Folha de S. Paulo


Oposição dominicana cobra explicações sobre Santana em eleição

Thais Bilenky/Folhapress
Outdoor da campanha à reeleição do presidente dominicano, Danilo Medina, em Santo Domingo
Outdoor da campanha à reeleição do presidente dominicano, Danilo Medina, em Santo Domingo

A oposição ao presidente da República Dominicana, Danilo Medina, cobra esclarecimentos sobre o papel do publicitário João Santana em sua campanha à reeleição.

"O presidente Danilo Medina deve explicar ao país os alcances de seu vínculo" com o brasileiro, afirmou Jesús Vásquez, secretário-geral do Partido Revolucionário Moderno (PRM).

"Estamos diante de uma situação em que a figura presidencial se vê associada a alguém acusado em seu país de graves atos de corrupção, de acordo com as investigações brasileiras", notou. "O PRM solicita ao presidente que não impeça a abrangência total do processo de investigação contra seu assessor João Santana."

O publicitário assessorou Medina também em 2012, quando foi eleito presidente.

Santana e sua mulher, Mônica Moura, foram presos pela Polícia Federal nesta terça-feira (23), acusados de terem recebido US$ 7,5 milhões no exterior de Zwi Skornicki, lobista de um estaleiro que tem negócios com a Petrobras, e de offshores ligadas à empreiteira Odebrecht, que tem negócios na República Dominicana.

Quando o pedido de prisão temporária foi expedido, Santana comunicou seu desligamento da campanha de Medina e voou da República Dominicana para o Brasil, ainda na noite de segunda-feira (22).

Medina disse, durante cerimônia pública, nesta terça-feira (23), que João Santana era seu principal auxiliar."Se sua saída pode me afetar? Bom, é um assessor importantíssimo, mas a campanha seguirá adiante", declarou.

"O senhor João Santana estava na equipe da minha campanha como o assessor principal –há vários anos. [Sua atuação] foi afetada por uma alegação em seu país e ele me disse que teria de enfrentar a situação no Brasil e que se retirava da campanha."

'SENHOR ASTUTO'

A Aliança Dominicana contra a Corrupção (Adocco) defendeu uma cooperação entre os países para troca de informações. O coordenador da entidade, Julio César de la Rosa, afirmou que a Justiça brasileira deveria solicitar informações financeiras do Partido de la Liberación Dominicana (PLD), legenda do presidente, para esclarecer como foram feitos os pagamentos a Santana por sua atuação na campanha.

"É obrigação do presidente e do PLD abrir as contas e mostrar como e quanto se pagou a João Santana e de onde vieram os recursos", afirmou a deputada Guadalupe Valdez, da Alianza Electoral para el Cambio Democrático. "Essa situação grave é uma vergonha porque vincula a política a casos de corrupção."

A deputada Josefa Castillo, do PRM, afirmou que a oposição exige, "de maneira contundente" explicações. "É um senhor muito inteligente, muito astuto, com muitas habilidades. Exigimos que o presidente Medina abra a investigação, porque todo mandatário deve investigar quem lhe assessora."

ELEIÇÕES

Medina lidera as intenções de voto para a eleição presidencial, marcada para 15 de maio. De acordo com uma pesquisa da Benenson Strategy Group, o presidente tem 59% das intenções de voto, ante 32% de Luis Abinader, do PRM.

Publicado pelo jornal dominicano "Listin Diario", o levantamento foi realizado entre 29 de janeiro e 8 de fevereiro, antes, portanto, da prisão de Santana.

Segundo a pesquisa, 78% dos entrevistados consideram a gestão de Medina boa ou muito boa.

O taxista Aristides Tapia foi motivado a votar neste ano para tentar reeleger o presidente. "Não gosto de políticos, porque são mentirosos e ladrões. Mas o presidente é uma pessoa sensível, vai até os pobres e trabalha bem", justificou.

As ruas de Santo Domingo estão tomadas de outdoors dos candidatos, principalmente de Medina.


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