Folha de S. Paulo


Delcídio diz que Mercadante ofereceu ajuda financeira para evitar delação

Adriano Machado/Reuters
Brazilian Education Minister Aloizio Mercadante leaves a news conference in Brasilia, Brazil, March 15, 2016. Mercadante on Tuesday denied he offered to pay for the silence of a former ruling party senator to prevent him from implicating the government in a sweeping investigation at state-run oil company Petrobras. REUTERS/Adriano Machado ORG XMIT: BSB101
O ministro Aloizio Mercadante após coletiva de imprensa sobre delação de Delcídio

O senador Delcídio do Amaral (PT-MS) entregou gravações à PGR (Procuradoria-Geral da República) de conversas de um de seus assessores com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, na qual ele tenta evitar a delação de Delcídio, oferecendo ajuda financeira e lobby junto ao STF (Supremo Tribunal Federal) para sua soltura.

A ofensiva de Mercadante foi relatada por Delcídio no quinto termo de depoimento de sua colaboração premiada, homologada nesta terça-feira (15), ao qual a Folha teve acesso.

A informação foi antecipada pela revista "Veja".

Leia a íntegra da delação:

Leia a íntegra da delação

"Aloizio Mercadante, em tais oportunidades, disse a Eduardo Marzagão [assessor de Delcídio] para o depoente ter calma e avaliar muito bem a conduta a tomar", diz o depoimento do senador.

"A mensagem de Aloizio Mercadante, a bem da verdade, era no sentido do depoente não procurar o Ministério Público Federal para, assim, ser viabilizado o aprofundamento das investigações da Lava Jato", completou.

Segundo o depoimento, Marzagão comentou que a família do senador estava em dificuldades financeiras e recebeu oferta de ajuda de Mercadante.

"Mercadante disse que a questão financeira e, especificamente, o pagamento de advogados, poderia ser solucionado, provavelmente por meio de empresa ligada ao PT", afirmou Delcídio.

Para o senador, o ministro "agiu como emissário da Presidente da República e, portanto, do governo".

Marzagão gravou as conversas com Mercadante e entregou-as a Delcídio, para que fossem apresentadas como prova em sua delação. Foram três encontros, todos em dezembro do ano passado.

De acordo com a delação, também houve promessa de lobby no Judiciário e no Senado para que Delcídio fosse solto. "Mercadante disse que também intercederia junto a Ricardo Lewandowski [presidente do STF] e Renan Calheiros [presidente do Senado] para tomarem partido favoravelmente ao depoente, no sentido de sua soltura".

SOLIDARIEDADE

O senador relatou ainda que decidiu fazer a delação porque "não sentiu qualquer firmeza nas promessas de solidariedade e de ajuda política que, eventualmente, receberia".

Delcídio se comparou a Marcos Valério, preso hoje por conta do mensalão, dizendo que a mesma situação ocorreu com ele e com outras pessoas que enfrentaram problemas semelhantes.

Segundo o senador, outras pessoas próximas ao PT e ao governo também buscaram outros envolvidos na Lava Jato para convencê-los a não fechar delação premiada.

"Pode recordar que Sigmaringa Seixas [advogado], Paulo Okamotto [presidente do Instituto Lula] e José Eduardo Cardozo [ex-ministro da Justiça e atual advogado-geral da União] são agentes ligados ao PT que buscaram contato com outros envolvidos, a exemplo de Renato Duque, para o fim de serem frustradas, por exemplo, as investigações realizadas a partir do caso Lava Jato".

Delcídio afirmou ainda que as discussões sobre os desdobramentos da Lava Jato eram restritas a um reduzido número de pessoas da cúpula do governo, dentre elas, a presidente Dilma, Cardozo, Sigmaringa Seixas, Mercadante e, mais recentemente, o ministro da Casa Civil Jaques Wagner.

R$ 1, 5 MILHÃO

O acordo de delação premiada revela que o petista terá que devolver R$ 1, 5 milhão aos cofres públicos por seu envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras.

"O acordo de colaboração celebrado também teve por fim a recuperação do proveito das infrações penais praticadas pelo colaborador, no valor de R$ 1, 5 milhão", diz o procurador-geral da República Rodrigo Janot no pedido de homologação.

OUTRO LADO

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), negou que tenha sido procurado por Mercadante para tratar de uma possível moção institucional para que o STF (Supremo Tribunal Federal) soltasse o senador Delcídio e chamou a delação de "delírio".

"Quatrocentas páginas de delírios, isso deveria agravar a pena e não isentar esse tipo de pessoa que faz esse tipo de acusação. Acho que na delação, quando não houver prova, ela precisa agravar a pena, teria que ser um agravante e não um atenuante", defendeu Renan.

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, diz que "jamais manteve qualquer tipo de conversa nos termos citados no depoimento". Ele falou também que não tem "poder decisório sobre os feitos citados, tarefa incumbida ao relator e aos integrantes da Segunda Turma" e, como chefe do Poder Judiciário, "zela pela independência e pela imparcialidade do exercício da magistratura".

Delcídio delata


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