Em conversa com o então ministro Jaques Wagner interceptada pela Polícia Federal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ironizou as vaias recebidas pela ex-petista Marta Suplicy quando ela tentava participar do protesto contra o PT e o ex-presidente no último domingo (13).
Além de Marta, também foram hostilizados pelos manifestantes o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador mineiro Aécio Neves, ambos do PSDB.
O diálogo está entre os revelados com o fim do sigilo decidido pelo juiz Sergio Moro, em Curitiba, decretado nesta quarta-feira (16) em relação às ligações interceptadas pela Polícia Federal, no âmbito das investigações da Operação Lava Jato.
Os dois avaliaram os impactos da manifestação de domingo ocorrido nas capitais e em outras cidades do país.
Ao ser questionado por Lula sobre o protesto em seu Estado, Wagner, ex-governador da Bahia, minimizou o público, dizendo ter reunido apenas entre 10 mil e 15 mil pessoas em Salvador –foram 20 mil, segundo estimativa da PM, e 25 mil, conforme os organizadores.
Lula faz, então, sua avaliação sobre o ato em São Paulo, na avenida Paulista: "Ninguém conseguiu falar, dos dirigentes, Alckmin, Aécio...".
"A Marta teve que se trancar na Fiesp [prédio da federação das industriais, bastante conhecido na avenida]. Foi chamada de puta, vagabunda, vira-casaca", afirmou o ex-presidente. Ao que Wagner responde: "É bom pra nega aprender."
Na conversa, em tom bem-humorado, o ex-presidente brinca com Wagner que vai tirá-lo do cargo de ministro da Casa Civil –a ligação ocorreu antes da nomeação de Lula para a função.
Ao encerrar o diálogo, o ex-governador baiano diz que o cargo de ministro "está à disposição" de Lula e que ele pode ser seu "carregador de documentos". "Eu serei seu ajudante, seu adjunto", responde Lula, em tom de brincadeira.
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LEIA A ÍNTEGRA DO DIÁLOGO:
Jaques Wagner: Diga, Excelência.
Lula: Você viu que eu já tirei você da Casa Civil, né, porra?
Wagner: Beleza. Sou o segundo, sem nenhum problema, o maior prazer.
Lula: Querido, estou pensando em Brasília amanha. Ela tá aí em Brasília?
Wagner: Claro.
Lula: Chego 18h, 19h. Se ela quiser de noite, de manhã. Vê quando é melhor. Se quiser tomar um café da manhã gostoso...preciso de só meia hora, depois entra a tropa.
Wagner: Tá bom.
Lula: Foi bom o dia hoje?
Wagner: Foi bom.
Lula: Como foi a manifestação na Bahia?
Wagner: Ah, teve 10, 15 mil. O Aleluia foi falar, tomou uma vai da porra, e ninguém mais quis falar. Na verdade generalizou porque é uma manifestação contra a política.
Lula: Acho que essa é a pedra. Acabei de [inaudível] com o Mino Carta aqui, para ele escrever um artigo mostrando que teve duas coisas: primeiro a vontade das pessoas que o combate a corrupção continue, e o Moro representa isso fortemente. Segundo, que a negação política é total. E o resultado disso, você sabe o que é?
Wagner: Lógico, o caminho pro autoritarismo.
Lula: E aqui em SP ninguém conseguiu falar dos dirigentes, Marta, Aécio. A Marta teve que se trancar na Fiesp. Foi chamada de puta, vagabunda, vira-casaca.
Wagner: É bom pra nega aprender. Bom, eu aviso a ela aqui e a gente conversa amanhã
Lula: Tá bom.
Wagner: E você amadurecendo a cabeça?
Lula: Tá amadurecendo, quase caindo de podre. Tenho recebido muito pedido pra mim aceitar, muito, muito. O sem-terra tava agora reunido.
Wagner: Meu cargo está a sua disposição. Eu posso ser seu carregador de documentos.
Lula: Eu serei seu ajudante. Seu adjunto.
Wagner: Um abraço.