Folha de S. Paulo


Lobista preso na Lava Jato trabalhava para mais empresas investigadas

Heuler Andrey - 23.fev.16/Folhapress
CURITIBA,PR, BRASIL, 23.02.2016 - CHEGADA DE JOAO SANTANA NO PR: Zwi Skornicki e Vinícius Veiga Borin - Presos na 23 fase da Operacao Lava-Jato denominada de Acaraje deixam a sede no IML em Curitiba-PR onde realizou exame do corpo de delito. Foto: Heuler Andrey/FolhaPress PODER ***Exclusivo***
O lobista Zwi Skornicki é conduzido para exames médicos após sua prisão

Apontado como ponte entre os desvios na Petrobras e o marqueteiro João Santana, o lobista Zwi Skornicki mantinha contratos com uma série de empresas que prestavam serviços à estatal.

Na investigação da fase Acarajé da Operação Lava Jato, que prendeu Santana na semana passada, ele é apresentado apenas como representante do estaleiro asiático Keppel no Brasil, mas a atuação dele ia além.

Incluía outras empresas já implicadas em fases anteriores da operação, como a UTC Engenharia, a italiana Saipem e a Queiroz Galvão.

Além disso, o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco disse em depoimento de delação, tomado em outubro de 2015, que recebeu propina de Skornicki com origem em um contrato de cerca de R$ 100 milhões firmado pela estatal com a Technip, multinacional de origem francesa.

Barusco, que firmou um dos maiores acordos de devolução de valores da Lava Jato –US$ 97 milhões–, disse que recebeu o dinheiro referente à Technip no banco Delta, na Suíça.

Outro delator da operação, o empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, entregou no ano passado, "no bojo da investigação", de acordo com um documento da PF, cópias de um contrato seu com a empresa Eagle, de Skornicki, firmado em 2011. O contrato previa que a Eagle faria "suporte técnico/comercial" à empreiteira nas obras da plataforma P-55.

Termos parecidos constam no acordo entre Skornicki e a italiana Saipem. Um contrato de 2009 estabelece que o lobista, nascido na Polônia e também detido na fase Acarajé, auxiliaria os estrangeiros "com novas oportunidades" relacionadas aos campos de Uruguá e Mexilhão, explorados pela Petrobras.

Entre os papéis, também está uma cópia do contrato entre Skornicki e a Keppel. Ele assina por meio de uma empresa com sede no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britâncias, a Deep Sea Oil, e se compromete a assessorar os asiáticos na busca por contratos com a Sete Brasil, com comissão prevista de 1,5% sobre o valor dos negócios.

Curiosamente, o acordo tem cláusulas que vedam o pagamento de suborno e impõem contribuições a políticos somente dentro da lei.

Todos esses documentos foram apreendidos há um ano, na nona fase da Lava Jato, em que o lobista sofreu uma ação de busca e apreensão. Também naquela ação foi recolhido um bilhete da mulher de João Santana, Mônica Moura, que orientava Skornicki a fazer pagamentos no exterior.

Para os investigadores da Lava Jato, Santana recebeu dinheiro de caixa dois de campanhas eleitorais do PT por meio do lobista. A Deep Sea Oil fez pagamentos que somaram US$ 4,5 milhões à Shellbill, empresa constituída no Panamá e controlada pelo marqueteiro e a mulher, entre 2013 e 2014.

OUTRO LADO

Procurada, a assessoria de Skornicki voltou a dizer que ele vai se manifestar nos autos na Justiça. Disse ainda que ele sempre esteve no Brasil e "à disposição das autoridades para esclarecimentos".

À Justiça, na época da nona fase da Lava Jato, a defesa afirmou que ele era chamado para prestar consultoria a diversas empresas, nacionais e estrangeiras, devido à sua "larga experiência profissional" como engenheiro e especialista no setor de óleo e gás.

Também afirmou que sua evolução patrimonial é compatível com suas atividades e que nunca sofreu nenhuma autuação da Receita Federal. Questionou ainda a veracidade das informações levantadas por Pedro Barusco.

A Saipem e a Queiroz Galvão não quiseram comentar o assunto. A reportagem não conseguiu localizar representantes da Technip.


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