Folha de S. Paulo


Manifestantes concordam sobre problemas do Brasil, mas divergem de soluções

Os manifestantes da avenida Paulista são favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, embora muitas vezes tenham dificuldades em citar o que pesa no pedido de impedimento dela.

Elas criticam a situação econômica do país e os escândalos de corrupção no governo. Além de Dilma, têm como alvo preferencial o ex-presidente Lula. Tampouco são otimistas quanto a Michel Temer ou simpáticos à oposição. Mais do que tucanos, apontam como solução para o país "outsiders" como Sergio Moro e Jair Bolsonaro.

A Folha ouviu pessoas que estiveram nas ruas de São Paulo neste domingo (13). Concordam nos problemas, divergem nas soluções.

Editoria de arte

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Folha - Por que você está aqui?

Paloma Cândido, 30, delegada de riscos laborais - Morei por dez anos na Espanha e voltei para o Brasil em setembro do ano passado. Vim me manifestar porque as circunstâncias no país não são nada agradáveis.

Pedro Garcia, 23, engenheiro - Vim para me manifestar contra a corrupção e a favor da atuação do juiz Moro na Operação Lava Jato.

Kátia Tabata, 33, gerente de planejamento - A decepção de ver um país que até ia OK e agora não para de aumentar o dólar, a roubalheira e ninguém mais quer investir.

Eliane Marques, 46, autônoma - O Brasil está parado, caindo, e precisamos dar uma resposta. As empresas estão fechando e muita gente está sendo demitida.

Enoque Braga, 62, gerente contábil - Fui protestar contra a prisão do Lula [na ditadura], e hoje vim pela prisão dele. Ele que mudou de opinião.

Sérgio Camerotti, 52, professor - Chegou a hora de dar um basta. No fundo do meu coração, eu partiria para outra coisa mais forte, mas acho que não é o jeito agora.

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Você sabe o que pesa contra Dilma Rousseff no pedido de impeachment?

Marcia Domingues, 51, advogada - A corrupção que ela [Dilma] está fazendo no Brasil e as várias falcatruas que fez para se eleger.

Tiago Guimarães, 30, motorista - O conjunto de tudo que vemos na televisão.

Lailson Evaristo, 23, estudante - De fato ainda não. Sei que ela escondeu as provas, tentou atrapalhar a investigação da Polícia Federal sobre toda a roubalheira envolvendo o Lula.

Selma Bolinele, 42, gerente de RH - Principalmente o fato de Dilma ter mentido na campanha dela.

Ana Carolina Fernandes, 27, médica - Não sei dizer.

Roberto Izidoro, 49, técnico em eletrônica - Agora você me pegou. Estou mais voltado contra Atibaia, o tríplex. Fora que ela [Dilma] já foi guerrilheira também, sem vergonha.

Elisa Veiga, 51, advogada - O problema do orçamento, das pedaladas.

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Qual sua posição sobre o impeachment?

Josué Almeida, 35, autônomo - Não tenho 100% de certeza se acontecerá e se eu sou a favor.

Marcia - Eu quero o impeachment. É um absurdo ela continuar representando meu país. Eu não a elegi. Ainda que o povo tenha eleito a Dilma, ela não está representando o Brasil.

Pedro - Sou a favor do impeachment. O PT é um partido corrupto e Dilma não governa como deveria.

Enoque - Sou a favor, a Dilma veio do nada, não fez nada e não provou nada.

Sérgio - Acho que ela tem que sair, mas fico receoso com o rapaz que vai entrar. Mas é um começo.

Lailson - Não é tirando a presidente que a situação do país se resolveria.

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Como prevê que ficará a situação do país nos próximos anos caso não haja impeachment?

Lenita Freire, 40, advogada - Eu prefiro nem pensar. Mais três anos disso ninguém aguenta.

Marcia - O Brasil vai acabar.

Tiago - Vai continuar como está, com escândalos aparecendo, com um monte de coisa surgindo no jornal. Se houvesse impeachment, acho que abafaria um pouco.

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O que acha da possibilidade de cassação de Dilma e Michel Temer no TSE?

Amélia Rodrigues, 70, aposentada - Sou a favor porque Temer está no mesmo barco que Dilma. Está junto em tudo que a Lava Jato apurou.

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Como prevê que seria um eventual governo Temer?

Marcia - Tenho respeito pelo Michel Temer, como um dos maiores juristas e maiores constitucionalistas que o país já teve. Eu espero que a política não o estrague a ponto dele desrespeitar aquilo em que ele é um mestre.

Pedro - A posição do PMDB está indefinida e isso me deixa sem confiança num possível governo Temer. Vai depender das aliança que ele pode fazer. O mais justo seriam novas eleições.

