Folha de S. Paulo


Crise política inviabiliza retomada da economia, afirmam especialistas

Economistas ligados às principais universidades brasileiras afirmaram nesta terça-feira (15) que não há solução para a economia do país sem que antes o problema político seja resolvido.

Esta é a avaliação, por exemplo, de Wilson Cano, professor de economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). "Com a crise política atual, é impossível racionar para tirar o país desse poço profundo. A sociedade está espatifada", disse.

O encontro foi realizado nesta terça (15) no campus da Unicamp, em Campinas, no interior de São Paulo, em comemoração aos 50 anos da universidade –a ser completado em outubro de 2016. Na plateia, estavam estudantes, sindicalistas e trabalhadores ligados à CUT (Central Única dos Trabalhadores).

Apesar da declaração, Cano afirmou que a responsabilidade sobre a crise econômica atual não é da presidente Dilma Rousseff ou dos antecessores Lula e FHC. "É uma crise que já dura 35 anos, que começou nos anos 1980 com a desindustrialização do país", disse.

Para Carlos Lessa, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e ex-presidente do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social), o país precisa ter um projeto. "Vivemos uma crise estrutural, com fortes componentes econômicos e políticos, e o que mais assusta é que o 'assunto Brasil' não está em pauta. O projeto de nação não está explicitado", disse ele.

REDUÇÃO DOS JUROS

Cano defendeu uma ruptura total da política econômica atual e criticou a elevada taxa de juros brasileira. O professor afirmou que a Lava Jato, apenas com "indícios", desestabilizou a Petrobras e as maiores empreiteiras do país, deixando o controle da economia com os bancos.

Leda Paulani, professora da USP (Universidade de São Paulo), apontou necessidades de curto e longo prazos para a economia brasileira. Mas afirmou que nenhuma delas pode ser implantada sem antes resolver a crise política. "A crise política agravou a situação econômica do país", disse.

Ela citou a redução dos juros como a principal medida a curto prazo. "A economia brasileira não se pode dar ao luxo de pagar quase 10% do seu PIB [Produto Interno Bruto] com juros", disse, e defendeu ainda a taxação de fortunas e o maior controle sobre o fluxo de capital e o câmbio.

Já a longo prazo, Leda afirmou que o país precisa de uma grande projeto nacional. "Nós temos o pré-sal, um grande mercado consumidor. Por que nunca saímos dessa posição inferior?", questionou ela.


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