Folha de S. Paulo


Com bombas e garrafas, ato em frente à PUC-SP vira confronto com a PM

O que era para ser um pequeno ato, que começou com cerca de 100 pessoas, a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff em frente à PUC-SP, no bairro de Perdizes, em São Paulo, acabou em confusão com a Polícia Militar na noite desta segunda-feira (21).

Um grupo de estudantes de Direito, Administração e Economia convocou uma manifestação contra a corrupção e a favor da deposição da presidente Dilma em resposta ao ato que aconteceu na semana passada no Tuca a favor do governo.

De um trio elétrico, gritavam palavras de ordem contra a petista, contra o ex-presidente Lula e o PT e a favor do juiz Sergio Moro, que conduz as investigações da Operação Lava Jato Curitiba, e da Polícia Militar.
Estudantes carregavam cartazes com os dizeres "Sergio Moro estamos com você" e "O meu partido é o Brasil".

Um grupo de cerca de 30 estudantes passou, então, a responder com gritos de 'não vai ter golpe' e 'fascistas não passarão'.

A Polícia Militar acompanhava, até então, o ato à distância. Até que uma pequena confusão começou em frente a ao trio elétrico. Um aluno contrário à manifestação pediu para subir no carro de som e "dar voz ao outro lado". Começou um empurra-empurra e a Polícia agiu para separar os grupos, formando uma barreira de isolamento entre eles.

Com escudos, cassetetes e armas com bala de borracha se posicionaram de frente para os estudantes contrários ao ato pró-impeachment. Do caminhão de som, os organizadores da manifestação antigoverno entoaram gritos de "Viva a Polícia Militar, ela me representa".

Alunos que assistiam as cenas do prédio da PUC desceram e aumentaram o grupo contrário ao ato pró-impeachment.

Por volta das 21h, os estudantes que organizaram o ato anunciaram que "por respeito à vizinhança" encerrariam a manifestação, e tocaram o Hino Nacional. Neste momento, a Polícia Militar se colocou em posição de combate.

Veja o vídeo do protesto na PUC

Assim que terminou o hino, o grupo contrário à manifestação começou a gritar "não acabou/ tem que acabar/eu quero o fim da Polícia Militar". Policiais então dispararam balas de borracha, de efeito moral e lançaram gás de pimenta contra os estudantes.

Do prédio, alunos começaram a atirar objetos contra a polícia e estudantes pró-impeachment. Uma bomba de efeito moral foi jogada dentro do prédio e um aluno foi atingido por uma bala de borracha e teve de ser levado ao hospital.

"As pessoas começaram a correr para o segundo andar, desesperadas, porque não estava dando pra respirar no primeiro", afirmou a estudante de direito L.C., 25, que pediu para não ser identificada. Ela estava na sacada da faculdade junto com outros estudantes que assistiam à manifestação quando a bomba atingiu o prédio.

Segundo a assessora de imprensa da Puc-SP, o ato desta segunda não foi organizado pela universidade. A PUC divulgou uma nota na noite desta segunda dizendo "lamentar profundamente os episódios de violência que se deram" nas manifestações. De acordo com a nota, "diversos alunos da PUC-SP, professores e funcionários foram atendidos no ambulatório da universidade, com intoxicação provocada pelo gás".

A Folha não conseguiu entrar em contato com a Secretaria da Segurança Pública. A Polícia Militar disse, por meio de nota, que "estudantes começaram a arremessar garrafas e latas e os policiais militares precisaram conter as agressões".

RELATOS

As professoras Rosalina Santa Cruz e Márcia da Costa, da faculdade de Serviço Social, interromperam as aulas e desceram para apoiar o grupo de alunos contrário ao ato pró-impeachment. As duas ajudaram a formar um cordão de isolamento para tentar impedir confronto com a polícia.

"Os alunos gritavam palavras de ordem, mas era um ato pacífico. A tropa de choque da Polícia Militar avançou com seus escudos, cassetetes e gás de pimenta. Eu pedia calma, mas vários alunos caíram e foram agredidos", contou à Folha Rosalina.

A professora da Faculdade de Ciências Sociais Matilde Melo defende que a PUC cobre do governo de São Paulo uma resposta sobre a ação da polícia. "A integridade desse campus tem que ser preservada. Esse campus já foi violentado em outros momentos da história. Não podemos conceber mais violência", afirmou ela.

O estudante de economia Thiago Miano, 19, diz que os policiais se sentiram provocados. "O pessoal começou a pedir o fim da Polícia Militar. Acredito que isso os provocou", conta. "Na hora eu fiquei tonto".

Segundo o estudante de administração Bruno Bevilacqua, alunos estavam se hostilizando quando a Polícia Militar usou bombas de efeito moral e balas de borracha.

"Os manifestantes anti-impeachment começaram a hostilizar quem era a favor [do impeachment] e os policiais não pensaram duas vezes: jogaram as bombas", disse Bevilacqua, que protestava contra o governo Dilma Rousseff. "Depois, o pessoal que estava nos andares de cima começou a arremessar objetos contra os policiais".

Para o estudante de direito Giordano Joele Alves de Moraes, 19, contrário ao ato pró-impeachment, a PM usou força desnecessária.

"Não houve enfrentamento ou algo que justificasse a ação da PM. Quando os policiais decidiram acabar com o ato, eles só jogaram bombas para o nosso lado", diz.

Colaborou ANGELA BOLDRINI

Veja o vídeo do protesto na PUC


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