Kátia - Estaria numa ilusão se pensasse que mudaria. Mas vou fingir que sim, mudaria um pouco para melhor.

Eliane - Seria a mesma coisa, mas temos que dar um primeiro passo.

Tiago - O fato de a Dilma sair já teria uma mudança, já seria uma nova maneira de governar de quem assumiria. Seria outra forma de pensar.

Josué - É desesperador. Ele é tão sujo quanto o Lula.

Enoque - Não é um Fernando Henrique Cardoso, que tem cabeça. O Temer é um maria-vai-com-as-outras, não serve pra governar porque não tem competência. A vantagem é que ele iria se compor com terceiros, o que a Dilma não quer fazer.

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Acha que houve excesso na condução coercitiva e no pedido de prisão de Lula?

Andrea Mendonça, 44, servidora federal - Outros foram conduzidos e não houve polêmica. O Moro é totalmente apartidário e está fazendo o papel dele.

Eliane - Pode ter tido excesso, uma coisa precipitada, mas, nas condições da Polícia Federal, se não agisse no momento, não teria se resolvido. Pode ter sido irregular.

Valdevino Guilherme Barbosa, 59, aposentado - Não sou especialista, mas li sobre e acho que teve exageros no pedido de prisão. Mas tenho certeza que ele é culpado: o tríplex, a fazenda, é tudo dele. Só precisam provar antes.

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O que acha das reformas, por empresas investigadas na Lava Jato, do sítio frequentado por Lula e do apartamento atribuído a ele em Guarujá?

José Souza, 62, aposentado - Tem que pagar do bolso dele, assim como pago do meu.

Edenei Molina, 52, engenheiro - Ninguém em sã consciência admite que uma casa possa ser reformada por alguém e ser usada por outro sem benefício nenhum.

Cláudio Akamine, 40, consultor de informática - É influência de grupos econômicos sobre a política. Se não for ilegal, é imoral.

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Como vê a hipótese de uma volta de Lula à Presidência com as eleições de 2018?

Sérgio - Ele vai espernear o grande povão lá do Nordeste todo que é beneficiado pelo Bolsa Família, capaz de botá-lo lá em cima. Mas quem tem noção do que está acontecendo não vai votar nele.

Andrea - Eu prefiro morrer a ver isso.

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Como você avalia o papel da oposição na crise?

Maria José Guimarães, 58, vendedora - Os partidos da oposição não estão na oposição. Quem está lá quer salvar a própria pele, porque está todo mundo condenado. Todo mundo é corrupto.

Andrea - Eles estão com a faca e o queijo na mão e não fazem nada. Se isso acontece é porque têm muita coisa por trás também.

Tiago - A oposição está com a gente, com o povo. A gente vê muita gente chamando na internet e nos jornais, convocando o povo a participar.

Josué - Uma piada. PSDB é um PT de direita. Os outros partidos só querem fazer coligação com o que estiver no governo. O Aécio é um preguiçoso, ele está se aproveitando pra aparecer.

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Qual líder político seria o melhor para tirar o país da crise?

Edson Souza, 38, gerente comercial - Estamos sem um grande líder político. Talvez a PF poderia ajudar. O [Jair] Bolsonaro parece ser bom. Ele parece ser mais próximo de um [Donald] Trump.

Miriam Caldeira, 70, aposentada - Eu diria José Serra. O Alckmin acho muito bom, mas muito contido. O Aécio também é de expressão, mas um pouco novo para enfrentar uma situação dessas.

Caroline Moraes, 20, assistente administrativa - Não acho um líder político a melhor opção, acho que se os militares comandarem isso, como já ocorreu antes, seria a melhor opção para melhorar tudo e depois fazer uma nova democracia.

Sid Ortiz, 52, empresário Só tem o Bolsonaro, mas seria melhor o Exército.

Andrea - Por ora, não vejo ninguém. Vamos tirar o PT e, se precisar, PSDB também.

Tiago - Hoje, quem eu gosto muito é o Bolsonaro, sou fã. O Joaquim Barbosa também é uma figura apta.

Lailson - O juiz Sergio Moro. Não sou pessimista, mas estou desesperançado em relação aos políticos.

Ana Carolina - Nenhuma. Essa pessoa está longe de ser o Aécio Neves.

Valdevino - Eu gosto do Alckmin. Ele passa segurança, firmeza.

Entrevistas e fotos feitas por Ana Luiza Albuquerque, Antonio Dominguez, Carolina Muniz, Rodrigo Menegat, Guilherme Caetano, Mariana Freire, Luisa Leite, Guilherme Zocchio, Júlia Zaremba e Luiza Olmedo


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