Folha de S. Paulo


Repórteres defendem publicidade dada à investigação da Lava Jato

Bastidores da cobertura da Lava Jato

Na quarta mesa do Encontro Folha de Jornalismo, que acontece no MIS (Museu da Imagem e do Som) nesta sexta (19), jornalistas investigativos debateram os impactos e os desafios da operação Lava Jato, que apura um dos maiores escândalos de corrupção do mundo envolvendo a estatal brasileira Petrobras.

Mediado pela colunista da Folha Mônica Bergamo, o painel teve a participação dos jornalistas investigativos Mario Cesar Carvalho, da Folha, e Thiago Herdy, de "O Globo" e presidente da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).

Respondendo a perguntas da plateia, os repórteres defenderam a publicidade dada ao processo pelo juiz federal Sergio Moro como forma de impedir o uso político do caso. Para eles, até o momento, não há sinais de que a investigação seja conduzida somente para perseguir políticos do PT ou à base de apoio do governo.

No entanto, as dificuldades de apuração devido ao volume de dados disponíveis oferece risco que prejudicam o jornalismo. Segundo os jornalistas, hoje existem muitos fazendo "chutes" com informações abertas pela Lava Jato.

"São tantas informações que nem os procuradores conseguiram apurar tudo", disse Mario Cesar Carvalho. "Há muito por vir ainda."

Carvalho considerou que, mesmo assim, a Folha e alguns outros veículos já conseguem fazer apurações independentes da Lava Jato. "Com base nas informações, que são abertas pela Justiça, estamos fazendo nossa própria investigação."

Eduardo Anizelli/Folhapress
Da esq. para a dir,: Thiago Herdy, Mônica Bergamo e Mario Cesar Carvalho falam sobre a Lava Jato
Da esq. para a dir.: Thiago Herdy, Mônica Bergamo e Mario Cesar Carvalho falam sobre a Lava Jato

Thiago Herdy disse que isso também já está acontecendo em "O Globo". "Em um primeiro momento, a gente tem de noticiar o que tem no processo mesmo", disse. "Depois, colocamos as informações em um banco de dados e partimos para trabalhos próprios."

Segundo Herdy, o Ministério Público Federal está buscando na tecnologia uma forma de processamento das informações. "Querem juntar, por exemplo, imagens da portaria das empresas com as fotos das pessoas, mensagens trocadas por telefone ou texto e contas bancárias", disse.

Outra limitação para o trabalho dos jornalistas é o poder de investigação. "Existe uma romantização do trabalho do jornalista", disse Mario Cesar Carvalho. "Eu não tenho poder de polícia, não posso quebrar sigilo. Se eu cometer um crime ao fazer meu trabalho, estou jogando tudo no lixo."

Por isso, Herdy defende que "empresas privadas que prestam serviço ao governo ou empresas estatais sejam obrigadas a abrir suas informações".

Para ele, isso facilitaria investigações sobre empresas privadas que hoje, segundo revelam as investigações da Lava Jato, justificaram muito dos desvios de recursos da Petrobras via prestação de serviço.

"Durante muito tempo, a Petrobras se recusou a abrir suas informações alegando que era uma empresa de capital misto," disse Mario Cesar Carvalho. "Com base nisso, fechou contratos bilionários, como o das sondas da Schahin, que se mostraram escandalosos. Foi preciso que o TCU (Tribunal de Contas da União) obrigasse a estatal a abrir suas informações."


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