Folha de S. Paulo


LBV pagou lobista para reduzir taxa em conta telefônica, diz alvo da Zelotes

O jornalista Fernando Cesar Mesquita, um dos réus na Operação Zelotes, afirmou nesta quarta-feira (17), em entrevista à Folha, que o pagamento de R$ 96 mil feito pela LBV (Legião da Boa Vontade) a uma empresa do lobista Francisco Mirto destinou-se a obter revisão de cobrança que considerava indevida feita por empresas de telefonia.

Mesquita admitiu que, embora as notas fiscais tenham sido emitidas pela empresa de Mirto –a CVEM Consultoria Empreendimentos S.A.–, o trabalho foi realizado por ele.

De acordo com o jornalista, as telefônicas cobravam uma taxa extra sobre cada doação financeira realizada por telefone para a LBV, uma organização não governamental. Ela afirma que conseguiu que as empresas corrigissem a cobrança.

Conforme a Folha revelou nesta terça-feira (16), a Polícia Federal apreendeu documentos que indicam que a LBV pagou, entre março e outubro do ano passado, R$ 12 mil em oito prestações mensais à CVEM.

Os pagamentos chamaram a atenção da PF porque, segundo as investigações, as notas fiscais não seguem ordem cronológica e não fazem menção a contratos. O motivo genérico dos pagamentos era, conforme a PF, "consultoria técnica e institucional".

Mesquita, que foi diretor de comunicação do Senado, afirmou que também integra os quadros da LBV em Brasília e por isso foi acionado pela ONG para resolver a questão da taxa.

Ele disse à Folha que as notas foram emitidas pela CVEM porque ele não mantinha, na época, empresa apta a emitir os documentos fiscais. Esta é a segunda vez que Mesquita reconhece que serviços com notas da CVEM na verdade foram realizados por ele.

FORTALEZA

A PF apreendeu também na CVEM nota fiscal de R$ 25 mil emitida em setembro de 2009 para uma empresa de comunicação de Fortaleza (CE), a TV Jangadeiro. O sócio-proprietário da emissora, Jaime Machado, afirmou na terça que nunca ouviu falar de Mirto, mas que conhece Mesquita e solicitou sua ajuda para resolver uma burocracia no Ministério das Comunicações sobre a qual disse não ter os detalhes.

À Folha, Mesquita reconheceu que os R$ 25 mil se destinavam a ele, e não a Mirto, disse que não cometeu nenhuma irregularidade e que o trabalho pedido pela TV Jangadeiro não teve resultado.

Além da LBV e da TV Jangadeiro, outros clientes de Mirto, segundo documentos apreendidos pela PF, foram três empresas de energia na época controladas pelo empresário Eike Batista, que pagaram ao todo R$ 510 mil à CVEM.

A firma de Mirto, diz a PF, recebeu ao todo R$ 686 mil para "monitorar" assuntos relativos à energia no governo federal, no Legislativo e em agências reguladoras. Mesquita disse que não tem conhecimento dos serviços de Mirto na área de energia.

A defesa de Mirto afirmou na terça que não poderia comentar o relatório da PF porque não havia discutido o conteúdo do documento com seu cliente.


Endereço da página:

Links no texto: