Folha de S. Paulo


Na volta ao Senado, Delcídio dirá que foi vítima de 'armadilha'

Pedro Ladeira-20.out.2015/Folhapress
Delcídio do Amaral em sessão no Senado em outubro de 2015
Delcídio do Amaral em sessão no Senado em outubro de 2015

"Preciso de paz para elaborar meu discurso". Foi essa a frase que o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) disse a aliados que o procuraram minutos depois que ele deixou o batalhão de trânsito da PM do DF, na noite desta sexta-feira (19), após 87 dias preso sob acusação de obstruir a Operação Lava Jato.

Advogados e interlocutores entenderam a sentença como senha para não procurar o senador pelo menos até as vésperas de terça-feira (23), quando ele pretende ir ao plenário do Senado Federal fazer uma fala emotiva, na qual vai dizer que é "inocente" e que foi "vítima de uma armadilha".

Preso desde 25 de novembro, Delcídio está recolhido na casa de amigos de sua família, em Brasília, acompanhado de sua mulher, Maika, de sua mãe, Rosely, e de duas de suas três filhas.

Ele pretende usar o fim de semana para descansar e acertar os pontos do discurso que vai inaugurar sua volta ao Congresso. Não está descartada uma coletiva de imprensa para que o petista faça sua defesa.

Em decisão proferida nesta sexta, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki decidiu soltar Delcídio, que poderá frequentar o Congresso durante o dia, mas deverá ficar em prisão domiciliar à noite e nos dias de folga. Ele também está proibido de entrar em contato com outros investigados e não poderá deixar o país –seu passaporte foi entregue pelos advogados às autoridades neste sábado (20).

Teori acolheu pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República), que, por sua vez, concordou com um recurso protocolado pela defesa no STF em 1º de fevereiro. Os advogados do senador alegavam que não havia mais motivos que justificassem a prisão dele.

Antes de sair da prisão, Delcídio foi questionado por um oficial de Justiça sobre em qual endereço permaneceria em Brasília. O senador, que podia apresentar duas opções, deu as orientações do hotel em que morava antes de ser preso e as de outra residência, para a qual se dirigiu e que a família pretende manter em sigilo.

"Tudo o que eu mais quero é estar com minha família", disse o senador, que passou seu aniversário, o da mulher e o de duas filhas na prisão.

Apesar de ter avisado a parlamentares que pretende retomar na semana que vem suas atividades legislativas, inclusive no comando da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, Delcídio deve sofrer pressão do PT para deixar o posto.

Seus colegas de partido acreditam que ele não tem mais "autoridade política" para conduzir o colegiado e que pode voltar ao trabalho, mas não em postos-chave para o PT. No início da semana, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), deve procurar Delcídio para tratar do assunto e propor que ele seja substituído na CAE pela senadora Gleisi Hoffmann (PR).

O STF decidiu prender o senador baseado em uma gravação feita por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Na conversa, um plano de fuga para a Espanha foi proposto por Delcídio, além de uma mesada de R$ 50 mil, em troca de Cerveró desistir de fazer delação premiada.

'SEM REVANCHISMO'

Segundo amigos, Delcídio disse que pretende "escrever sua história sem revanchismo", em uma espécie de livro ou diário.

Apesar da preocupação do Palácio do Planalto, a defesa do petista informou à Folha que o senador não assinou acordo de delação premiada –a informação de que não houve trato foi confirmada por três advogados e um assessor de Delcídio.

Nas últimas semanas, o senador enviou recados para auxiliares da presidente Dilma Rousseff de que, se não fosse solto em breve, poderia falar, o que assustou o núcleo do governo. Emissários do Palácio do Planalto tentavam tranquilizar Delcídio e disseram que o senador seria solto em breve.


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