Folha de S. Paulo


STF arquiva acusação contra Aécio na Lava Jato

O ministro Teori Zavascki, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou o arquivamento de uma investigação contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) no âmbito da Operação Lava Jato.

Teori acatou pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República), que não viu consistência nas afirmações feitas pelo entregador de dinheiro do doleiro Alberto Youssef, Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como Ceará.

À Folha, Aécio afirmou que "a decisão desmascara mais uma torpe tentativa de envolver nomes da oposição no mar de lama que envolve o PT e o governo".

Em dezembro, a Folha revelou que Ceará havia dito, em sua delação premiada homologada pelo STF, que havia levado R$ 300 mil em 2013 para a sede da UTC Engenharia, no Rio.

Editoria de arte/Folhapress
Trecho do depoimento de Carlos Rocha, funcionário do doleiro Alberto Youssef

O valor foi recebido pelo diretor da empresa Antonio Carlos D´Agosto Miranda, segundo o delator, e Ceará afirmou que o executivo lhe disse que seria encaminhado a Aécio.

A PGR ouviu novamente Youssef e o então presidente da UTC, Ricardo Pessoa, sobre o caso. Ambos negaram haver qualquer quantia para o tucano.

Ambos confirmaram que Miranda recebia propina canalizada por Youssef na UTC. O diretor não foi ouvido pela PGR, que considerou a falta de indícios suficiente.

A decisão de Teori foi publicada na quarta (17). Assim como Aécio, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) também teve a citação contra si feita por Ceará arquivada.

"Para mim, essa decisão, por mais importante que seja, não é suficiente. É preciso que se investigue o que está por trás dessas falsas e criminosas citações a nomes da oposição sem indícios mínimos que as comprovem. A Lava Jato tem cumprido um papel fundamental, e sempre terá todo o apoio do PSDB", disse o tucano.

OUTROS TUCANOS

Outra citação a Aécio na Lava Jato, feita por Youssef, foi destinada ao arquivamento em março de 2015 pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), aliado de Aécio, também teve referência contra si arquivada. Ainda é apurada a acusação de cobrança de propina atribuída ao ex-presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), já morto.

A citação de Ceará de que o senador seria "o mais chato" na suposta cobrança de propina foi usada extensivamente pela blogosfera petista e governista contra o tucano.

O comitê da campanha presidencial de Aécio em 2014 recebeu R$ 4,5 milhões da UTC em doações declaradas. A campanha de Dilma Rousseff (PT), R$ 7,5 milhões.

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Leia a nota oficial do senador Aécio Neves (PSDB-MG)

Essa decisão da PGR ratificada pelo Supremo Tribunal Federal desmascara mais uma torpe tentativa de envolver nomes da oposição no mar de lama que envolve o PT e o governo e que a operação Lava Jato tem mostrado ao país.

O mesmo já havia acontecido com os senadores Anastasia e Randolfe. Não foi a primeira tentativa e provavelmente não será a última.

Mas, para mim, essa decisão, por mais importante que seja, não é suficiente. É preciso que se investigue o que está por trás dessas falsas e criminosas citações de nomes da oposição sem indícios mínimos que as comprovem e que têm o claro objetivo de confundir as investigações em curso no país.

A operação Lava Jato tem cumprido um papel fundamental na construção de um novo Brasil e, por isso, sempre teve e continuará tendo todo o apoio do PSDB e das oposições que reagirão sempre que tentativas como essa ocorrerem".

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TUCANOS NA LAVA JATO

Os políticos do PSDB que foram citados por delatores

Alan Marques - 29.set.2015/Folhapress

Aécio Neves, senador

  • Carlos Alberto de Souza Rocha, entregador de dinheiro: disse que, em 2013, levou R$ 300 mil a um diretor da UTC, que lhe disse que a soma era destinada a Aécio - Inquérito foi arquivado
  • Alberto Youssef, doleiro: disse que ouviu que Aécio teria recebido propina, por intermédio de sua irmã, de empresa contratada por Furnas, entre 1994 e 2001 - Inquérito foi arquivado
  • Fernando Moura, lobista: disse que Furnas era controlada por Aécio e que havia na estatal um esquema de propina semelhante ao instalado na Petrobras. "Um terço SP, um terço nacional e um terço Aécio", relatou

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Bruno Figueiredo - 11.dez.2013/ODIN/Folhapress

Antonio Anastasia, senador

Jayme Alves de Oliveira Filho, ex-policial federal: disse que entregou R$ 1 milhão, em Belo Horizonte, a um político "muito parecido" com Anastasia - Inquérito foi arquivado

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Alan Marques - 21.set.2012/Folhapress

Sérgio Guerra, ex-presidente do PSDB, morto em 2014

  • Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras: afirmou que foi procurado por Eduardo da Fonte (PP-PE) e Guerra para o pagamento de R$ 10 milhões para obstruir os trabalhos da CPI da Petrobras em 2009
  • Alberto Youssef: confirmou a história de Paulo Roberto Costa e afirmou que o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e Eduardo da Fonte teriam cooptado Guerra para que a CPI não fosse instalada
  • Carlos Alberto de Souza Rocha: disse ter ouvido de Youssef que, para abafar CPI sobre a Petrobras em 2009, teria que entregar R$ 10 milhões ao líder do PSDB no Congresso -à época, Sérgio Guerra

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