Folha de S. Paulo


Investigado na Zelotes diz que não tem 'capacidade' de mudar MPs do governo

Investigado na Operação Zelotes, o advogado Eduardo Gonçalves Valadão afirmou em audiência nesta quarta-feira (9) que não tem "capacidade" para influenciar mudanças em medidas provisórias do governo federal.

"Não tenho capacidade para motivar ou para induzir qualquer pessoa ou ente público a mudar ou dar algum favorecimento", afirmou.

Valadão, que é réu em ação penal da Zelotes sob acusação de compra de MPs que beneficiaram o setor automotivo, disse que "não tenho conhecimento sequer na área tributária" nem "contato político".

Ele foi sócio do advogado José Ricardo em uma empresa contratada pelo lobista Mauro Marcondes, que representava a indústria automotiva e tentava convencer o governo federal a prorrogar MPs que davam incentivos fiscais ao setor.

Questionado sobre um e-mail em que José Ricardo, atualmente preso na Zelotes, fala de pendências de pagamentos a "parlamentares", Valadão repetiu a versão dada na terça (8) por José Ricardo, de que se tratava de uma comissão pela indicação do escritório para atuar em uma causa do então deputado João Pizzolatti (PP-SC).

José Ricardo havia dito que o ex-deputado José Janene (PP), morto em 2010, foi o autor da indicação e por isso cobrou uma comissão de 20% sobre os honorários, que seriam repassados a outros deputados.

Valadão não deu mais detalhes sobre o caso. "Essa situação era relativa a um comissionamento dado pela indicação de um cliente, coisa mais normal disso acontecer", afirmou.

O juiz Vallisney Oliveira chegou a lhe perguntar se de fato considerava normal esse pagamento. Valadão respondeu que os clientes vêm por indicação. "Sempre é uma pessoa que tem conhecimento do meu trabalho e me indica. Qualquer pessoa pode fazer isso. O fato dele ser deputado ou não, acho que não desqualifica essa indicação", afirmou.

BATE-BOCA

Ao fim da audiência, o procurador da República Frederico Paiva chegou a bater boca com os advogados dos réus.

Paiva começou a fazer comentários sobre o depoimento de Valadão e foi interrompido pelos advogados, que diziam que o procurador só poderia perguntar, sem comentários.

O advogado Roberto Podval, que defende o lobista Mauro Marcondes, levantou a voz: "Nós assistimos aqui ontem o senhor rindo da cara dos que estavam sendo interrogados. Ninguém está aqui pra ficar ouvindo risadinha do bobo do procurador", afirmou.

"O senhor me respeite", rebateu o procurador.


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