Folha de S. Paulo


Em grampo, Lula ironiza vaias a Marta Suplicy em ato de 13 de março

Jorge Araújo/Folhapress
A senadora Marta Suplicy, ex-PT, participa do evento de sua filiação ao PMDB no Teatro Tuca, em São Paulo, neste sábado
A senadora Marta Suplicy, ex-PT, durante evento de sua filiação ao PMDB

Em conversa com o então ministro Jaques Wagner interceptada pela Polícia Federal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ironizou as vaias recebidas pela ex-petista Marta Suplicy quando ela tentava participar do protesto contra o PT e o ex-presidente no último domingo (13).

Além de Marta, também foram hostilizados pelos manifestantes o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador mineiro Aécio Neves, ambos do PSDB.

O diálogo está entre os revelados com o fim do sigilo decidido pelo juiz Sergio Moro, em Curitiba, decretado nesta quarta-feira (16) em relação às ligações interceptadas pela Polícia Federal, no âmbito das investigações da Operação Lava Jato.

Os dois avaliaram os impactos da manifestação de domingo ocorrido nas capitais e em outras cidades do país.

Ao ser questionado por Lula sobre o protesto em seu Estado, Wagner, ex-governador da Bahia, minimizou o público, dizendo ter reunido apenas entre 10 mil e 15 mil pessoas em Salvador –foram 20 mil, segundo estimativa da PM, e 25 mil, conforme os organizadores.

Lula faz, então, sua avaliação sobre o ato em São Paulo, na avenida Paulista: "Ninguém conseguiu falar, dos dirigentes, Alckmin, Aécio...".

"A Marta teve que se trancar na Fiesp [prédio da federação das industriais, bastante conhecido na avenida]. Foi chamada de puta, vagabunda, vira-casaca", afirmou o ex-presidente. Ao que Wagner responde: "É bom pra nega aprender."

Na conversa, em tom bem-humorado, o ex-presidente brinca com Wagner que vai tirá-lo do cargo de ministro da Casa Civil –a ligação ocorreu antes da nomeação de Lula para a função.

Ao encerrar o diálogo, o ex-governador baiano diz que o cargo de ministro "está à disposição" de Lula e que ele pode ser seu "carregador de documentos". "Eu serei seu ajudante, seu adjunto", responde Lula, em tom de brincadeira.

*

LEIA A ÍNTEGRA DO DIÁLOGO:

Jaques Wagner: Diga, Excelência.

Lula: Você viu que eu já tirei você da Casa Civil, né, porra?

Wagner: Beleza. Sou o segundo, sem nenhum problema, o maior prazer.

Lula: Querido, estou pensando em Brasília amanha. Ela tá aí em Brasília?

Wagner: Claro.

Lula: Chego 18h, 19h. Se ela quiser de noite, de manhã. Vê quando é melhor. Se quiser tomar um café da manhã gostoso...preciso de só meia hora, depois entra a tropa.

Wagner: Tá bom.

Lula: Foi bom o dia hoje?

Wagner: Foi bom.

Lula: Como foi a manifestação na Bahia?

Wagner: Ah, teve 10, 15 mil. O Aleluia foi falar, tomou uma vai da porra, e ninguém mais quis falar. Na verdade generalizou porque é uma manifestação contra a política.

Lula: Acho que essa é a pedra. Acabei de [inaudível] com o Mino Carta aqui, para ele escrever um artigo mostrando que teve duas coisas: primeiro a vontade das pessoas que o combate a corrupção continue, e o Moro representa isso fortemente. Segundo, que a negação política é total. E o resultado disso, você sabe o que é?

Wagner: Lógico, o caminho pro autoritarismo.

Lula: E aqui em SP ninguém conseguiu falar dos dirigentes, Marta, Aécio. A Marta teve que se trancar na Fiesp. Foi chamada de puta, vagabunda, vira-casaca.

Wagner: É bom pra nega aprender. Bom, eu aviso a ela aqui e a gente conversa amanhã

Lula: Tá bom.

Wagner: E você amadurecendo a cabeça?

Lula: Tá amadurecendo, quase caindo de podre. Tenho recebido muito pedido pra mim aceitar, muito, muito. O sem-terra tava agora reunido.

Wagner: Meu cargo está a sua disposição. Eu posso ser seu carregador de documentos.

Lula: Eu serei seu ajudante. Seu adjunto.

Wagner: Um abraço.


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