Folha de S. Paulo


'Querem ligar o meu filho ao PSDB', diz mãe do juiz Sergio Moro

Marquinhos Oliveira/Câmara Municipal de Maringá
Crédito: Marquinhos Oliveira/Câmara Municipal de MaringáLegenda: Odete Moro, mãe do juiz Sergio Moro, é homenageada durante evento na Câmara de Maringá
Odete Moro, mãe do juiz Sergio Moro, é homenageada durante evento na Câmara de Maringá

Aos 70 anos, a professora aposentada Odete Starke Moro, mãe do juiz Sergio Moro, foi surpreendida por um grupo de manifestantes pró-Lula durante evento em que seria homenageada na Câmara Municipal de Maringá, no Paraná.

No inicio da tarde desta quarta-feira (9), Odete falou à Folha, por telefone, sobre a noite anterior. Ela era homenageada durante uma sessão solene que marcava o Dia Internacional da Mulher, pelo trabalho social que realiza na Igreja Católica. Ao ter o nome citado, um grupo de militantes do PT e da CUT passou a gritar palavras de ordem em apoio ao ex-presidente Lula e ao Partido dos Trabalhadores. Alguns a vaiaram.

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Folha - A manifestação de ontem, com vaias à senhora e apoio ao ex-presidente Lula, afetou a senhora de alguma forma?

Odete Moro - De jeito nenhum. É normal. Eles são fiéis, são pessoas idealistas. A maior parte era ligada à universidade [UEM, Universidade Estadual de Maringá] e, segundo o que me falaram, pessoas ligadas ao grupo deles [Iraídes Baptiston, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos de Maringá, e Zica França, diretora da mesma entidade sindical, ambas filiadas ao PT] também estavam entre as homenageadas da noite e teriam sido vaiadas [por militantes antipetistas]. Eu não ouvi [essas vaias], mas eles resolveram me vaiar também. Não me afetou em nada. Eu tenho certeza absoluta de que meu filho está fazendo um trabalho certo. Vaias de algumas pessoas não vão me afetar de forma alguma.

No momento da manifestação, a senhora segurava um ramalhete de flores, apontando para o grupo que a vaiava.

Saudei-os com as flores. O trabalho de meu filho é muito superior a esta manifestação. É compreensível. São pessoas que são ligadas ao PT que estavam ali, as duas homenageadas são ligadas a sindicatos. Tudo bem. Eu acho que eles têm toda a liberdade para se manifestar dessa forma.

Um dos motivos da homenagem é o seu trabalho em grupos da Igreja Católica.

Eu trabalhei muito com o Lar dos Velhinhos [entidade mantida pela Igreja Católica de Maringá]. Atualmente, meu grupo está promovendo bingos para arrecadar dinheiro. Porque é uma instituição que necessita. Procuro me envolver nesses trabalhos. Sou aposentada, tenho tempo disponível e tento ajudar em alguma coisa.

A superexposição do trabalho que seu filho tem desenvolvido alterou de alguma forma sua rotina?

De forma alguma. Sou uma pessoa normal, comum, como qualquer outra e tenho que conviver com isso aí. Se ele está exposto na mídia, isso não me afeta em nada. Como mãe, estou sujeita a manifestações como a de ontem. Minha vida é bem ocupada.

A senhora usa algum esquema de segurança?

De maneira alguma.

Manifestações como a de ontem já haviam ocorrido anteriormente?

De hostilidade não, foi a primeira vez. Mesmo aquelas pessoas, embora tivessem gritado, elas não me fariam mal algum. Não partiriam para agressão. Eu pelo menos acredito nisso. Ninguém veio me hostilizar de perto. Ficaram de longe.

E manifestações de apoio ao trabalho de seu filho?

Isso sim. Sempre que sabem que sou a mãe do juiz Sergio Moro querem tirar fotos e são afetuosos comigo.

Moro ficou preocupado com o que ocorreu ontem?

Ele só ligou para saber como eu estava. Porque meu outro filho ligou e ele quis saber. Mas não teve nada que afetasse a integridade da pessoa ou que causasse qualquer transtorno emocional. Eu recebo os aplausos e as vaias [risos]. Uns gostam e outros não gostam do trabalho dele. O livre arbítrio é para todos.

Há boatos nas redes sociais de que seu marido [Dalton Áureo Moro, professor universitário morto em 2005, que lecionou geografia na UEM e no campus da Unesp em Presidente Prudente] foi um dos fundadores do diretório do PSDB na cidade. Isso tem algum fundamento?

Nunca. A atividade dele sempre foi acadêmica. Foi vice-diretor, foi chefe de departamento de geografia por várias vezes. A atividade dele era ligada ao magistério. A única vez que houve um envolvimento maior, em campanha, foi para apoiar um amigo nosso, que não era político, era professor. Todos os amigos se dedicaram à eleição dele. Foi somente isso. Meu marido nunca foi ligado à política. É que as pessoas querem ligar o Sergio ao PSDB. Só que isso não existe. Eles não se conformam e procuram todas as formas ligar ele ao PSDB. Meu marido era apaixonado pela geografia.

Como a senhora vê o reflexo que o trabalho dele tem na situação política do país?

Para te dizer bem a verdade, eu não tenho ciência do que meu filho está fazendo ou não, porque ele não me fala nada. Eu tenho acesso às informações que são publicadas em jornais, revistas e pela televisão. Acho que a situação está catastrófica. Mas, após cada catástrofe, há necessidade de alterações e modificações e provavelmente as coisas vão melhorar.

Eu tenho orgulho do meu filho, eu tenho orgulho da força-tarefa da Lava Jato, do procurador Dallagnol, de todos os demais procuradores e o pessoal da Polícia Federal. Eu acho que formam uma equipe que está trabalhando visando o bem do Brasil.

Há muitas críticas em relação à determinação de condução coercitiva do ex-presidente Lula, autorizada por seu filho. O que a senhora achou da medida?

Não tenho como opinar. Eu não entendo nada de direito. Quem deve analisar a medida são as pessoas que atuam na área.


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