Folha de S. Paulo


Ex-assessor de Capez recebeu de lobista, admite advogado

Gustavo Epifanio - 27.jan.2016/Folhapress
Jéter Rodrigues, que trabalhou no gabinete do Fernando Capez na Assembleia Legislativa de São Paulo
Jéter Rodrigues, que trabalhou no gabinete do Fernando Capez na Assembleia Legislativa de São Paulo

O advogado de um lobista da cooperativa Coaf, que fraudava contratos de merenda escolar em São Paulo, afirmou à Folha que seu cliente pagou um percentual sobre um contrato com a Secretaria Estadual da Educação a um ex-assessor do deputado Fernando Capez (PSDB), hoje presidente da Assembleia Legislativa.

Em depoimento à polícia, ex-dirigentes da cooperativa acusaram Capez de também receber propina do esquema da merenda.

Segundo o advogado Luiz Fernando Pacheco, representante do lobista Marcel Ferreira Julio, que está foragido, o ex-assessor Jéter Rodrigues atendeu Marcel no gabinete de campanha de Capez, em 2014, e ofereceu o serviço de "consultoria comercial" junto à secretaria do governo Geraldo Alckmin (PSDB).

"O Jéter recebeu valores e forneceu recibos. A conversa foi só com o Jéter. Não me cabe especular se o Jéter estava falando ou não em nome de outras pessoas, se o dinheiro que ele recebia ele repassava para alguém", disse Pacheco.

Os recibos, segundo o defensor, foram emitidos por Jéter de próprio punho e serão entregues aos investigadores.

O advogado afirmou ainda que a Coaf, por meio de seu cliente, deu um freezer de presente ao ex-chefe de gabinete da Casa Civil Luiz Roberto dos Santos, o Moita, que estava abrindo um bar em Mongaguá (litoral paulista) no final do ano passado.

O regalo, de acordo com o advogado, foi um agradecimento por Moita ter conseguido acelerar o registro de um documento da cooperativa na Junta Comercial.

"O Moita é antigo no PSDB, o Marcel o conhece há anos. O Moita fez isso por mera liberalidade, não teve pedido de propina. Foi uma gentileza", disse Pacheco.

Funcionários da Coaf já haviam dito à polícia que Moita interferiu na Junta para favorecer a entidade.

A Coaf precisava com urgência arquivar a ata de uma assembleia para liberar um pagamento de R$ 1,2 milhão feito pelo governo. Pelos depoimentos, o trâmite na Junta levou quatro dias.

Procurada, a Junta Comercial, ligada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado, confirmou que o procedimento foi feito em quatro dias, mas afirmou não ver indícios de favorecimento.

Moita também já caiu em um grampo da Polícia Civil em que orientava a Coaf sobre como aumentar os ganhos no contrato com o governo.

RELAÇÃO COM ASSESSOR

Marcel é apontado pelos ex-dirigentes da Coaf, que já prestaram depoimento, como o agente que atuava junto ao governo do Estado em favor da cooperativa.

Quando a Operação Alba Branca foi deflagrada, em 19 de janeiro, ele teve prisão temporária decretada, mas não foi localizado.

Segundo seu advogado, o lobista estava em viagem de férias com a família.

Pacheco pediu à Justiça que reconsidere a decisão de prender Marcel, sob o argumento de que ele já não pode interferir nas investigações, para então apresentá-lo.

De acordo com o advogado, Marcel foi contratado pela Coaf para intermediar negócios com órgãos públicos, "atividade perfeitamente lícita".

Em 2013, a cooperativa havia vencido uma chamada pública –sem licitação, como permite a lei em caso de agricultura familiar– para fornecer R$ 8 milhões em suco de laranja para a rede estadual.

Após o início da produção da encomenda, o governo decidiu cancelar o contrato, trazendo prejuízos à cooperativa. Para resolver o problema, a Coaf contratou Marcel.

"Marcel chegou a ir no escritório de campanha do Fernando Capez [em 2014]. O Jéter [à época assessor do deputado] falou: 'Aqui pelo gabinete não tem como resolver, mas eu posso resolver se você me contratar'."

RECIBOS

Jéter, segundo o advogado Pacheco, foi contratado e assinou diversos recibos referentes a "consultoria comercial", que iam de R$ 4.000 a R$ 23 mil.

Em 2014, a Educação realizou uma nova chamada pública, em que a Coaf novamente sagrou-se vencedora. Dessa vez, o contrato, de R$ 8,5 milhões, foi assinado.

OUTRO LADO

Funcionário de carreira na Assembleia Legislativa e assessor do deputado Fernando Capez (PSDB) de abril de 2013 a dezembro de 2014, Jéter Rodrigues negou, na semana passada, ter recebido pagamentos. Procurado novamente nesta quarta (3), ele não foi localizado.

Anteriormente, Jéter admitiu à Folha que foi procurado pelo lobista Marcel Ferreira Julio para ajudá-lo a destravar um contrato com a Secretaria da Educação, mas negou irregularidades. O ex-assessor disse ainda que Capez nunca lhe pediu nada.

Capez reafirmou, por meio de sua assessoria, que "repudia com veemência a menção infundada de seu nome no escândalo Alba Branca".

Disse também que contribuirá para esclarecer os fatos e punir os culpados.

O ex-chefe de gabinete da Casa Civil Luiz Roberto dos Santos, o Moita, não foi localizado pela reportagem.

Segundo o secretário da Casa Civil da gestão Alckmin, Edson Aparecido, o governo pediu à Corregedoria que apure a conduta de Moita. "Se ele fez algo irregular, foi completamente por conta própria."


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