Folha de S. Paulo


Em NY, brasileiros comem pão com mortadela em ato contra impeachment

Divulgação
Protesto em NY
Brasileiros protestam em Nova York a favor do governo Dilma

"Quem quer o 'não vai ter golpe'?", diz a enfermeira Myriam Marques, 53, entregando um cartaz com esses dizeres a uma jovem com a mão estendida.

Ela própria segura uma cartolina onde rabiscou "We (coração) Democracy" (nós amamos a democracia).

Na outra mão, um megafone de onde puxa gritos de guerra contra o que chama de "golpe contra a democracia brasileira" –como define a possível derrubada do governo Dilma Rousseff.

Cerca de 50 pessoas, a maioria brasileiros, se reuniram na Union Square na tarde desta sexta (18), para protestar contra o impeachment de Dilma e comer pão com mortadela. "Um símbolo da luta de classes no Brasil", diz o engenheiro de software Vinicius Fortuna, 35.

Com uma marmita de alumínio cheia de sanduíches de pão de forma, ele critica "aquele pessoal da classe privilegiada fazendo piada com pobre. A pessoa que come mortadela tem a mesma dignidade de quem come caviar".

"Queremos fazer eco aos milhares de brasileiros a favor da democracia", afirma Myriam, lembrando do ato pró-governo no Brasil realizado no mesmo dia.

"VAI PRA CUBA!"

Enquanto o grupo discursa, pelo menos três brasileiros passam maldizendo o ato. Ouve-se "vai pra Cuba!" e "petralhas!", num repeteco da polarização que se acentua no Brasil. "Little thighs" (coxinhas em inglês), devolve uma senhora a um deles.

No domingo (13), Nova York também recebeu um protesto de brasileiros, mas a causa e o lugar eram diferentes. Exaltando o juiz Sérgio Moro e defendendo a prisão do ex-presidente Lula, em torno de 250 brasileiros tomaram a Times Square.

Professor de alemão e português da universidade The New Schol, Rainer Brueckheimer, 53, reclama dessa "brasileirada que vem aqui, turista com dinheiro, burgueses que adotam a Times Square, onde compram todas essas bugigangas desnecessárias".

Nesta quinta, os manifestantes concentraram suas críticas ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Investigado na Operação Lava Jato, foi a ele quem coube instalar a comissão de inquérito contra Dilma. "Vai tomar no Cunha!", gritam alguns protestantes (outros acharam "pesado").

COBERTURA

Menções contrárias à Rede Globo também foram populares. Para os manifestantes, a empresa não trata governo e oposição de forma isonômica.

"Parece que a Globo não comprou os direitos de transmissão deste protesto", berra no megafone a estudante de mestrado de urbanismo (pelo Ciência Sem Fronteiras) Mariana Bontempo, 25.

O fotojornalista Luiz Roberto Lima, 42, traz à tona o ataque, em protestos anti-Dilma no Brasil, a quem se posiciona a favor da atual gestão –como o casal que apanhou de manifestantes na avenida Paulista por defender Lula.

"Hoje estão atacando quem está de camisa vermelha. Amanhã vai ser quem está com a Bíblia, quem é negro."

O historiador brasilianista James Green, da Universidade de Brown (EUA), diz que a repercussão da crise brasileira tem sido mostrada de forma parcial no exterior.

A mídia internacional, segundo Green, "cita uma suposta conspiração de Lula e Dilma para um público que conhece pouco [o Brasil]. Aí acham que o país é bagunça, uma 'Banana Republic', e pensam: 'Vai cair esse governo corrupto'".

Para o professor, toda corrupção deve ser investigada, não apenas aquela atribuída ao PT.


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