Folha de S. Paulo


Empresa acusada de desvio bancou despesas de Gleisi, diz Delcídio

Em seu acordo de delação premiada, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) citou líderes petistas no Senado, além da cúpula do PMDB.

Segundo o senador, "Fundo Consist", era quem financiava despesas do mandato da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). A empresa teria atuado no desvio de recursos de empréstimos consignados do Ministério do Planejamento –que era comandado pelo marido da senadora, o ex-ministro Paulo Bernardo.

"Que é de notório conhecimento sua relação com a empresa Consist, sendo que a empresa acompanha o casal Bernardo e Gleisi desde a época em que foram secretários do então governador do MS, Zeca do PT. Que a Consist, sempre atuou como braço financeiro dos mesmos, e como mantenedora das despesas do mandato da senadora Gleisi, nos últimos anos. Que existem provas incontestáveis sobre isso.", afirmou o petista aos investigadores.

"Ainda, que acredita que se deve dar atenção especial para o período em que Gleisi foi diretora financeira de Itaipu, quando vários "claims" de obras passaram pelas suas mãos. O mesmo vale para as concessões do Porto de Santos quando a mesma, como chefe da Casa Civil teve atuação decisiva na definição das áreas leiloadas. Ressalte-se que o operador de Gleisi sempre foi o seu marido Paulo Bernardo, sendo que na visão do depoente, e um dos melhores captadores de recursos do PT", completou.

"Ainda, cabe destacar que Gleisi tinha estreito relacionamento com outros petistas, como José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, e Carlos Gabas, ex-ministro da Previdência.

OUTRAS MENÇÕES

Há menções sobre o senador Humberto Costa (PT-PE), que ficou com a liderança do governo no Senado depois que Delcídio acabou preso no ano passado acusado de tentar atrapalhar as investigações da Lava Jato.

"Que o depoente sabe que o Senador agiu com desenvoltura na Refinaria de Suape (PE). Que foi parceiro, entre outras empresas, da White Martins, que sempre contribuiu decisivamente para suas campanhas. Tem como operador o empresário pernambucano Mario Beltrão. Que sua proximidade com Paulo Roberto Costa [ex-diretor da Petrobras] era conhecida. "

Gleisi e Humberto Costa já são alvos de inquérito no Supremo Tribunal Federal que investigam se tiveram participação no esquema de corrupção da Petrobras, mas os senadores negam envolvimento.

A senadora é investigada ainda no Supremo pelas suspeitas em relação a Consist, mas o caso está com o ministro Dias Toffoli porque os ministros do Supremo entenderam que não havia conexão com a Lava Jato.

De acordo com os investigadores, "parte expressiva da remuneração da Consist, cerca de 9,6% do faturamento líquido" foi utilizada para pagamentos associados à senadora Gleisi Hoffmann".

Entre as despesas pagas com esses recursos estariam um débito de R$ 1.344,51, a título de pagamento de multa relacionada ao nome da própria senadora, e débitos relacionados a Zeno Minuzzo e Hernany Bruno Mascarenhas, pessoas ligadas a ela, segundo a autoridade policial.

Em um dos lançamentos de débito junto ao nome de Hernany consta a anotação "salário motorista - cheque 828", enquanto no outro, "Diversos PT, PB, Gleisi".

Para a Polícia Federal, Mascarenhas prestaria serviços de motorista à senadora, enquanto Zeno Minuzzo teria sido secretário de finanças do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores.

Para acobertar os repasses, o escritório teria prestado um ou outro serviço à Consist, mas aparentemente incompatíveis com a remuneração de cerca de R$ 7 milhões.

OUTRO LADO
O líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), classificou a delação de Delcídio como um "apanhado de notícias sobejamente já veiculadas a partir da colaboração de outro réu confesso" e rebateu as acusações de que ele teria se beneficiado de doações da empresa White Martins para campanhas eleitorais.

Segundo Costa, as informações de Delcídio são baseadas em informações prestadas pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Em nota, o petista afirma o ex-diretor já alterou seis vezes o teor "das inverídicas acusações que fez ao senador Humberto".

Gleisi disse que não há o que comentar porque Delcídio não apontou nenhum "ilícito" ou indícios. "São ilações apoiadas em matérias que já foram veiculadas pela imprensa."


Endereço da página:

Links no texto: