Folha de S. Paulo


PT evita falar de defesa de Lula em reunião de conselho

Jorge Araújo/Folhapress
Lula se reúne com políticos do PT para debater sua linha de defesa
Lula se reúne com políticos do PT para debater sua linha de defesa

Apesar da crescente pressão interna do PT para o esclarecimento de denúncias envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito de imóveis que tiveram reformas pagas por empreiteiras investigadas na Lava Jato, tanto ele quanto o conselho político da sigla mantiveram silêncio sobre o tema na reunião desta segunda (15) em São Paulo.

Uma hora antes do início do encontro, o presidente do partido, Rui Falcão, divulgou uma nota enfatizando que "a ofensiva reacionária para criminalizar o PT e a escalada de ataques ao companheiro Lula" eram temas "prioritários na reunião". Ele também destacou que a ocasião serviria para expressar "solidariedade e apoio ao ex-presidente".

Integrante do conselho político da sigla, o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia, que exerceu o mesmo cargo no governo Lula, cobrou respostas para as denúncias. "Os esclarecimentos, a meu juízo, já deveriam ter vindo há muito tempo."

Ele também disse que o PT deve fazer uma "defesa enfática do presidente Lula" e destacou a necessidade de "iniciativas políticas".

"Enfrentamos um problema sobre formulação política no PT. O presidente do partido está bem, mas uma andorinha só não faz verão. Isso faz com que a população em geral e parte da militância não estejam informadas."

Depois do encontro, que reuniu nomes como o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, os governadores petistas Wellington Dias (Piauí), Camilo Santana (Ceará) e Tião Viana (Acre), Falcão recuou e afirmou que as denúncias não foram abordadas. "Não tratamos desse assunto".

Lula é alvo de duas ações paralelas. A força-tarefa da Lava Jato investiga o uso de um sítio, em Atibaia, pelo ex-presidente, que teria reformas pagas por empreiteiras investigadas na operação.

O Ministério Público de São Paulo também investiga se o ex-presidente ocultou a propriedade de um triplex em Guarujá, no litoral paulista, reformado pela OAS. Lula vai depor nesta quarta (17) na condição de investigado no caso do tríplex.

Segundo a Folha apurou, alguns integrantes do partido acham melhor esperar o petista aprofundar sua defesa, para então o partido fazer uma defesa pública dele.

Embora tenha dito que o caso Lula não foi discutido, o presidente do PT, em entrevista após o evento, voltou a defender o ex-presidente e disse que as denúncias são "infundadas".

"O sítio tem escritura, nome de proprietário, e o proprietário faculta a visita a este sítio a quem ele quiser. Principalmente ao ex-presidente Lula, com quem um dos proprietários praticamente foi criado", disse, referindo-se a Fernando Bittar, um dos donos do sitio, segundo o cartório.

Na reunião do Instituto Lula, na sexta passada (12), as denúncias que rondam o ex-presidente também foram evitadas. A socióloga Maria Victoria Benevides disse que as suspeitas estavam afetando a honra do ex-presidente.

Segundo participantes, ele respondeu que não discutia assuntos pessoais em reuniões do partido e do instituto.

'CAÇA CONSTANTE'

Nesta segunda, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, saiu em defesa de Lula afirmando que ele é alvo de uma "caça constante". "É uma caça a uma liderança nacional. Poderia ser uma caça aos bandidos, mas nesse caso é uma caça praticamente constante."

No sábado, um dia depois de uma conversa com Lula, a presidente Dilma Rousseff declarou que o petista é vítima de "grande injustiça".

Colaboraram GUSTAVO URIBE e MARINA DIAS, de Brasília


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