Folha de S. Paulo


Nobel da Paz argentino compara crise à que derrubou Lugo no Paraguai

Adalberto Roque-28.jan.2013/AFP
O Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel, em evento em Cuba em 2013
O Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel, em evento em Cuba em 2013

O argentino Adolfo Pérez Esquivel, prêmio Nobel da Paz, comparou a crise política brasileira com a do Paraguai de 2012, que culminou com o impeachment do ex-presidente Fernando Lugo.

"São golpes brandos e nós, na América Latina, já temos experiência suficiente para saber que as forças armadas não são necessárias para derrubar um governo", disse à Folha.

O impeachment de Lugo ocorreu em 24 horas e foi considerado constitucional. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, porém, questionou o processo. O Mercosul também se posicionou contra e suspendeu o Paraguai do bloco.

Esquivel afirmou que o caso brasileiro se trataria de um golpe cívico e judicial e criticou o juiz Sergio Moro. "Ele põe em perigo a independência dos três poderes", afirmou.

De acordo com o argentino, o Judiciário está intervindo sobre o Executivo de forma excessiva e com o apoio dos meios de comunicação.

Questionado sobre os indícios de corrupção que envolvem o ex-presidente Lula, Esquivel afirmou que "evidentemente" devem ser investigados. "Mas há acusações sem confirmações", acrescentou.

Nesta semana, ele publicou uma carta de apoio a Lula e Dilma em que afirma que a questão brasileira atual não é de luta contra a corrupção, mas de orientação das políticas de Estado.

Segundo ele escreve, sua teoria poderia ser comprovada pelo envolvimento de quase todos os políticos que apoiam o impeachment em escândalos de corrupção. Esses políticos não estariam sendo investigados como Lula.

Ainda de acordo com o texto, a América Latina vive hoje situações de conflito que tentam derrubar a esquerda. Para Esquivel, os governos progressistas da região sabem perder eleições democráticas, como ocorreu na Argentina no ano passado, exemplifica. Nas eleições presidenciais, Mauricio Macri, de centro-direita, venceu Cristina Kirchner.

"Aqueles que não sabem perder e apoiam o novo golpismo em nome da democracia (...) não são muito diferentes daqueles que antes apoiavam as ditaduras genocidas de nosso continente", afirmou.

Esquivel recebeu o prêmio Nobel da Paz em 1980 por sua luta pacífica pela democracia e pelos direitos humanos durante as ditaduras militares da América Latina.


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