Folha de S. Paulo


Matarazzo desiste de prévias e anuncia desfiliação do PSDB

Gabo Morales/Folhapress
Andrea Matarazzo, que era pleiteante a candidatura para prefeito de São Paulo pelo PSDB
Andrea Matarazzo, que era pleiteante a candidatura para prefeito de São Paulo pelo PSDB

O vereador Andrea Matarazzo anunciou na manhã desta sexta-feira (18) sua desfiliação do PSDB, desistindo das prévias que definirão o candidato do partido à Prefeitura de São Paulo. Ele enfrentaria o empresário João Doria, apadrinhado pelo governador Geraldo Alckmin, no segundo turno da disputa interna neste domingo (20). Segundo ele, continuar no processo e no partido seria "legitimar uma fraude".

"Infelizmente, a ala liderada pelo Geraldo Alckmin não me deixou outra alternativa. Não tem espaço para mim no partido que coaduna com a compra de votos, com abuso de poder econômico e com o tipo de manobras que fizeram", afirmou Matarazzo.

Apesar de classificar sua decisão como "solitária", Matarazzo consultou os caciques do partido, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os senadores José Serra e Aloysio Nunes Ferreira.

Ele acusou o governador Geraldo Alckmin de usar a máquina do Estado para beneficiar a pré-candidatura de Doria. Afirmando que a "população está cansada dessa política dissimulada", disse também que o grupo de Alckmin fez "uma manobra proposital" para tirá-lo da disputa interna. "Esse jogo não sei fazer."

Vereador mais votado do PSDB em 2012, com 117 mil votos, e líder do partido na Câmara Municipal, Matarazzo afirmou que, durante o processo de prévias, o partido atuou "numa réplica do que o PT está fazendo e que o PSDB condena", acusando o adversário de compra de votos "sem cerimônia", transporte ilegal de eleitores, constrangimento de pessoas e de colocar "seguranças estranhos" dentro de locais de votação no primeiro turno.

"Isso não é o meu PSDB", disse.

Matarazzo disse ainda que Doria trata a militância tucana como "um senhor feudal", um "capitão do mato". "Ele é uma piada pronta."

O vereador também falou claramente em pressões do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, para que os filiados tucanos votassem em João Doria. Segundo ele, o governador trabalhou para que os filiados apoiassem o empresário e orientou seus secretários a interferirem no processo e pedirem votos para seu afilhado.

"Não teria nenhum problema, é legítimo, que como cidadão Geraldo Alckmin tivesse um candidato, mas sentado na cadeira de governador, teve um peso desproporcional."

Segundo disse, a intervenção da Executiva Estadual do partido, comandada por Alckmin, para reverter a decisão de adiar as prévias pesou em sua decisão.

"Com essa intervenção, não me resta outra alternativa a não ser me desfiliar do PSDB, depois de 25 anos de partido", afirmou o vereador.

2018

Matarazzo também criticou o fato de Alckmin mergulhar nas prévias tucanas com vistas à eleição de 2018. O governador considera que a vitória de Doria na disputa interna e na eleição pela prefeitura é o primeiro passo para que ele conquiste a Presidência da República.

"Não entrei nessa prévia para disputar a vaga de cabo eleitoral de 2018. Era uma eleição para candidato a prefeitura", afirmou.

Ele ainda colocou em dúvida a permanência de Alckmin no PSDB, depois de ter "provocado a cizânia do partido em São Paulo". O governador tem a "porta aberta" no PSB.

PSD

Matarazzo, que tem sido sondado por diversos partidos, entre os quais o PP, PV, PPS e PSD do ministro das Cidades, Gilberto Kassab, de quem foi secretário, afirmou que ainda não decidiu se vai se filiar a outra legenda para disputar a prefeitura paulistana.

"Não é uma decisão simples. Eu tinha todo um plano pensado em cima do meu partido. Estou me preparando há dez anos para disputar a Prefeitura de São Paulo pelo PSDB."

PRÉVIAS

Com a saída de Matarazzo, falou-se na possibilidade de o deputado Ricardo Tripoli, que ficou em terceiro lugar na primeira etapa da disputa, voltar para as prévias e enfrentar João Doria no segundo turno.

A ideia, no entanto, é rechaçada por Tripoli. Logo que foi informado por Matarazzo de sua decisão, o deputado disse que não teria como mobilizar toda a sua base partidária para votar neste domingo (20).

Ele também defendeu que o partido dê prosseguimento à análise da impugnação da candidatura de João Doria. O ex-governador Alberto Goldman e o presidente do Instituto Teotônio Vilela, José Aníbal, são autores de uma representação contra o empresário, na qual o acusam de abuso de poder econômico, propaganda irregular, transporte de eleitores no dia da votação do primeiro turno e infrações da lei da Cidade Limpa.

Doria nega ter cometido irregularidades e deve apresentar sua defesa nos próximos dias.

OUTRO LADO

Evandro Losacco, vice-presidente do PSDB paulista e apoiador de João Doria, afirmou que, por sua história no partido, Andrea Matarazzo poderia ter deixado a legenda de "maneira grandiosa" e "não da forma como está fazendo, cuspindo no prato em que comeu".

De acordo com ele, Matarazzo, por estar se preparando há dez anos para ser candidato a prefeito, "tinha certeza" de que seria o representante do PSDB na eleição deste ano. Mas a entrada de Doria nas prévias tirou "a decisão da cúpula partidária e democratizou o processo".

Losacco disse ainda que, a partir do momento que Doria começou a crescer na disputa interna, Matarazzo passou a "apelar para acusações sem fundamentos, como a de compra de votos e uso da máquina".

"O fato de o governador e de secretários de Estado apoiarem uma candidatura não significa que há uso da máquina. As pessoas têm cargos, mas também têm vida partidária."

Ele afirmou também que, ao perceber que estava perdendo espaço no partido, Matarazzo passou a "construir seu discurso de saída do PSDB" em nome de um projeto pessoal de ser prefeito de São Paulo.

Por meio de nota, o presidente estadual do partido em São Paulo, deputado Pedro Tobias, lamentou a saída de Matarazzo dos quadros do PSDB e afirmou ter "confiança" de que a "militância seguirá unida rumo às eleições de outubro".

"As prévias eleitorais são para nós mais um passo importante no processo de aprimoramento democrático, no qual todos nós temos de aprender a respeitar instituições, a disputar com dignidade e, especialmente, a ganhar e perder, risco inerente de quem entra numa disputa", diz o texto.


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