Folha de S. Paulo


Um só não teria condições de fraudar merenda, diz ex-assessor de Capez

Gustavo Epifanio - 27.jan.2016/Folhapress
Jéter Rodrigues, ex-assessor do presidente da Assembleia Legislativa de SP, Fernando Capez
Jéter Rodrigues, ex-assessor do presidente da Assembleia Legislativa de SP, Fernando Capez

Em resposta ao presidente da Assembleia Legislativa, Fernando Capez (PSDB), que disse que ex-assessores podem ter usado seu nome em um suposto esquema de fraudes na merenda escolar, Jéter Rodrigues, ex-servidor do gabinete, afirmou que "um assessor qualquer não teria condições de fazer isso sozinho".

Rodrigues negou enfaticamente ter recebido vantagens pessoais da cooperativa investigada, a Coaf, e destacou que nunca esteve sob suspeita durante os 40 anos em que trabalha na Assembleia –ele é funcionário de carreira e atuou de 2013 a 2014 no gabinete de Capez, em um cargo de livre nomeação.

Segundo Rodrigues, filiado ao PSDB, um carro da Coaf foi solicitado e utilizado por alguém da equipe de Capez, mas ele diz não saber quem.

O carro teria sido emprestado próximo às eleições de 2014, o que membros da cooperativa já haviam afirmado à Polícia Civil.

Em entrevista à Folha publicada na última segunda (15), Capez disse: "Eu não pedi carro nenhum, mas não posso dizer se ele [Rodrigues] pegou ou não".

Sobre a merenda, o deputado afirmou: "Não posso responder por meus assessores [...]. É possível que tenha ocorrido [o esquema] num nível mais baixo", sem a participação de políticos.

Além de Rodrigues, outro ex-assessor de Capez, Merivaldo dos Santos, é investigado. Santos caiu em um grampo da polícia cobrando R$ 58 mil de Marcel Julio, apontado como lobista da Coaf.

Rodrigues disse que decidiu falar depois de sofrer desgaste com a exposição de seu nome, que teme perder o emprego, mas que acredita na Justiça. Leia a entrevista:

*

Folha - O sr. negociou com a Coaf usando o nome de Capez?

Jéter Rodrigues - Com certeza não, em nenhum momento. Eu recebi realmente dois funcionários da Coaf no gabinete, em agosto de 2014, porque era minha função. Eu tinha que receber a todos que ali estivessem para solicitar alguma coisa. Eles questionavam sobre uma licitação que eles haviam ganhado em 2013 mas que não tinha sido liberada para entregar os produtos. Aí, realmente eu liguei para a Secretaria [da Educação] para saber por que não tinha sido autorizado. Essa foi minha única intervenção.

Para fazer essa ligação, o sr. pediu dinheiro?

Claro que não. Minha ligação foi só para saber por que eles não tinham sido autorizados a entregar os produtos. Depois, nunca mais eu os vi.

Alguém ligado ao deputado pediu um carro à Coaf?

É bem provável que alguém tenha pedido, sim. Não fui eu. Pode ser [outro assessor].

O sr. chegou a ver esse carro, soube desse carro?

Soube, sim. Era um Gol branco. Não sei [quem o pediu]. Eu não tinha comando dentro do gabinete, eu era comandado. Eu fazia o que me pediam. Eu não mexia com pedidos de carros de campanha, porque eu não fazia parte da equipe eleitoral.

Esse carro foi usado?

Foi sim.

O sr. teme ser punido?

Espero que se faça justiça, que mostrem realmente quem fez. Tenho certeza de que não negociei e não pedi nada.

O sr. fez parceria com o outro ex-assessor, o Merivaldo?

Sobre isso, não. Eu nem sabia... Não sei se ele está envolvido mesmo ou não.

O Merivaldo é uma pessoa próxima do deputado Capez?

Sim, se conhecem há anos. Foi o Merivaldo que me indicou para trabalhar lá.

O sr. é próximo do deputado?

Olha, não sou. Eu era um simples funcionário do gabinete sem nenhum contato formal [com Capez], diferente do Merivaldo, sem dúvida.

Se comprovada a fraude no contrato com o governo, esse é um esquema que poderia ter sido feito só por assessores?

Eu acho um esquema muito grande, é coisa grandiosa. Um assessor qualquer não teria condições de fazer isso sozinho. Eu estou chateado com toda a repercussão em cima do meu nome. Tenho 40 anos de Assembleia, todos me conhecem. Achei ótimo que tenham quebrado meus sigilos porque isso vai ficar provado. Eu ando com um Palio 2001 que está penhorado. Se eu estivesse nesse esquema, não teria necessidade de andar com carro penhorado e estar pedindo empréstimo no banco.

O sr. acha que pode ser um bode expiatório?

Quero não acreditar nisso.

O sr. teme perder seu emprego na Assembleia?

Sem dúvida eu tenho medo, serão 40 anos jogados fora. Mas eu também tenho fé na Justiça, porque, para abrir um processo interno aqui, eu tenho primeiro que ser condenado lá fora, na Justiça.


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