Folha de S. Paulo


Governador tucano nomeia suspeito de crimes para chefiar polícia de GO

Sérgio Lima-12.jun.12/Folhapress
BRASÍLIA, DF, 12.06.2012: O governador de Goiás, Marconi Perillo chega para depor na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) no Senado Federal, destinada a investigar práticas criminosas de Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, e agentes públicos e privados, desvendadas pelas operações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal. (Foto: Sergio Lima/Folhapress)
O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB)

O governador tucano Marconi Perillo decidiu manter a nomeação do tenente-coronel Ricardo Rocha, 42, para o comando do policiamento de Goiânia, apesar das recomendações feitas pelos Ministério Público Federal e Estadual de Goiás. Rocha é acusado de integrar um grupo de extermínio formado por PMs e é investigado por ao menos 15 assassinatos.

Um dos crimes atribuídos a Rocha será analisado por júri popular no dia 23 de junho, dez anos após a acusação. Ele ainda é alvo de investigações da Força Nacional de Segurança, ligada ao Ministério da Justiça, da Polícia Civil e da Polícia Federal.

Em pedido encaminhado ao governo, promotores e procuradores alegaram que a nomeação do militar é um "incentivo para excessos e violência policial." O governo alega que não há nenhuma condenação contra Rocha.

O tenente-coronel foi escolhido para assumir o comando da capital no dia 29 de fevereiro de 2016, durante a troca de nomes do alto escalão em meio à crescente onda de violência em Goiânia. Em cinco anos, o número de homicídios na capital goiana cresceu 15,4%, segundo o governo.

Candidato a deputado estadual em 2010 pelo PRP, Rocha adotou o slogan "tolerância zero contra o crime". Acabou derrotado em outubro daquele ano, quatro meses antes de ele e outros 18 PMs serem presos pela Operação Sexto Mandamento, da PF, suspeitos de integrar grupo de extermínio no Estado. Ficou nove meses detido.

Há cinco ações penais e cinco inquéritos abertos para investigar Rocha. Na maioria dos casos, ele é acusado de matar alguém desarmado ou sem condições de reagir.

CRIMES

Segundo as investigações, os casos envolvendo Rocha se referem a morte de pessoas que tinham antecedentes criminais. Em uma dessas ocorrências, ele é suspeito de ligação com o desaparecimento, em fevereiro de 2010, de dois jovens suspeitos de furtos em propriedades rurais da região de Alvorada do Norte.

"A investigação, até quando estava sob a esfera da polícia de Goiás, apontava a atuação do mesmo grupo (policial). Um dos denunciados de maior patente é o tenente-coronel Ricardo Rocha, que, à época, era major e comandante do Batalhão de Formosa", diz o coordenador do Grupo de Controle Externo da Atividade Policial (Gceap) do MP-GO, o promotor de Justiça Giuliano Lima.

Coordenador do Centro de Referência em Direitos Humanos em Goiânia, ligado ao Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, Eduardo Mota teme que a designação do tenente-coronel para o cargo de comandante de policiamento da capital viole direitos de pessoas nas abordagens de pessoas nas ruas da capital. "A prática da 'tolerância zero', a qual o próprio Ricardo Rocha é adepto, historicamente tem gerado mais agravamento da violência", afirmou Mota.

DEFESA

Advogado de Rocha, Tadeu Bastos Roriz afirma que todos os atos envolvendo seu cliente nas ações penais "foram praticados no exercício da função e em defesa da sociedade." "Entre a sociedade e o bandido, está o policial como escudo", assevera.

O governador Perillo ressaltou que o tenente-coronel não tem nenhuma condenação. "Ricardo Rocha é um comandante oficial, operacional. Ele ficou alguns meses em Caldas Novas e conseguiu melhorar demais as estatísticas de violência, homicídio e criminalidade. Durante todo o tempo que esteve em Caldas Novas, não ouvimos nenhuma reclamação. Pelo contrário, só elogios, em relação à capacidade operacional dele", afirma.


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