Folha de S. Paulo


Investigado na Zelotes diz que não autorizou lobista a praticar corrupção

Em depoimento à ação penal da Zelotes na Justiça Federal em Brasília, o ex-presidente da MMC Automotores Paulo Ferraz afirmou que jamais deu autorização para o lobista Mauro Marcondes praticar qualquer ato de corrupção para aprovar uma medida provisória do interesse da empresa.

A MMC, representante da Mitsubishi no Brasil, firmou contrato de R$ 16 milhões para que a consultoria do lobista, a Marcondes e Mautoni, atuasse junto aos órgãos públicos pela aprovação de uma MP que concedia benefícios fiscais ao setor automotivo.

Paulo Ferraz disse em juízo que, embora tenha contratado a Marcondes e Mautoni, não acompanhou de perto quais métodos Mauro Marcondes usou durante a prestação do serviço. Acrescentou que, do montante previsto em contrato, a MMC pagou cerca de R$ 5 milhões num primeiro momento –R$ 4 milhões mais impostos– e o restante diluído em cinco anos.

"Mauro me informou que ia trabalhar basicamente junto aos ministérios, isso que ele me informou. Aqui (em Brasília), eu nem sei nem sabia em qual porta bater (para pleitear a aprovação da medida)[...] Eu perguntava a ele como ia o processo, e ele só me dizia 'está indo bem, está indo bem", justificou Ferraz.

Marcondes e outros lobistas, como Alexandres Paes dos Santos, conhecido como APS, e José Ricardo da Siva, são acusados de participar de um esquema de compra de medidas provisórias que interessavam às montadoras.

De acordo com o ex-presidente da MMC, que deixou o posto em março de 2010, a empresa fechou com Marcondes por se tratar de um profissional com 50 anos de experiência na área automotiva.

Ferraz foi perguntado por seu advogado se acredita que o lobista tenha lançado mão de práticas espúrias em nome da MMC, mesmo sem autorização. O executivo, que estava visivelmente incomodado durante o depoimento, pediu um tempo para respirar e respondeu:

"Peraí que tenho que maneirar...Só se ele fosse burro para jogar os 50 anos fora. Acho um absurdo que eu esteja aqui. Nunca esteve nos nossos planos corrupção", afirmou, em tom de desabafo.

Por orientação de sua defesa, Paulo Ferraz não respondeu aos questionamentos do Ministério Público Federal. O procurador Herbert Mesquita, porém, pediu a palavra para fazer um comentário a respeito dos argumentos do depoente.

"Pagando R$ 16 milhões num contrato de resultado para prorrogação da lei, um homem tão experiente e tão vivido, sabendo que a prorrogação passa por Câmara, Senado e etc..., ele (Ferraz) deu esse cheque em branco, sem se preocupar de que meios ou métodos essa pessoa lançaria mão", analisou.

Outros dois réus no processo, o ex-diretor de Comunicação do Senado Fernando Cesar Mesquita e o lobista Francisco Mirto, que trabalhava em parceria com Marcondes, também foram interrogados nesta quinta-feira, mas preferiram permanecer em silêncio.

LOBISTAS

Os principais lobistas acusados de participação no suposto esquema de compra de MPs já prestaram depoimento à Justiça nos últimos dias, entre eles Mauro Marcondes, Alexandres Paes dos Santos e José Ricardo da Silva.

Ouvido na terça (8), Paes dos Santos, o APS, deu sua versão sobre o manuscrito apreendido pela Polícia Federal em que estão registrados números e siglas que reforçariam a suspeita de pagamento de propina a parlamentares.

Como a Folha revelou, num papel anexado ao inquérito, lê-se o número "45" e, ao lado, as seguintes referências: "15 - GA"; "15 - RC"; e "15 - RJ". Investigadores suspeitam que se trate de pagamento de propina ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ao senador Romero Jucá (PMDB-RR) e ao ex-senador Gim Argello (PTB-DF).

APS disse no depoimento que se tratava de um boato que tinha ouvido em São Paulo, sobre a compra de emenda para a MP 512, que concedeu benefícios ao setor automotivo.

"Isso aqui foi o boato que eu ouvi em São Paulo e fiz a anotação. Estavam dizendo em São Paulo que teria que se pagar R$ 15 milhões para cada um dos parlamentares. É tão absurdo que eu até risquei aqui", afirmou.

Ele não explicou a origem do boato. "Ninguém pagou a esses parlamentares nada", disse.

De acordo com o lobista, ele foi avisar sobre o boato ao advogado José Ricardo da Silva, com quem trabalhava em parceria, e que o ex-servidor da Receita Federal João Gruginski teria ouvido também o relato.

Gruginski já afirmou em depoimento que tinha presenciado uma reunião em que APS relatava o pedido de propina.


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