendou.

Sobre a economia, Lula defendeu que o governo aprove desonerações e aposte no mercado interno para que o PIB brasileiro volte a crescer.


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